ReproduçãoCarro de Nir e Noa Baranes, atingido por por míssil do grupo terrorista libanês

Precisamos falar sobre o Hezbollah

Apesar da atenção dada ao Hamas desde os atentados de 7 de outubro, o grupo terrorista libanês é um perigo muito maior
12.07.24

Um casal de israelenses foi atingido em um ataque de dezenas de mísseis do Hezbollah na terça-feira, 9 de julho, nas Colinas de Golã, ao norte de Israel. Nir e Noa Baranes tinham 46 anos e morreram logo após o carro deles ser totalmente destruído. Eles deixaram três filhos. O episódio integra uma série de ofensivas do grupo terrorista libanês contra o Estado judeu desde o atentado terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro do ano passado. Desde então, o Hezbollah tem lançado múltiplos ataques para distrair as defesas de Israel em solidariedade ao grupo palestino, que luta na Faixa de Gaza. Apenas no dia 4 de julho, o grupo libanês disparou mais de 200 mísseis. Hoje, Hezbollah e Israel estão em uma guerra não declarada, mas que, a qualquer momento, pode virar um conflito aberto, de maiores proporções.

O Hezbollah ampliou as investidas na última semana em resposta ao bombardeio israelense que matou um dos mais importantes comandantes do grupo, Muhammad Naser, no dia 3. A retórica contra Israel foi inflamada e o grupo divulgou dois vídeos com imagens de bases militares e instalações israelenses captadas por drones enviados pelo grupo. Foi uma maneira de amedrontar os israelenses. Entre os possíveis alvos estava o porto de Haifa, o maior do país. Ainda nesta semana, um integrante da cúpula do Hezbollah afirmou na televisão que o grupo não deveria recuar, apesar dos avanços recentes em tratativas de cessar-fogo entre Israel e um quase desmobilizado Hamas. A mensagem é de que uma derrota do Hamas na Faixa de Gaza não será capaz de conter uma escalada de violência ao norte.

O Hezbollah é muito maior e mais estruturado que os terroristas da Palestina. Fundado em 1985, dois anos antes do Hamas, e também em reação a Israel, o grupo terrorista libanês conta hoje com pelo menos 20 mil combatentes e 20 mil reservistas. A guerra em Gaza não impactou muito esses números, com menos de 500 mortes de militantes confirmadas até meados de junho. Em comparação, o Hamas, que tinha 30 mil membros ao início do conflito, perdeu ao menos cerca de metade. Quanto ao arsenal do Hezbollah, estimativas de junho apontam em 150 mil a 200 mil foguetes e mísseis de diversos alcances. Um relatório de 2018 do think tank Center for Strategic and International Studies chegou a apontar o grupo terrorista libanês como “o ator não estatal mais fortemente armado do mundo”.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que “nenhum lugar em Israel” estaria “seguro”, em caso de uma guerra aberta entre o grupo, durante pronunciamento oficial divulgado em 19 de junho — na esteira da morte de outro comandante em bombardeio israelense. “O Hezbollah realmente pode mandar um míssil direto para Tel Aviv ou Jerusalém e gerar baixas civis grandes”, diz Anita Efraim, coordenadora de comunicação do Instituto Brasil Israel. Claro, o grupo terrorista libanês não é forte o suficiente para destruir Israel, mas já se provou resistente em diversos combates contra o Estado judeu desde a década de 1980. Mais recentemente, entre julho e agosto de 2006, o Hezbollah e Israel entraram em guerra aberta, que nunca se encerrou oficialmente.

A probabilidade de uma guerra aberta é baixa. O Hezbollah tem interesses estratégicos em preservar sua situação no Líbano, onde é uma das principais forças no Parlamento nacional. Uma guerra mais ampla poderia colocar em xeque a posição de poder do Hezbollah no Líbano.

O Irã, que financia, treina e arma o Hezbollah, também não tem interesse em ampliar o conflito. O país está passando por mudanças internas na política, e quer evitar um cenário de maior instabilidade. Com o aiatolá Ali Khamenei em idade avançada (86 anos), Teerã começa a se preparar para uma troca no seu principal cargo, o de líder supremo. E o novo presidente, Masoud Pezeshkian, acaba de ser eleito, após a morte de Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero.

O Hezbollah, contudo, continua sendo um perigo para Israel e para o resto do mundo. Durante décadas, o grupo se envolveu no planejamento de atentados em diversos países, até mesmo na América do Sul. A Justiça da Argentina recentemente reafirmou conclusões das autoridades locais de que o grupo terrorista participou de dois atentados antissemitas no país. Primeiro, em 1992, o ataque a bomba à embaixada de Israel em Buenos Aires, que resultou em mais de 20 mortos. Depois, outro atentado a bomba, desta vez à sede da associação judaica Asociação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994. Mais de 80 pessoas morreram e outras 300 ficaram feridas na ocasião. Um dos autores desse último atentado vivia em Foz do Iguaçu, no Brasil. Seus integrantes vivem e frequentam a região da Tríplice Fronteira. No final do ano passado, dois membros do Hezbollah foram presos no Brasil. Segundo investigação da Polícia Federal eles estavam monitorando judeus em Goiás e no Distrito Federal para planejar possíveis ataques. No total, cinco brasileiros já teriam sido recrutados.

Apesar de não estar tanto no holofote da imprensa do Ocidente, o Hezbollah segue presente e forte. Primeiro, porque nunca foi alvo de uma ofensiva militar e de inteligência, como ocorreu com o Hamas, com a Al Qaeda ou o Estado Islâmico. Em segundo lugar, porque sempre contou com a ajuda generosa do Irã, um país produtor e exportador de petróleo. Deter o Hezbollah não deve ser apenas um objetivo de Israel, mas de todo o mundo civilizado.

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  1. Como bem dito, Hezbollah não é Hamas e não será possível eliminá-lo. Essa é uma guerra que será conveniente Israel não começar

  2. Quem conhece Foz do Iguaçu sabe da quantidade de muçulmanos que vivem por lá e do perigo real de termos células do Hamas ou Hezbollah naquela região.

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