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Largada com atraso

Trinta milhões de pessoas já foram vacinadas em países onde governos fizeram o simples: compraram doses antecipadamente e adotaram estratégias para reduzir a resistência da população
15.01.21

Para resgatar a economia, retomar a vida em sociedade e evitar mortes, alguns governos têm se apressado para vacinar seus cidadãos. Israel já imunizou 22% da população. Os Emirados Árabes, 12%. Em termos absolutos, os campeões de vacinação são China e Estados Unidos, com quase 10 milhões de beneficiados cada. Esses países produziram e compraram com antecedência doses além do numericamente necessário. Em seguida, colocaram em prática estratégias para vencer a resistência de alguns grupos à imunização.

O Brasil é o único país do mundo em que, além de a vacinação nem sequer ter começado, o governo nacional ajuda a retroalimentar teorias da conspiração, gerando mais rejeição entre a população. Um em cada quatro brasileiros diz que não pretende aderir a nenhuma das que devem ser disponibilizadas no país. Na previsão do presidente Jair Bolsonaro, que tem repetido declarações contrárias à imunização, a maioria da população se negará a tomar a vacina. “Pelo que eu sei, menos da metade vai tomar vacina. E essa pesquisa que eu faço, faço na praia, faço na rua, faço em tudo quanto é lugar“, disse ele, em frente ao Palácio do Alvorada.

Em parte, a rejeição à vacina é um fenômeno global que tem crescido com as teorias da conspiração. A suspeita de que vacinas podem causar autismo ou esclerose múltipla ganhou força no Reino Unido e na França nos anos 1990 e, mesmo sem evidências, deixou marcas na mentalidade coletiva. Muitos dos que duvidam que elas sejam seguras geralmente também acreditam em outras teorias, como o terraplanismo ou a ideia de que o homem nunca pisou na Lua. “As pessoas que acreditam em conspirações normalmente têm dificuldade com o raciocínio analítico. Elas não conseguem desmembrar um assunto em várias partes e fazer relações entre elas”, diz o psicólogo Thales Vianna Coutinho, que realizou uma pesquisa sobre a resistência a vacinas no Brasil.

A Fiocruz aguarda insumos da China
Segundo o estudo, a resistência às vacinas está ligada principalmente às crenças conspiratórias. Na rejeição à Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e a ser produzida também pelo Butantan, o principal motivo tem origem política. Trata-se de uma consequência dos ataques constantes de Bolsonaro e seus seguidores à vacina propagandeada pelo governador João Doria — ela é atacada por ser chinesa, mas a vacina da Fiocruz, aposta do governo federal, também tem insumos provenientes da China.

Entre os que aprovam o governo de Bolsonaro, 63% dizem que não se imunizariam com uma vacina aprovada ou desenvolvida pela China, segundo o Datafolha. Outra parte da população sente apreensão porque as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde, com protocolos científicos adaptados, e nem todas as empresas e governos estariam sendo transparentes e honestos na divulgação dos dados. Nesse sentido, a divulgação da eficácia global de 50% da eficácia da Coronavac uma semana após o governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciarem que a eficácia era de 78% só contribuiu para criar mais incertezas.

Para evitar inconvenientes, quanto mais transparência, melhor. Nos países que estão utilizando a vacina russa Spunitk V, a falta de dados confiáveis é muito mais grave. “Na Argentina, só descobrimos que os idosos não seriam vacinados quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que não tomaria a dose porque tem 68 anos”, diz o médico Jorge Iapichino, secretário da Confederação Médica da República Argentina. Enquanto no Brasil o Instituto Butantan foi obrigado a explicar seus dados incompletos após intensa pressão de cientistas, médicos e jornalistas, na Argentina a sociedade civil não tem qualquer poder de influência. “O governo não tem conversado com os médicos. Nós mandamos uma carta pedindo mais dados sobre a vacina, mas não tivemos nenhuma resposta”, diz Iapichino.

