'Vai desestimular investigações sobre autoridades do alto escalão', diz promotor punido por investigar Gilmar
Na terça-feira, 14, o Conselho Nacional do Ministério Público, o CNMP, formou maioria para punir o promotor de Justiça mato-grossense Daniel Balan Zappia com uma suspensão de 45 dias. Zappia foi acusado de assédio processual por ajuizar ações contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e sua família. Elogiado por colegas e considerado...
Na terça-feira, 14, o Conselho Nacional do Ministério Público, o CNMP, formou maioria para punir o promotor de Justiça mato-grossense Daniel Balan Zappia com uma suspensão de 45 dias. Zappia foi acusado de assédio processual por ajuizar ações contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e sua família.
Elogiado por colegas e considerado um profissional "muito técnico" por testemunhas que prestaram depoimento ao CNMP, o promotor diz que recebeu a notícia com “espanto e indignação”.
Zappia falou a Crusoé. Para ele, a punição vai inibir promotores e procuradores que esbarrarem em suspeitas envolvendo figuras poderosas. “As consequências serão devastadoras, a ponto de desestimular a investigação e a responsabilização de autoridades do alto escalão da República pelos membros do Ministério Público”, afirma. Eis o que mais ele disse:
Como o sr. recebeu a notícia de que o CNMP formou maioria para puni-lo com uma suspensão de 45 dias?
A perspectiva de ser punido justamente por exercer minhas atribuições com independência funcional me causa espanto e indignação.
Na sua avaliação, o que pesou na decisão?
Apenas eu produzi prova no processo disciplinar, arrolei dez testemunhas e promovi a juntada de documentação. As testemunhas atestaram a boa técnica da minha conduta profissional. Exerci minhas atribuições ao dar prosseguimento ao trabalho desenvolvido pelas promotoras de Justiça que me antecederam e os recursos interpostos foram endossados por procuradores de Justiça que oficiam perante o Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Ou seja, o ajuizamento de demandas e a condução de procedimentos investigatórios não partiram de um posicionamento individual de minha parte, pois se trataram de ações de rotina, implementadas por dever de ofício com as devidas cautelas que a profissão requer. Minhas testemunhas ainda apontaram fatos graves, como o telefonema do ministro ao corregedor do Ministério Público do Mato Grosso, ocasião em que ele me chamou de “louco de gaiola” e solicitou a minha responsabilização. A gravidade dessa medida foi ignorada. Assim, a meu ver, no voto do conselheiro relator não se promoveu uma análise de toda a prova testemunhal, como se espera em qualquer processo, mas apenas o aproveitamento de trechos descontextualizados das provas que produzi para sustentar a condenação.
O sr. se arrepende de ter aberto uma investigação contra Gilmar Mendes?
Não há espaço para arrependimento quando se atua por dever de ofício, em respeito à autonomia e à independência do Ministério Público. Do contrário, teria me omitido diante da responsabilidade do cargo e das notícias de ilícitos ambientais e de supostos atos de improbidade administrativa.
Acredita que essa decisão vai desestimular promotores, procuradores e delegados a investigar poderosos?
Caso seja confirmada a condenação, haverá um precedente do CNMP para a interferência na independência funcional dos membros do Ministério Público, em razão do mero exercício de suas atribuições em sede processual. No meu entendimento, as consequências serão devastadoras, a ponto de desestimular a investigação e a responsabilização de autoridades do alto escalão da República pelos membros do Ministério Público.
Alguns conselheiros sugeriram na sessão que a sua recente promoção por merecimento seja revista. Acredita que a perseguição vai parar por aqui?
Foi uma remoção por merecimento decidida por um colegiado. Ressalto que até o presente momento não tive qualquer responsabilização disciplinar, em mais de doze anos de atuação como promotor de Justiça de Mato Grosso. Segundo a Constituição Federal, qualquer brasileiro conta com a garantia fundamental da presunção de inocência. Eventual condenação injusta apenas produzirá efeitos a partir de seu trânsito em julgado para atos futuros. Em todo caso, o Conselho Superior do Ministério Público do Mato Grosso, ao reconhecer meu mérito, tinha ciência de toda a minha atuação funcional, bem como da persecução disciplinar em trâmite no CNMP. Quanto à perseguição, o que posso afirmar é que não apenas eu, mas outros colegas poderão ser responsabilizados pelo exercício de sua independência funcional, quando atuarem por dever de ofício.
