Adriano Machado/CrusoéA

Um general contra o fisiologismo

Acostumado a combater guerrilhas no Congo e gangues no Haiti, um oficial da reserva do Exército com experiência em conflitos é escalado para comandar a relação do Palácio do Planalto com os parlamentares. A Crusoé, ele disse que assumirá em missão de paz
30.11.18

Às 11h06 da manhã da última segunda-feira, um tuíte do presidente eleito Jair Bolsonaro surpreendeu até mesmo aliados próximos. Ele anunciava, pela rede social, que o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz fora escolhido para o cargo de ministro da Secretaria de Governo. A notícia pegou de surpresa inclusive integrantes do núcleo militar do futuro governo, que estranharam um general na pasta responsável pela articulação política com o Congresso Nacional. Sergio Moro, o futuro ministro da Justiça, queria Santos Cruz como secretário nacional de Segurança Pública. Ele já tinha sido até anunciado como ocupante do posto por um dos filhos do presidente eleito. Mas Bolsonaro pediu passagem. E preferiu alojá-lo dentro do Planalto, com a missão de endurecer o jogo contra o fisiologismo historicamente reinante na relação do palácio com os parlamentares.

Santos Cruz é amigo de Bolsonaro há mais de 40 anos. Os dois se conheceram no quartel. Foram pentatletas juntos. O general não tem experiência na área política. Seu histórico de trabalho é restrito à área militar, onde comandou importantes missões de paz da ONU, a Organização das Nações Unidas. A primeira foi no Haiti, entre 2006 e 2009, período marcado por intensos confrontos entre militares do país e forças rebeldes. O segundo, em 2013, quando já estava na reserva e foi reincorporado ao Exército para chefiar a missão de pacificação da República Democrática do Congo, na África, assolado pelo maior conflito armado do mundo desde a Segunda Grande Guerra, com 6 milhões de mortos. O homem escalado para lidar com o Congresso a partir de janeiro, portanto, é alguém acostumado a lidar com guerrilhas — e com o caos. Significa?

O general estava em Bangladesh, país com fuso horário de oito horas a mais do que o Brasil, quando Bolsonaro o contatou para comunicá-lo da decisão. Ele já havia conversado com o presidente eleito em Brasília, onde mora, antes de viajar para o país asiático. No encontro, o futuro presidente colocou na mesa as duas opções, a Secretaria de Governo e a Secretaria Nacional de Segurança Pública, mas deixou claro que ainda refletiria sobre o assunto. A missão foi finalmente comunicada ao futuro ministro por meio de uma mensagem de WhatsApp.

Mateus Bonomi/Agif/FolhapressMateus Bonomi/Agif/FolhapressSantos Cruz, o general: agora, ele diz que demandas de parlamentares são legítimas
Pouco depois, o anúncio estaria estampado no Twitter de Bolsonaro. Entre os integrantes do alto escalão do futuro governo que se mostravam surpresos com a notícia, estava o vice-presidente eleito, o general reformado Antônio Hamilton Mourão. “Também fui surpreendido. Secretaria de Governo geralmente é de gente mais da política”, afirmou o vice, igualmente contemporâneo de Santos Cruz na caserna. Nos bastidores, ele chegou a se queixar da escolha. Não demorou para que a decisão de Bolsonaro passasse a ser vista por aliados da área política como arriscada — e como uma sinalização de esvaziamento do poder do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, alvo de críticas generalizadas de parlamentares dos mais diversos partidos.

O próprio Bolsonaro sinalizou esse esvaziamento. Em entrevista ao site Poder360, ele disse que indicou Santos Cruz porque Onyx não conseguiria “dar conta” sozinho. “Quando você fala de 600 parlamentares, não tem como um cara sozinho dar conta disso. Pelo menos nas terças, quartas e quintas, vai ter pelo menos uns 20 para falar com ele lá. E não é só falar. É falar e dar uma resposta. Ele não daria conta do recado. Ele queria matar no peito. Mas não vai matar no peito. É sem condições”, disse.

