Diogo Zacarias/MFAvalanche de memes sobre Fernando Haddad é algo que deve ser levado a sério

Memes de Haddad atacam o coração da política econômica petista

Imagens extravasam sentimentos que antes estavam reservados às elites empresariais, financeiras e políticas
19.07.24

Entender como as pessoas consomem política é um grande desafio. Sabe-se que, de maneira geral, a movimentação do Congresso e do governo não é um assunto prazeroso. O noticiário é majoritariamente crítico, o tom é fiscalizatório e muito apaixonado. Nesse sentido, compreende-se que, fora a militância, dedicar tempo para a política representa uma espécie de custo para o cidadão comum, que deixa de fazer coisas mais prazerosas, como assistir a uma série ou ficar com a família, para saber se o governo está ou não se comportando com seriedade em relação às metas fiscais.  

Mas, em democracias, os políticos dependem dos eleitores, pois o voto é o principal elemento de solução de disputas entre grupos (a outra alternativa seria a guerra). Para orientar o voto, é necessário que as pessoas consumam conteúdo político, nem que seja a contragosto. Não por acaso, o governo gasta tanto com comunicação institucional — eufemismo para o marketing oficial —, e o fundo público para campanhas partidárias só cresce. Encontrar formatos que chamem a atenção das pessoas para conteúdo político vale ouro (quase literalmente).  

Os memes são um desafio sob qualquer aspecto que se olha a questão. Alcançados pela discussão teórica apenas recentemente, são definidos como expressão de uma cultura popular eletrônica, resultado da ultra democratização proporcionada pelas redes sociais, movimento de comunicação espontânea, forma de enquadramento político (tradução enviesada ou não da realidade) e até como instrumento revolucionário, papel que o humor e a sátira sempre cumpriram.  

A grande avalanche de memes sobre Fernando Haddad e a busca de mais arrecadação é algo, portanto, que deve ser levado a sério. Em última instância, as mil e uma retratações do ministro da Fazenda como detentor de uma sanha arrecadatória irrefreável, combinada com outra disposição para gastar sem limites do presidente Lula, podem ter um efeito deletério para o governo até maior do que uma manifestação popular na avenida Paulista com meio milhão de participantes. Isso porque um movimento popular pode ser facilmente capturado pela oposição, minando sua credibilidade junto aos eleitores não alinhados, e uma maré de memes tem potencial de criar um novo senso comum.  

Trata-se de um revés na política de comunicação lulista de comunicação. Desde o início do ano, o governo tem se esforçado para falar com o público conservador e religioso, inclusive alternado o slogan oficial para “Fé no Brasil”. Pela última pesquisa Quaest, esse trabalho, aliado ao estreitamento do relacionamento entre autoridades e líderes de diversas denominações evangélicas, tem dado resultado. Entre fevereiro e julho, a rejeição do governo nesse público caiu de 62 para 52%.  

A maré de memes cria, agora, outra frente de combate, talvez pior do que a outra, porque revela um sentimento de insatisfação mais geral, menos nichado e alimentado por fatos. Em maio, o governo anunciou que a arrecadação cresceu 10,46% em termos reais (já descontada a inflação) em relação ao mesmo mês de 2023. É muito difícil imaginar um movimento tão brusco a não ser em contextos drásticos, como um cenário de guerra, que exige a mobilização total de uma população para bancar a sua defesa.  

Mesmo com esse crescimento extraordinário, no sentido de que não é um evento corriqueiro, a Instituição Fiscal Independente (IFI), uma entidade de acompanhamento das contas públicas, anunciou nesta semana que o país precisa bloquear 57,7 bilhões de reais neste ano para que o governo consiga ficar no zero a zero fiscal.  

Mais do que uma brincadeira da internet, os memes sobre Haddad, ou Taxad, como diz um deles, é um extravasamento, uma tradução das preocupações fiscais que antes estavam reservadas às elites empresariais, financeiras e políticas para o universo do cidadão comum e, mesmo que indiretamente, revela seu desacordo com a premissa máxima dessa gestão de que o Estado aloca melhor as riquezas do que a sociedade e, por isso, é preciso arrecadar muito mais. Nesses termos, a sátira, embora engraçadinha, ataca o coração da política econômica petista.  

 

Leonardo Barreto é cientista político e sócio da I3P Risco Político

 

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  1. Melhor esperar memes mais eloquentes a caminho, pelo pior que vem chegando, com a sanha arrecadatória da reforma tributária, abrindo as portas do inferno que trouxe de volta o L de Luladrão ao povo brasileiro…

  2. O Lula é claro em suas falas, condicionando cortes de gastos à sua percepção de necessidade , o que contribui pra reforçar o interesse do governo em arrecadar mais. Daí , só nos resta apreciar os memes do Taxad

  3. Com tantos humoristas de viés esquerdista e eles não conseguiram rebater os memes do Taxxad. Acabou a criatividade Duvivier? Velhos e bons tempos do Porta dos Fundos. Hoje intragáveis.

  4. A pecha que lula colou no governo FHC era mentirosa mas, de certa forma, « pegou ». Os memes do Haddad, pelo contrário, são verdadeiros e espero que « peguem e grudem ».

  5. Os memes são ótimos, criativos e divertidos. Mostram a imbecilidade do governo que só pensa em gastar, roubar, mentir, enganar e distribuir miséria. Não sentem o menor remorso em causar desemprego. Esse é o maior objetivo de governo corrupto e de esquerda: criação de bandos de desempregados, dependentes de auxílios e adoradores de falsos lideres.

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