Chineses na Ucrânia: voluntários ou soldados profissionais?
Dois militares capturados estavam em uma unidade maior, com seis chineses

A questão mais delicada nas discussões sobre os dois chineses encontrados lutando com as forças russas na região de Donetsk, na Ucrânia, é se eles estavam lá como voluntários ou como soldados profissionais, enviados pela ditadura da China.
Depois que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky denunciou a presença de dois chineses na Ucrânia, a China se apressou para afirmar que eles teriam se juntado ao Exército russo por conta própria.
"O governo chinês sempre pede aos cidadãos chineses que se mantenham longe de zonas de conflito, evitem se envolver em qualquer forma de conflito armado e, especialmente, se abstenham de participar de operações militares de qualquer parte", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, em uma coletiva de imprensa.
"O lado chinês está verificando informações relevantes com o lado ucraniano", disse Lin Jian.
Segundo o chanceler ucraniano, Andrii Sibiha, os dois são considerados militares porque "são soldados do Exército ocupante".
Resta agora esclarecer se eles têm experiência militar.
Brigadas internacionais
Conflitos que mexem com valores universais e que permitem uma distinção fácil entre o lado agressor, injusto, e o lado atacado, correto, costumam motivar pessoas do mundo inteiro.
Na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, ficaram famosas as Brigadas Internacionais.
Ao ver que o fascista Francisco Franco invadia a Espanha com ajuda de tropas marroquinas, ameaçando a República espanhola governada pela esquerda, mais de 60 mil pessoas, de 53 nacionalidades, viajaram para a Espanha para ajudar os republicanos.
Desde o início da invasão da Ucrânia, há três anos, estima-se que voluntários de cerca de 70 países, incluindo do Brasil, lutaram ao lado das forças ucranianas.
O problema é que esse padrão visto no passado só poderia ser aplicado no atual conflito se os chineses estivessem lutando ao lado dos ucranianos.
Não há voluntários do lado russo.
Ao se deparar com a morte de milhares de soldados russos no campo de batalha, o ditador Vladimir Putin obrigou jovens russos a irem para a guerra e ofereceu essa possibilidade para prisioneiros comuns.
Putin também ofereceu pagar para mercenários sírios e chechenos para lutar no conflito.
Mas nenhum deles foi para a Ucrânia de maneira voluntária. Ou eles foram por obrigação, ou por dinheiro.
Seis chineses
O fato de que os dois chineses estavam em uma unidade organizada com seis chineses pode ser um indicativo de um envolvimento maior da ditadura de Pequim, ainda que as autoridades do Partido Comunista não admitam isso.
Outra possibilidade é que eles seriam aventureiros, que acabaram sendo unidos em uma única unidade para facilitar a comunicação.
Há alguns dias, um correspondente do jornal francês Le Monde, na China, entrevistou um caminhoneiro chinês de 37 anos que foi lutar na Ucrânia, mas acabou sendo ferido por um drone e voltou para casa.
"Eu só queria ir para algum lugar", disse o caminhoneiro na entrevista, ao tentar explicar sua aventura.
O jornal Le Monde identificou cerca de 40 contas de chineses nas redes sociais que afirmam ter se alistado nas forças russas.
Muitos deles eram ex-soldados do Exército de Libertação da China, e estavam no país sem trabalho.
Todos partiram para a guerra por iniciativa própria, chegando na Rússia como turistas.
Inteligência
Outra possível explicação é que esses chineses seriam militares regulares enviados para a Ucrânia para coletar informações sobre o conflito.
Com o uso intenso de drones, mísseis balísticos e hipersônicos, a guerra atual na Europa pode render reflexões importantes para uma possível invasão chinesa da ilha de Taiwan, no futuro.
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Comentários (2)
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
2025-04-10 11:28:20Devem ser tão voluntários quanto os milhares de chineses que lutaram na Guerra da Coréia.
Sergio De Senna
2025-04-10 06:44:01Será que a China tem interesse em tornar a Rússia mais forte?