Faz o “M”, de Milei ou Macri?

Assim como no Brasil, com Bolsonaro e Marçal, a Argentina vive uma contestação pela liderança da direita
30.08.24

Não é apenas no Brasil que existe uma tensão na direita. Na vizinha Argentina, o presidente Javier Milei entrou em conflito com o ex-mandatário Mauricio Macri, que contribuiu para duas derrotas do governo no Congresso neste final de agosto. Primeiro, no dia 21, o ex-mandatário mobilizou 20 dos 49 deputados de seu partido, o Proposta Republicana (PRO), para votar contra uma medida provisória que aumentava o orçamento na área de inteligência. No dia seguinte, 22, foi a vez de senadores do PRO votarem a favor de uma proposta de lei da esquerda para aumentar as aposentadorias, em choque com a política de austeridade da gestão libertária. Nesta ocasião, Macri se desvinculou da votação e criticou seus senadores no X. Milei então o alfinetou: “Se considero sua publicação, significa que ele não sabe manejar a tropa”. De fato, o PRO havia votado com a base governista na Câmara, em favor do projeto de lei.

Nos bastidores, Milei e Macri tentam apaziguar a relação. Segundo a imprensa argentina, o presidente e o ex-mandatário mantém a cordialidade nas conversas de Whats App — o libertário usa o pronome “usted”, marca de formalidade, para se referir a Macri. A dupla também jantou duas vezes no palácio presidencial, em Olivos, ao norte da cidade de Buenos Aires, na última semana. A primeira janta teve milanesas, prato favorito de Macri. Segundo o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, os dois buscaram “melhorar a coordenação” entre seus blocos. O PRO, que não integra a base governista, é fundamental para Milei avançar com a sua agenda. Os libertários sozinhos têm apenas 37 de 257 deputados e 7 de 100 senadores.

Macri se aproximou de Milei em especial desde o segundo turno das eleições presidenciais de 2023, quando o PRO passou a apoiar o então candidato. Com experiência de duas décadas na política e um partido estabelecido, o ex-presidente passou a servir de padrinho político do novato Milei, que entrou na política em 2021. A influência de Macri no governo é incontestável, com seus aliados em dois dos ministérios mais importantes. Ex-presidenciável do PRO, que acabou em terceiro em 2023, Patricia Bullrich é ministra de Segurança Pública, mesmo cargo que ocupava no governo Macri, entre 2015 e 2019. Outra reprise do macrismo é o ministro Luis Caputo na Economia. Para agrado de Macri, Caputo tem sido importante em desencorajar Milei de abolir o peso e fechar o Banco Central. Essas foram duas das propostas mais marcantes da campanha libertária.

O conflito pela liderança da direita, como toda disputa política, sempre remete às eleições. “Macri ainda se considera ativo na política. Então, não pode mimetizar Milei, para poder se apresentar como uma alternativa no futuro, em uma eleição ao Senado ou talvez à Presidência”, diz o cientista político Orlando D’Adamo, da Universidade de Belgrano. A própria elegibilidade de Macri está em jogo nos embates com Milei. Por exemplo, a derrubada da medida provisória que aumentava os recursos na área de inteligência atrasa o avanço das quatro investigações criminais das quais o ex-presidente é alvo.

As eleições de meio de mandato, previstas para o ano que vem, já são palco de embate direto entre libertários e macristas. Quem encabeça o esforço para aumentar a base libertária no Congresso a partir de 2025 não é Milei. São as duas figuras mais importantes de seu governo. Trata-se da secretária da Presidência e irmã do presidente, Karina Milei, e do assessor especial Santiago Caputo, sobrinho do ministro da Economia. Em abril, Karina conduziu a cerimônia de fundação do diretório de Buenos Aires do novo partido de Milei, La Libertad Avanza, homônimo da coalizão vitoriosa de 2023. Assessores de Macri afirmaram em reservado à imprensa argentina que “o problema” do ex-presidente é com o círculo próximo de Milei. A relação com o atual mandatário seria todavia “muito boa”.

A situação na Argentina, com a direita no poder, é mais sutil do que no Brasil. A ascensão do coach Pablo Marçal (PRTB) nas eleições de outubro à prefeitura de São Paulo perturbou o bolsonarismo. Eduardo e Carlos Bolsonaro vinham descredibilizando Marçal em prol do candidato oficial de Jair na disputa na capital paulista, o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Acontece que Nunes não é bolsonarista, por mais que sua campanha o aconselhe a sê-lo. E quem sabe disso é o próprio ex-presidente, que não compartilhou em suas redes o primeiro vídeo de apoio à candidatura de Nunes. Em menos de duas semanas de conflito, Carluxo anunciou, nesta quinta, 29, a paz com Marçal. A saia justa de Jair nas eleições em São Paulo é apenas o começo. Inelegível até 2030, o ex-presidente pode ver Marçal ou outro bolsonarista fora de seu controle ser competitivo em 2026. Tudo sempre remete às eleições.

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  1. Milico nada estrategista. Infelizmente, como dizia o barão do Itararé que de onde menos se espera é de lá que não vem nada mesmo, Bolsonaro é isso aí. Carisma e espírito patrimonialista 10, inteligência zero

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