Na primeira conversa telefônica com Santos Cruz, o presidente eleito admitiu que ainda não sabia quais os limites das funções do futuro ministro da Secretaria de Governo. Também deixou explícita a falta de definição em outra entrevista na terça-feira. “Nós estamos em um time. Todo mundo tem de jogar a bola para frente”, declarou, para em seguida ressaltar, sem muita convicção, que Onyx ficará no comando da articulação política.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéOnyx: poder esvaziado?
Nas horas seguintes, o presidente eleito falaria mais sobre o general que será ministro da Secretaria de Governo. “É uma pessoa que vocês vão se surpreender no trato com parlamentares. Santos Cruz sabe como funciona o Parlamento”, declarou, ressaltando as qualidades do escolhido, como falar “mais de um idioma”.

Nos próximos dias, Santos Cruz conversará pessoalmente com Bolsonaro em Brasília. É quando ele pretende entender melhor qual será sua missão. O general antecipou em uma semana o retorno de Bangladesh. O encontro com o presidente eleito deverá ocorrer na próxima terça-feira, 3. Enquanto os dois não fazem o ajuste fino, o futuro ministro da Secretaria de Governo tenta ser diplomático e afastar a impressão de que tratará os parlamentares com o rigor com que combatia inimigos nas frentes de batalha no Congo ou nas vielas violentas do Haiti. “Todo parlamentar, não interessa o partido, se é investigado ou não, é eleito. Tem que dar atenção para todo mundo igual”, disse a Crusoé, em conversa por telefone. “Essa atenção a quem é eleito pelo povo é obrigatória. Ele (parlamentar) está representando o povo”, emendou.

Santos Cruz acrescenta que não pretende começar a trabalhar com “preconceito na cabeça”. “A gente sabe que existem muitas coisas que a população reprova. Mas não pode partir da premissa de que todo pedido é imoral. Você tem que escutar e procurar dar atenção dentro de dois princípios: o da legalidade e o da publicidade. Sair desses dois princípios não dá.” A missão é de paz, mas certamente os fisiológicos não terão vez com o general da reserva.

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  1. Santos Cruz é especialista em combate não na articulação política, vai atuar fora de seu perfil.Acredito que Bolsonaro o quer por perto, além de colega e amigo ele trás segurança e é isso que o futuro presidente precisará.

  2. Ao enfrentar as feras, tem que ter garantias que a coisa vai funcionar em prol do Brasil e não em prol de um grupelho. Se não for assim, vamos botar o bloco na rua, com força para ter mudanças. Ou muda, ou muda!

  3. Bolsonaro está mostrando ser um excelente estrategista, a aulas na academia o fez ser assim. Ele está sendo muito coerente, surpreende até aqueles que se dizem próximos dele.

  4. Pc. É preciso combater o fisiologismo e o clientelismo nas FFAA. Elas não pertencem às pessoas que servem ou serviram a elas. Olho vivo nos "filhos de, casados com, amigos do" infiltrados por seus parentes ou amigos nas FFAA.

    1. Concordo. Livre-se agora, há tempo para outra indicação.

  5. Bela escolha de Bolsonaro o general Santos Cruz. Acredito que iremos nos surpreender. O general é homem belicoso, acostumado ao combate com as diferentes forças inimigas e sabe gerir bem as suas tropas à vitoria. Certamente com o Ônix Lorenzoni fará uma segura articulação junto aos parlamentares aprovando os PLs. na sua integralidade e conseguiremos, se Deus quiser, como Nação e vamos ocupar o nosso lugar como uma das Nações mais fortes do Brasil. Bora lá ser feliz.🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧

  6. Com relação a Renan Calheiros se trata de uma serpente ou uma raposa velha e viciada na conjuntura política de um Senado Nacional que ele ajudou a macular. Mesmo que va ocorrer a renovação no Senado com a saída de uns e chegada de outros, a velha Raposa vai querer a presidência da casa e tentar se armar contra Sérgio Moro é a lava jato. Tomara que Sérgio Moro pegue ele assim que der. Com relação ao general Cruz o homem imporá respeito coisa que falta, por enquanto a Ônix Lorenzoni.🇧🇷🇧🇷🇧🇷

  7. Quero ver certas figuras do Congresso terem a cara de pau de fazer certos pedidos ao general Santos Cruz. Quando o militar, depois de cumprimentar o indigitado, fechar a cara e disser "Pois não, Vossa Excelência pode falar", o cara perde o tesão e vai embora.