ReproduçãoReproduçãoOs argentinos souberam por Putin que idosos não tomariam a Sputnik V
Um dos países que mais têm tomado medidas para lidar com a resistência à vacina é a França. Uma pesquisa do Instituto Ipsos apontou que é entre os franceses que está o maior índice de rejeição à vacinação: 54% não pretendem se imunizar. Para conseguir a adesão dos franceses, o governo tem dado bastante atenção aos médicos locais. Eles participarão da campanha pela vacina e poderão decidir quando e onde seus pacientes serão imunizados. Esses profissionais ajudarão, por exemplo, a escolher os melhores lugares para o atendimento dos idosos. Com isso, a França pretende corrigir o erro cometido em 2009, quando os médicos foram ignorados e não recomendaram a vacina contra o H1N1 para seus pacientes. Naquele ano, ginásios foram reservados para vacinar a população, mas ficaram completamente vazios. Apenas 8,5% da população se protegeu.

No combate à Covid, a França também criou vários canais de comunicação direta com a população. O imunologista Alain Fischer foi escolhido para ser o porta-voz da vacina. Apelidado de “Monsier Vaccin”, é ele quem se encarrega de transmitir as informações da forma mais clara possível. Como não se trata de uma figura política, sua credibilidade é maior. Fischer também está comandando diversos comitês, com participação de profissionais de saúde e da sociedade civil, para calibrar a mensagem governamental e apresentar respostas para os principais medos das pessoas. Até agora, a França vacinou 250 mil pessoas. “Toda campanha de vacinação é uma negociação entre os cientistas e a população. Para ter sucesso, é preciso ouvir quais são as dúvidas das pessoas e traduzir o conhecimento científico, respondendo o que elas querem saber. Só assim elas poderão tomar a melhor decisão”, diz Josemari Quevedo, especialista em políticas públicas e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná.

Como o governo brasileiro deixou passar a oportunidade de comprar antecipadamente doses de outras empresas, como a Pfizer, o país deve iniciar a campanha apenas na próxima semana. Se tudo der certo, o Brasil poderá seguir o resto do mundo, onde 30 milhões de pessoas já se vacinaram. Mas nada apagará a incompetência que nos deixou tão atrás de dezenas de naçōes – e que custou milhares de vidas.

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  1. Texto um tanto quanto confuso: a ideia era criticar os adeptos de teorias da conspiração (primeira parte) ao mesmo tempo que legitima questionamentos aceitáveis (segunda parte)? O segundo ponto é: Bolso está fazendo “escola” na França ou 54% dos franceses são “negacionistas” e crentes em teorias da conspiração? (Aliás, 54% dos franceses também pensam que a Terra é plana? 54% deles também não acreditam que o homem pisou na lua?)

  2. hipócritas, a fome mata mais que a covid19 e tem vacina, o câncer, doenças do coração, acidentes e outros mata mais. 60.000 assassinatos ano e soltam bandidos, acorda Brasil.

  3. A descrença não são das vacinas em si, o que é necessário, a descrença maior são das classes politicas que jogaram suas credibilidades no chão beirando a zero porque sempre priorizaram o ganho fácil. Agora teremos que inventar a toque de caixa, com a maior brevidade uma vacina que priorize a decência, a moral e os bons costumes. A nação precisa avançar.

  4. Eu vou tomar a vacina, de qualquer laboratório. Estou viva até hoje, porque também fui imunizada contra diversas doenças. É uma pandemia, portanto vidas importam.

  5. Os boçalnaros, formados em WhatsApp, Facebook e Instagram, ignoram décadas de estudos dos grandes laboratórios e negam as vacinas.

  6. Os esquerdopatas estão imunizados com ozônio pelo ânus, o idealizador desse tratamento contra o vírus chinês, foi do prefeito esquerdista, sem oposição do aparelhamento estatal esquerdopata entranhado nas três esferas do poder não precisa ser vacinado.

