Polícia Civil do Pará via Fotos PúblicasVocê não acha maconha nas melhores casas do ramo, porque não há e nem pode haver “casas do ramo” de venda de maconha

Acenda e puxe — mas não prenda nem passe

Doravante, é permitido portar o que é proibido comprar. Que os deuses da Democracia me perdoem, mas... ficou meio esquisito, não ficou?
28.06.24

Venho de saber que o STF, aquele coven de pessoas excelentes, magníficas mesmo, que nos dias de muito calor exsudam democracia e amor junto com o suor, e nos de frio esfregam as mãos enquanto ostentam a severidade saudável dos grandes guardiões, esse pessoal lindo, eu dizia, achou que tá tudo bem as pessoas andarem por aí “portando” maconha. Aliás, um dos preclaros foi mais longe e deixou claro que, por ele, não só a maconha, mas toda e qualquer outra das chamadas “substâncias entorpecentes” pode ser portada por aí sem problemas. É o tipo da notícia que me deixa meio espantado, e o espanto mostra o quanto envelheci: está entranhado em mim o medo antigo, que vem da adolescência nos anos 80, de ser pego pela polícia com maconha ou qualquer outra substância dita entorpecente.

O fato é que a gente – os adolescentes dos anos 80 – tinha muito medo de ser surpreendida com as parangas ou os “cigarrinhos de artista” num bolso da calça ou da camisa, ou até dentro do tênis (a polícia andava pelas ruas com cães farejadores; o chulé ajudava a enganar o faro dos pastores-alemães). A juventude e os tiozões prafrentex hodiernos doravante andarão bem mais descansados do que nós andávamos lá por 1985. Sorte deles.

Digressão (eu sempre faço uma digressão; hoje acho que vou fazer mais de uma): o verbo “portar” está certinho quando o assunto é maconha, documento, cheque, promissória, pastinha 007, medalhinha da Santa, camisa aberta no peito, colarzão grosso de ouro ou passaporte e convite para palooza legalista em Lisboa, já que “portar” quer dizer “trazer consigo, transportar, trajar”. Já não é tão bem usado quando se fala em “portar deficiência física”, porque rara é a deficiência que tem conserto, que pode deixar de ser levada daqui pra lá por quem a tem, ou entregue a outrem.

Voltando ao assunto, eu, que não sou um tiozão prafrentex, o que eu achei mais curioso nessa permissão, ou nesse “por mim, sem problema” de se sair por aí com maconha no bolso ou na bolsa, é o fato de que maconha é um produto cuja venda é proibida. Você não acha maconha nas melhores casas do ramo, porque não há e nem pode haver “casas do ramo” de venda de maconha. Não pode haver maconharias, empórios da ganja, cafés da marola ou casas chamadas Santa Erva. O que o ramo oferece, no máximo, são bocas de fumo ou biqueiras. Que não são muito receptivas à avaliação da clientela: a gerência delas sempre encrenca com quem faz perguntas demais. Acho que o Guia Michelin ia ter dificuldades para distribuir suas estrelinhas pelas biqueiras do país.

Mas, enfim, aí está: doravante, é permitido portar o que é proibido comprar. Que os deuses da Democracia me perdoem, mas… ficou meio esquisito, não ficou? E tem outra: fiquei me perguntando se, depois dessa decisão, não seria possível portar, sem problemas nem sanções, outras coisas cuja venda é proibida. Tipo armas de fogo, ou a maioria dos explosivos e substâncias químicas perigosas. Já que vale para a maconha… Mas o amigo sabe como é: mente vazia, oficina do canhoto.

* * *

Outra digressão: eu queria saber o que quer dizer esse sufixo paloozaque agora a gente anda pondo atrás dos nomes dos nossos reluzentes, dos nossos fulgurantes homens públicos para indicar algumas de suas meritórias atividades.

De início me fascinou o som da palavra: fiquei um tempo andando pela casa falando em voz alta e irritando família e animais de estimação: palooza, palooza, palooza, e a verdade é que começou a me escorrer um tantinho de baba de um canto da boca, e a voz foi ficando empastada e pegando aquele tom que a gente de vez em quando associa aos bêbados, sabe como é?, aquele tom de bobão: paloooooooza, palooooooza. Ou até de cachorro uivando, por que não? Palooooooooza. Bom, acabei descobrindo que palooza é uma gíria americana (ou estadunidense, como diriam os mais estudiosos) usada para – vou traduzir do dicionário em que li – “descrever uma festa ou evento grande, extravagante, de arromba, da pesada”.

Ora, diga lá o amigo se não é o tipo de coisa que casa bem, muito bem, à maravilha mesmo, com o espírito público dos nossos homens públicos. Vai como uma luva: uma luva da pesada, uma luva de arromba. Paloooooooza.

 

Orlando Tosetto Jr. é escritor

 

As opiniões emitidas pelos colunistas não necessariamente refletem as opiniões de O Antagonista e Crusoé

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Vá ver quem aprovou esta marmota estava chapado com skank ... o chiqueiro logo será o país das drogas, dos lombrados já é faz tempo.

    1. p.s. --- ao ser abordado pela "puliça" o Zé da Lombra pode dizer simplesmente . VOU APERTAR mas NÃO VOU ACENDER AGORA .. e manezada numa nice anestesiada pela sativa bosta de jumento.

  2. Pois é , será que o PToffoli vai ditar regras pra cadeia de produção da erva? E quais seriam as quantidades máximas para usuários das demais drogas? Abriu-se a porta do inferno

Mais notícias
Assine agora
TOPO