Foto: Adriano Machado/O AntagonistaO ministro da Fazenda Fernando Haddad: falso passe de mágica ao tentar tributar compras da China

O comunismo morreu e o fantasma é fascista

A farsa da esquerda lulista, que trata Putin e Jinping como se fossem alunos de Marx, torna a tal democracia do amor uma piada soturna
20.04.23

A poção mágica para fazer o arcabouço (que Bonifácio Sobrinho chama de cala boca) fiscal é o ai-jesus do discurso populista: “pobre vai pagar menos imposto e rico vai ser tributado”, o que não tem acontecido com muita freqüência nesta Pindorama da privilegiatura estatal. O falso passe de mágica anunciado pelo candidato a taumaturgo Fernando Haddad concentrou-se na anunciada isenção tributária de produtos comercializados entre pessoas físicas chinesas e brasileiras por até US$ 50 (cerca de R$ 250 no câmbio que flutua sem casco nem teto algum).

O anúncio contava com a conveniência da ausência do chefão chefiando robusta (para dizer o termo da moda, no mínimo figurativo) comitiva em China e Arábias. O chefe desfez a quimera. “Nada disso, vai atingir o cidadão desprovido de bens”, que costuma apenar essas aleivosias votando no partido do contra. Atribuiu-se-a à mão leve de Janja, mas logo se chegou ao consenso de que o chefe do Executivo não precisa de cochicho de alcova para desfazer ilusões do facilitário poliburocrático.

Carlos Andreazza resumiu texto realista publicado no Globo da quarta-feira 19 de abril de 2023 em tuíte: “Lula desistiu de taxar vendas on-line até U$ 50. O recuo, porém, mais do que evidenciar o discurso trapaceiro e expor a turma agora rebolando para se ajustar à nova ordem, expressa as dificuldades de o governo estruturar – alicerçar – o arcabouço fiscal.” Ora, meus amigos, meus inimigos, noviços da burocracia fiscalista podem cair nessa lorota, não vetustos analistas. Onde diacho o governo ocupado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas comandado pelo Centrão parlamentar do alagoano Artur Lira, iria encontrar jeito de cobrar essa taxa? Quantos milhões de fiscais e outros tantos de reais seriam gastos nessa aventura? Melhor voltar para o ramerrame de cada dia: imposto bom é o cobrado na fonte, ou seja, na empresa empregadora direto na folha de pagamento do escorchado contribuinte de sempre, o trabalhador de carteira assinada, ainda escorado no arcabouço sindical de titio Gegê.

Mas ainda falta um argumento, que depende de outras aplicações. A isenção premia uma trapaça em que uma venda é tratada como se fosse um troca-troca de cidadão para cidadão. O fim da tal isenção atingiria o casco da escravatura. E este torna o mundão de meu Deus de hoje em dia, não no mercado maior da chinesada, mas, sim, na transação entre a senzala produtiva do vendedor e o preço praticamente sem custo que chega ao consumidor além das grandes fronteiras do país mais populoso do mundo.

O neovelho império do extremo Oriente não é mais o contendor do império soviético, desmanchado na dita Revolução Cultural, nem o alvo da cobiça que excitou as narinas de Lord Kissinger. Xi Jinping é o capataz de uma ditadura revelada como fascista, ou seja de direita, no volumoso e lúcido tratado iluminado do empresário e escritor baiano Joaci Góes (Esquerdas e Direitas, Topbooks, 2022). Quem acredita na economia liberal dos velhos pais fundadores, gerida por uma democracia de cunho socialista, pode confundir padre com panda. A trágica verdade é que a atualidade mundial não é uma babélica barraca de quinquilharias tecnológicas com laboratórios habitados por vírus fujões. Como o tal de coroné vírus, ao qual o capitão Jair bate até hoje continência, sem a menor disciplina verbal, ora veja. O neovelho mundo, que virou o novo titã da indústria, do comércio e da alta tecnologia, finge que as centenas de milhões de escravos de olhos puxados são uma nova classe operária barata e operosa. Será que não vai aparecer um Joaquim Nabuco para abrir-lhes os olhos, hein? A herança de Deng Xiaoping é o realismo brutal, desumano e biliardário da potência sem medidas de uma ditadura escravocrata, que nem depende de comprar servos na África e transportá-los em naus.

