Criptoativos: do ceticismo ao otimismo
O que parecia uma moda passageira consolidou-se como uma revolução tecnológica, que moldará nosso futuro
Por muito tempo, a percepção pública sobre criptoativos foi dominada pela desconfiança.
Para muita gente, o termo “cripto” evocava apostas especulativas, ferramentas para lavagem de dinheiro e uma moda passageira alimentada por entusiastas da tecnologia.
O colapso espetacular de plataformas como a FTX, em 2022, intensificou essa visão negativa, consolidando a imagem de um setor instável e desordenado.
No entanto, ao fim de 2024, essa narrativa parece ter mudado.
Este ano marcou um ponto de inflexão, revelando o potencial transformador dos ativos digitais.
Apesar de ainda encontrar resistência por parte de muitos céticos, o setor começou a pavimentar o terreno para um otimismo cauteloso em 2025, que pode se estender para o futuro.
Um Ano de Transformação
O desempenho dos criptoativos em 2024 contrastou fortemente com os anos turbulentos anteriores.
Após um período de recuperação em 2023, o setor emergiu como um símbolo de resiliência e inovação.
E não estou só me referindo às altas nos preços: avanços regulatórios concretos ajudaram a redefinir a percepção pública e institucional sobre o setor.
Entre os destaques do ano, a crescente adoção de índices de referência como o Nasdaq Crypto Index (NCI) desempenhou um papel central.
O NCI, representado no Brasil pelo maior ETF de cripto da bolsa, o HASH11, demonstrou a maturidade e a amplitude do ecossistema cripto, indo muito além do Bitcoin.
Enquanto o Bitcoin consolidou sua posição como uma reserva de valor emergente — um “ouro digital” em ascensão — plataformas como Ethereum e Solana ampliaram suas teses de contratos inteligentes, alimentando ecossistemas que impulsionam desde finanças descentralizadas (DeFi) até a tokenização de ativos.
O que mudou em 2024?
O ano testemunhou quatro importantes modificações no cenário dos criptoativos. São elas:
- Participação institucional: a aprovação de ETFs de Bitcoin e Ethereum à vista nos Estados Unidos foi um divisor de águas. Grandes gestores de ativos adotaram esses produtos, registrando captações recordes e os validando como investimentos legítimos. Surpreendentemente, os ETFs de cripto nos EUA já superaram, em volume e ativos sob gestão, os ETFs de ouro, reforçando a relevância da tese para o mercado financeiro.
- Avanços regulatórios: a regulamentação MiCA na Europa trouxe clareza, estabilidade e confiança para o setor. No Brasil, o DREX — novo framework do Banco Central baseado em blockchain — ganhou destaque global, sendo aclamado como uma das arquiteturas mais inovadoras do mundo. Reguladores ao redor do globo começaram a abandonar o ceticismo em favor de abordagens construtivas, criando um ambiente mais seguro e previsível para investidores e empresas.
- Progresso tecnológico: inovações em escalabilidade, eficiência energética e novas funcionalidades transformaram as possibilidades das blockchains. Aplicações práticas, que vão desde a digitalização de tudo que é de valor até protocolos descentralizados de identidade digital, solução fundamental (e urgente!) em um mundo assolado pelas “fake news” e “deep fakes” gerados por inteligência artificial são cada vez mais viáveis e prometem refundar a internet da forma que conhecemos.
- Contexto macroeconômico: em um ano de inflação persistente, impressão descontrolada de moeda e incertezas econômicas, os princípios fundamentais do cripto — descentralização e transparência — ganharam força. O Bitcoin se firmou como uma reserva de valor alternativa viável, enquanto plataformas de contratos inteligentes criaram eficiência e inclusão financeira por meio de stablecoins, que figuram entre as prioridades das agendas regulatórias globais.
Otimismo para 2025 e além
Embora ainda cercado por incertezas, 2025 começa a mostrar os primeiros sinais de um mercado em alta, apoiado pelos avanços concretizados em 2024.
Entre os fatores que moldarão esse cenário, talvez o mais consequencial seja a vitória de Donald Trump nos EUA, agora um defensor declarado do setor cripto.
Apesar de sua eleição ser vista como positiva, o que realmente merece destaque é o consenso bipartidário na Câmara e Senado americanos sobre o potencial de cripto como solução para desafios tecnológicos, econômicos e sociais.
Os legisladores eleitos no final de 2024 possuem clareza, em grande maioria, que o setor cripto não é um inimigo, mas sim um provável contribuidor para o crescimento do PIB, geração de riqueza e competitividade global.
Esse progresso é fruto de esforços coordenados, liderados principalmente pelo Vale do Silício, para educar profundamente os então candidatos, sobre o potencial da tecnologia e abrir caminho para o surgimento de regulação de qualidade.
O resultado dessa iniciativa candidato a candidato pode ser conferido no site “Stand with Crypto”.
E, com isso, a narrativa em torno de cripto passou por uma transformação significativa em 2024.
O que antes era marcado por ceticismo agora revela caminhos claros de validação e possibilidades concretas.
No entanto, como em toda mudança de paradigma, é crucial abordar essa nova era com discernimento.
Para a maioria dos investidores, a exposição à classe de ativos deve ser feita de forma responsável, idealmente por instrumentos regulados, como ETFs ou fundos, com uma posição inicial moderada (1% a 5% do portfólio) e um horizonte de longo prazo — cinco anos no mínimo, idealmente mais.
O que parecia uma moda passageira consolidou-se como uma revolução tecnológica, que moldará nosso futuro, criando soluções antes inimagináveis.
O caminho, no entanto, não será linear e terá altos e baixos.
Caberá ao investidor decidir qual papel deseja desempenhar nesse mundo em transformação.
Afinal, como o mercado tem demonstrado, ignorar cripto tem se revelado uma decisão extremamente custosa.
Marcelo Sampaio é fundador e CEO da Hashdex
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