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Comentários (10)
#3Via
2021-09-20 16:12:16Afinal a lei e igual a todos ou nao e? os ministros do stf são semi Deuses e seguem as próprias regras? Sim todo funcionário publico tem que ser investigado e devem satisfação a população que paga o alto salários e todas as mordomias que o cargo possui. Parabéns ao promotor por tentar seguir a lei para todos. Brasil e uma vergonha com castas politicos socias que dominam o pais e regem próprias leis. 2022 Vamos de #3Via e Deltan Dallagnol na PGR ai sim a justiça volta a andar na direção certa!!!
DAISY SCHMIDT
2021-09-20 14:16:39ASSÉDIO define melhor esse tipo de "punição encomendada". Uma vergonha a nossa justiça...
Edmundo
2021-09-20 12:01:34Parece brincadeira isto. Não dar acreditar que isto ocorre na justiça do Brasil!
Caio Graco de Araújo e Campos
2021-09-20 06:42:44a reportagem precisa informar de que crime Gilmar e sua família foram acusados. Enfim, complementar a matéria.
Eduardo
2021-09-19 20:28:28É apenas mais um dos absurdos cometidos em nome da Justiça, especialmente a, dita, Superior. Ela é, sim, superior em absurdos, em privilégios, em protecionismo. E a nossa imprensa, Crusoé, inclusive, é omissa, conivente e deve se beneficiar desse estado de coisas. São todos, órgãos de imprensa e jornalistas mansos e submissos aos desmandos praticados pelos tribunais e juízes em todas as instâncias. Ninguém mais se lembra de criticar e questionar aquele inquérito do STF, do qual Crusoé foi alvo.
Ana Lucia Amaral
2021-09-19 18:23:59E quem critica a impunidade sustentará por esses seres horrorosos que usam Toga no STF podem ser presos. E a imprensa os apresenta como defensores da Constituição e da Democracia. Estão destruindo a Nação e não podemos fazer nada!
Carlos
2021-09-19 15:54:04Enquanto o Brasil estiver sendo comandado pela orcrim que não deixa bolsonaro agir, o país continuará no lamaçal mal cheiroso.
#LJ🇧🇷
2021-09-19 11:12:20ESSA “IN(JUSTIÇA)” DESANIMA QUALQUER CIDADÃO DE BEM !!!!! AQUI A TURMA DA BANDIDAGEM VENCE EM TODOS NÍVEIS SOCIAIS!!!!! HONESTIDADE ESTÁ SENDO HUMILHADA E MASSACRADA!!!!
Odete6
2021-09-19 07:39:45*****DR. DANIEL BALAN ZAPPIA*****, UM VERDADEIRO BRASILEIRO, UM CIDADÃO REFERÊNCIA DE RETIDÃO, INTEGRIDADE, CORAGEM E COMPETÊNCIA, CUJO NOME NÃO PODEREMOS JAMAIS ESQUECER!!!! Que indecência superlativa condenar a integridade, a coragem e a competência, por lutarem contra a marginalidade institucionalizada!!!! É preciso q apoiemos constante consistentemente a todos os BRASILEIROS q lutam pra remover esses ""seres moralmente anormais, corrosivos, lesivos e patogênicos"" das nossas instituições!!!!
Ilton
2021-09-19 07:31:37O Brasil sempre foi questionável quanto ao exercício e prática da Justiça, porém neste momento, prática-se o que há de mais abjeto neste espectro. As autoridades que deveriam se exemplar são as mais mórbidas possíveis. Onde já se viu punir um agente da justiça e da lei por cumprir o seu desiderato? Sr. Ministro Gilmar Mendes o Sr. Ê atualmente o PIOR exemplo de desconexão social, NÃO cumpre o seu papel de juiz e magistrado, perseguidor, defensor de causas próprias, suspeito em quaisquer decisão.