  7. Que bom que mais de 60 por cento dos bolsonaristas estejam dispostos a não se vacinarem. Esperemos que a Seleção Natural faça a sua parte. Por outro lado, menos vacinas compradas comprometem os planos dos compradores oficiais, afinal se 20% de X é Y, 20% de 2X é 2Y, de 3X é 3Y... E pior: 20 % de nada é nada.

  8. Lembro quando era pequena que diziam é a ignorância que atravanca o progresso... aí está’! Presidente além de tudo ignorante

  9. Não entendi sua abordagem: a Argentina nem sabia que os idosos não serão vacinados, na França 250 mil foram vacinados e o Brasil está atrasado!!!!!!????? Uma ordenação de ideias e opiniões é sempre útil....

    1. Eles são contra o governo em tudo; não são racionais. E um bando de idiotas seguem as necedades escritas por estes colunistas sem pestanejar.

  10. No começo da pandemia, pesquisa cientifica padrão ouro, no mínimo 2 anos. Nem começaram os estudos sobre as novas variantes do vírus, mas já se fala em obrigatoriedade da vacina. Esqueçam os políticos oportunistas e a politicagem da própria ciência e comecem a refletir sobre a segurança e eficácia dessas vacinas. Não são a mesma coisa. Efeitos adversos? Vacina para AIDS? Para dengue? Para Zica? Talidomida,? Fabricada no boteco pelo Zé da Esquina? Ciência responsável cumpre etapas cuidadosament

    1. Em uma situação normal, voce está certa. No estado em que estamos, não se pode se dar ao luxo de esperar tanto tempo. É por isso que serão dadas licenças emergenciais. É a melhor maneira de acabar com esse pesadelo sem fim.

    1. Não é não! Eles devem ter recebido alguma promessa do Traíra para distorsserem as notícias.

    1. Campos de concentração é a tua sugestão? Que vergonha em ler isso.

  11. Na Alemanha pesquisa recente apontou que 25% da população querem se vacinar. Acho que nossa imprensa deveria ler mais o que ocorre em outros países e parar de ver este, ainda que imbecil, Bolsonaro como a causa de todo de mal que acontece no pais.

  12. Eu tenho uma pergunta:por que a China silencia enquanto o resto do mundo sofre absurdamente com esta segunda onda?Onde está o sentimento humanitário?Como controlaram lá a epidemia?Por que não oferecem ajuda ao mundo,uma vez que aparentemente tiveram um número pequeno de mortes? Por que nenhum organismo internacional questiona essa omissão?

    1. um pais que invade outro que nem exército tinha( Tibet), tem como ser solidario, empatico?

    2. Silvia, eles não bloquearam a OMS, eles bloquearam a de outros países.

    3. Eles bloquearam a entrada da missão da OMS lá. Precisa dizer mais?

  13. BOLSONARO e seus MILITARES VASSALOS CRIMINOSAMENTE BOICOTAM AS VACINAS para EVITAR MANIFESTAÇÕES de RUA CONTRA o GOVERNO! Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” Triunfaremos!

  14. A pandemia veio botar a nu o nosso atraso, a nossa total dependência do exterior. Nossas universidades só prestam para formar, na maior parte, uma canalhada esquerdista, de advogados a jornalistas, passando por uma infinidade de cursos inúteis, mestrados e doutorados sem nexo!

  15. Nem um motor a combustão interna, que existe há bem mais de um século, é nacional. Todos são projetados no exterior. E muitos componentes eletrônicos também, quando não são importados.

  16. Atraso ? voçê tomaria uma vacina da china sem a devida avaliação ainda mais vindo de um país de merda com eles ! só mandam porcaria para todo mundo ..

  17. Nos, brasileiros, somos o que popularmente denominam-se como "maria vai com as outras". Qquer boatinho surgido sobre eficácia vacinal, ou possíveis efeitos colaterais nos humanos, explode aos borbotões na internet. Ainda vivemos naquela fase primitiva de que melhor do que "o remedinho de raízes da vovó" não existe. Enfim, somos mesmo uma tragédia. Cáspite. apscosta/df

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