    1. Se não borrar as calças também. Acho que deveriam falar com o General de fraldão, pra não passar mais constrangimentos.

  8. O Fisiologismo em Brasília,assim como a Malária no Congo é endêmico e cerceador.Seu controle local é "sine qua non" para o combate efetivo .O General tem "cacife" para o enfrentamento.

  9. Estou duplamente escandalizado em somente agora saber, pelo Antagonista, que o Congo teve uma guerra civil com 6 milhões de mortos, recentemente. Bela mídia temos nós!

    1. 6 milhões, confirmado compadre Antonio. Dá uma pesquisada.

  10. Imagino a simpatia e o carisma aquele olhar direto e fulminante que ele vai dar ao político com certeza na próxima vez o diálogo terá uma pauta mais importante.

  11. Mais um sonho realizado! Até hoje, enorme maioria de políticos não ia lá apenas para “pedir” algo de interesse do país, ou para beneficio do povo na região representada e sim “exigir” cargos pra apaniguados e todo tipo de vantagens pessoais. E sempre de queixo pra cima! E quando contrariado, subindo na mesa, rodando a baiana e chutando o balde, se não atendido no ato! A partir de Janeiro vamos ver se corrupto terá peito de por banca e bronca, com estrelado “especialista” em lidar com bandido!

  12. Sob os critérios de legalidade e publicidade, senhor ministro, todos os pedidos receberão sua total atenção... Falou tudo! Desde já, receba os aplausos e a gratidão dos brasileiros decentes e muito esperançosos!!!

  13. Até agora ,Bolsonaro está surpreendendo positivamente , quanto à escolha da equipe de ministros à auxiliar no comando do Brasil, se compararmos de onde viemos, estamos anos luz à frente da equipe anterior onde cada um agia de forma diferente e à meu ver , completamente equivocada, sendo que só coincidiam na esquerdopatia, o que somente trouxe problemas e infortúnio ao nosso povo , tornando quase inviável o país mais rico do planeta, sem ufanismo.

  14. Entendi bem o que está acontecendo. Vcs já viram a cara do general? Agora imagine-o negociando com os partidos tendo em mãos os trunfos que o governo terá em mãos após as devassas que promoverá nos ministérios, em que as cartas que estarão na mesa serão as das falcatruas perpetradas justamente por esses partidos piratas. Será que aqueles que ameaçarem votar contra os projetos do governo vão conseguir encarar de frente essa "carinha linda", que tem no bolso, além disso, a figura do Moro?

  15. Interessante o apelido do General, é "Chuck Norris ".Acreditamos que os políticos que possam insinuar qualquer proposta (s) ilícitas,deverão pensar várias vezes ,antes de mencioná-las. KKKkkkkkk...

  16. O Capitão, ao que tudo indica, tem um campo de visão e uma mentalidade que nem os que são próximos a ele consegue acompanhar. Ele consegue visualizar além do óbvio. Acredito que ele não revelou tudo que planeja. É como se estivesse pra fazer um movimento no tabuleiro de xadrez que ninguém consegue enxergar. Apenas ele.

  17. Acho que o Mourão seria mais adequado ao cargo, mas, acredito que Bolsonaro tenha visto algo que não vimos. Vamos acompanhar e torcer.

  18. Muitos ainda duvidam que Bolsonaro vai conseguir fazer as reformas sem o toma lá dá cá,creio que com transparência e postando nas redes o que é preciso vai ter o apoio da população e esses parla mentares serão precionados por nós o povo, uma maneira nova de governar e com as pessoas certas a frente não vai dar errado se Deus quiser

    1. Bolsonaro representa o Brasil que vai dar certo. Os parlamentares devem apenas ser o portador dos reclamos dos eleitores de cada um. Adeus corrupção, o toma lá dá cá, os pixulecos. É o anseio de cada brasileiro e da nova geração. Não importa se eles são militares, foram eleitos por aqueles que não querem voltar às associação criminosa do PT, PSDB, MBD e outros. Vejo a luz no fim do túnel...