Merval Pereira, do Globo e da Academia Brasileira de Letras, fez um comentário na CBN nesta quarta, 19, alertando para a cegueira da esquerda da democracia do amor de Lula em relação a outra ilusão de lado. O ex-KGB bolchevique é um cínico fascista que zomba de OTAN, ONU e do Bispo de Roma, como seu antecessor, Stálin, fazia há um século. Confundi-lo com um comunista é a mesma coisa que atribuir a Mussolini, vencido fundador dos fasci di combattimenti, a condição de caudatário do socialista Giacomo Matteotti, massacrado por facínoras prestando serviço ao Duce.

Os noticiários e as teses de História precisam ser refeitas: Serguei Lavrov humilhou o Brasil desembarcando de jeans e tênis. E depois foi cobrar dívidas que não serão pagas à Rússia pelos ex-comunistas, que agora seguram a mão direita enluvada do Dr. Strangelove, numa das melhores e mais assustadoras comédias do cinema, para evitar que ela faça a saudação nazista e o estrangule. No Brasil a postura belicista pró-russa do presidente impediu que se percebesse que Venezuela, Cuba e Nicarágua, que o criado falante de Putin visitou depois, formam um novo eixo. Nesta nossa democracia do amor é uma indecifrável anedota sinorrussa contada em castelhano de compadritos. A bênção, Borges.

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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  1. Como de costume, um diagnóstico preciso e irretocável é o que nos oferece Crusoé, na língua afiada e escrita esperta de Neumanne…

  2. Mas, Sr Neumanne. O senhor trabalhou firme para a queda do Governo anterior. Quer reclamar e confirmar o quê? ...agora? O que era sabido por todos!??? O senhor quer público para as suas narrativas???. Aliás, parece o próprio PT que vive de narrativas! Com todo respeito, o senhor tem experiência de que Brasília é um caso a parte!.... não adianta querer dar aula, mas, sim, temos que ter atitude!!! Pois a Ptzada ia voltar!!! E voltou!!! Quer falar o quê agora!!??? Menos meu senhor!!! Agora é tarde

  3. Está inaugurada a diplomacia do achincalhe e do recuo vergonhoso. O Brasil volta a rolar na sarjeta da ignorância orgulhosa e arrogante. Uma situação constrangedora e ridícula. Somos um bolo da Corte que obtém repulsa.

  4. O mestre, na sua verve erudita e poética, confirma o temor deste velho que há 67 anos fugiu de uma ditadura fascista e desconfia que vá acabar morrendo em outra, não importa o apelido ideológico do ditador de platão.

  5. O comunismo nasceu morto sob as teorias insanas de Marx que criava o homem novo daquele que em milênios evoluiu competindo com grandes feras por carniça e isto está nos nossos gens para sempre ... da ridícula utopia floresceram déspotas assassinos genocidas que sem piedade matam suas comunidades e na ignorante e escrava América LaTRIna proliferam líderes ladrões e criminosos ou caudilhos a se nutir da ignorância e do sangue de incautos ... e nada vai mudar tão cedo.

    1. Concordo plenamente. Mas como fundar um “novo homem”? O ocidente judaico-cristão é este pântano há dois milênios… o helenismo e o hinduísmo com toda sua superioridade espiritual, não conseguiram sobrepujar a ignorância coletiva.

  6. Nêumanne, bastava seu artigo ser levado à sério pelos que acreditam ainda no Lulapai para que todo seu castelo caísse. Posso até descartar os pobres dia.bos que aguardam a cesta básica, a casa minha vida, a viagem de avião por R$200,00. Mas fico pensando nos intelectuais de esquerda, nos famosos artistas que demonstram simpatia por esse tirano, senil, vingativo chamado Luiz Inácio Lula da Silva (chamado pelos vermelhos de Mandela brasileiro! ). Até agora só Paulo Coelho saiu do armário.

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