  19. Deve ser mais fácil combater guerrilheiro na África do que ouvir esse bando de vagabundos e ladrões que temos aqui. Boa sorte pra ele, vai precisar

    1. Concordo. Esses políticos brasileiros, com honrosas exceções, são da pior qualidade.

  20. O interesse público legítimo é a bússola do homem público. Atendimento sem descriminação ideológica é o alicerce da paz. SE agir com isenção e decoro o General também s erá surpreendido pelos parlamentares. A grande maioria deles quando agem mal , agem por serem obrigados a seguir o " andor ". A corrupção só se alastra quando um corrupto distribui cargos e tem poder na administração.

  21. Será hilário, o nosso melhor PITTBULL "conversando" com os corruptos. A tarefa me parece muito simples, quando o politico entrar em seu gabinete, bastará ele colocar a 765 sobre a mesa e perguntar. O mesmo você quer conversar comigo? Assunto resolvido, CORTE TRAMONTINA

    1. A planta só cresce em terreno fértil. Se os honestos tiverem vez na administração não haverá corrupção. Pelos nossos costumes políticos/administrativos quem não pratica corrupção não tem voz na administração. Quem nomeia é quem escolhe entre corruptos e honestos.

  22. bem, uma baita novidade.....quero ver o Renan, o Maia e outros vagabundos com conversinha de espera trem com esse general....kkkkkkkkkkkkkkk Bolsonaro sinalizou com terá saco para atender esses caras........

  23. Uma vantagem que está na cara, desse general, é a comunicação não verbal da sua aparência. Aquela boca com a linha dos lábios num desenho em curva de meia-lua pra baixo é a expressão típica de cartoon pra mostrar alguém emputecido. Ele tem cara de mau humorado e isso é ótimo pra broxar políticos pidões e cagões por natureza.

  24. Só quero ver se vai ter algum parlamentar ou lobista, de ter há coragem de chegar para o general e pedir àqueles favorzinho que todos nós já conhecemos!!! Rsrsrsrs.......Pago para ver a reação do general!!!

  25. O General já deu a resposta do que vai ser sua liderança. O deputado foi eleito pelo povo e vai ser respeitado, mas tem que trabalhar para o povo e isso nunca foi feito. O legislativo só trabalhou para si próprio, agora tem liderança para exigir o trabalho em favor do povo. Simples demais. O General vai orientar os signatários do nosso voto.

  26. Com o sobrenome Santos Cruz, não se pode esperar outra coisa que não a paz na política. Agora, com esse sorriso largo mostrado na foto, quero ver se os político se sentirão compelidos a propor indecências fisiológicas... kkkkk

  27. O toma lá, dá cá, chegou a um ponto que inviabiliza o país. Sim é uma realidade, porém há de se ter aparadas sua arestas do mal.

  28. Começo a ler a reportagem conduzido pelo título. É sempre assim. Como ocorre em bons livros a narrativa amadurece com temas que me levam à reflexão. Qdo. percebo que volto algumas vezes em citações as quais não vejo coerência, meu subconsciente já sinaliza. Novo comando: Sinto-me impelindo e volto lá no título e confirmo, que a reportagem é assinada pelo Gadelha.

  29. Me lembro com respeitável lembranca do Cel. Helio Lemos. Simples. sem adornos, como os ternos do socialista FHC, as chanchadas de Lula e as bermudas de banho de Dirceu, o rabinho de cavalo de Paulo Coelho, e o porre no restaurante portugues de Dilma, sem a dancinha Africana de Mercadante, agora a coisa é séria. O Gen. da reserva tem um nome, Santos Cruz.

    1. Me empolguei na lembranca e repeti, mas tudo bem, ele . o Helio Lemos, merece todas as lembrancas, lembrancas e mais lembrancas.

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