Um mês de Ministério da Saúde no escuro: apagão de dados age a favor do vírus
Há um mês, o Brasil vive um apagão estatístico e desconhece o número real de novos casos, mortes, hospitalizados por Covid-19 e vacinados contra doença. O blecaute de informações põe o país em um voo às cegas durante a explosão de diagnósticos por influenza e o avanço descontrolado da variante Ômicron. Desde 10 de dezembro,...
Há um mês, o Brasil vive um apagão estatístico e desconhece o número real de novos casos, mortes, hospitalizados por Covid-19 e vacinados contra doença. O blecaute de informações põe o país em um voo às cegas durante a explosão de diagnósticos por influenza e o avanço descontrolado da variante Ômicron.
Desde 10 de dezembro, quando o site do Ministério da Saúde foi alvo de um ataque cibernético, o governo federal perdeu a dimensão exata da evolução do contágio. Com sistemas ainda em manutenção, não se tem, por exemplo, informações sobre a evolução da cobertura vacinal no país. Se a imunização estagnou ou parou de acelerar, por exemplo, seriam necessárias campanhas e mobilização da população. Também não há informação sobre o momento em que a Ômicron começou a avançar e a tornar o contágio desenfreado. Quem ganha com a cegueira de informação é o vírus.
“Com esse atraso de dados, perde-se a capacidade de tomar decisões a tempo de ter algum efeito. Uma semana de atraso em uma tomada de decisão significa uma nova onda. O apagão nos tirou um mês de ação. Já dá para ver que há uma onda nacional acontecendo”, afirma Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19. A falta de informações impede que gestores públicos entendam o estágio da doença e adotem medidas capazes de freá-la. “Ninguém ganha com isso, só perde. Só ganha quem não quer tomar decisão, porque não tem dado. Todo mundo conhece uma pessoa ou duas que está positivo. Esse aumento não começou da noite para o dia, com os dados já teríamos começado a essa mudança tendência antes do Natal”, reforça o cientista.
Senadores que comandaram os trabalhos na CPI da Covid veem uma ação deliberada do governo para ocultar dados em meio a um novo avanço da doença. “Há uma conspiração montada contra a saúde dos brasileiros que vem desde a negação do passaporte vacinal, a protelação da vacinação nas crianças, as fakes news divulgadas diariamente pelo presidente combinados com o apagão de dados. Esse conjunto de fatos me leva a ter certeza que o apagão de dados é uma ação criminosa”, afirma Randolfe Rodrigues, que atuou como vice-presidente da comissão.
O cenário, defende Randolfe, requer reação das instituições para que não "reforcem a delinquência” do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “É ação deliberada, não tem interesse dele em resolver, é cúmplice do crime que está sendo cometido.” O Senado já enviou dois requerimentos de convocação para Queiroga prestar esclarecimentos no retorno do recesso parlamentar, que deverá ocorrer se dar por via remota caso o avanço da contaminação não cesse até lá. “Ou as instituições atuam para pará-los ou a delinquência continuará contra os brasileiros. Temos que ter a compreensão de que eles são agentes propagadores da morte. Não tem preocupação com a saúde dos brasileiros”, diz Randolfe.
O senador Omar Aziz, que foi presidente da CPI da Covid, diz que é assustador o número de pessoas infectadas sem que o país tenha a exata noção do tamanho da onda da Ômicron entre os contaminados. E também acredita em ação intencional do governo para atrasar acesso às estatísticas. “Vindo do ministro Queiroga, que é médico e fez consulta pública para vacinar crianças, podemos esperar qualquer coisa. Está claro para todos nós que ele está escamoteando os números verdadeiros, o que está refletindo nos estados e municípios. Isso é escamotear os dados.”
A demora do Ministério da Saúde para restabelecer os sistemas de informação não é razoável, apontam especialistas. Leonardo Bastos, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz e membro do Observatório Covid-19 Brasil, afirma que se um ataque hacker semelhante houvesse acontecido em uma empresa privada, poderia ser resolvido em poucos dias. “É tudo muito surreal. A causa do que aconteceu não é muito clara. Não faz sentido demorar um mês para restabelecer."
Uma hipótese para a lentidão é a de que o estrago causado pela invasão foi tamanho a ponto de o ministério perder todos ou a maior parte dos dados e precisar reconstruir do zero suas plataformas. “Isso justificaria uma demora assim”, avalia Schrarstzhaupt.
A ação criminosa é investigada pela área de Inteligência Policial da Polícia Federal. A página do OpenDataSUS que estava disponível nesta segunda-feira, 10, dá sinais de que foi refeita do zero. A nova versão não traz sequer a customização visual do ministério. “Como não tem transparência nenhuma nesse processo, temos que levantar hipóteses para entender o tamanho do furo, suponho que tenha sido uma perda considerável de sistemas.”
O ataque afetou uma série de bancos de dados do Ministério da Saúde. Alguns sistemas, como o e-SUS Notifica, o SI-PNI e o Conecte SUS (que reúnem informações de diferentes áreas), foram parcialmente restabelecidos antes do Natal, mas a plataforma-mãe do ministério, a Rede Nacional de Dados em Saúde, seguia às escuras até segunda-feira. Na terça-feira, 11, o OpenDataSUS estava completamente fora do ar. A instabilidade provoca represamento dos registros de novos casos de Covid, síndromes gripais, além de hospitalizações, mortes e o estágio atual da vacinação. Isso impede, por exemplo, que a Fiocruz dispare relatórios semanais a estados e municípios com a análise da evolução da doença nas regiões, o que orienta a tomada de decisão dos gestores.
A rede nacional é abastecida com informações cadastradas nos estados e centralizadas em Brasília. Esses dados, porém, seguem represados no ministério. “Isso inviabiliza a análise do momento que estamos passando, perdemos a dinâmica do que está acontecendo agora. Se você não tem o dado, não tem epidemia. É triste porque o Brasil tradicionalmente sempre teve dados de saúde muito bons, já foi referência. Sem os dados não dá pra fazer nada”, diz Leonardo Bastos.
O breu estatístico é menos danoso em estados que têm sistemas de monitoramento próprio avançado, como o Espírito Santo, que monitora por conta própria os casos, óbitos e números de hospitalização e vacinação, e Rio Grande do Sul e São Paulo, que dispõem de plataformas autônomas de acompanhamento de testagem, mortes e internações.
Ainda que os sistemas sejam normalizados nos próximos dias, há risco de o apagão se estender por mais tempo, já que profissionais de saúde precisarão entrar no sistema, com login e senha, e preencher planilhas com os dados de cada paciente que testou positivo para coronavírus nesse período. Todas essas informações foram anotadas manualmente durante o apagão.
O Ministério da Saúde afirma que “a integração entre os sistemas locais e a rede nacional de dados foi restabelecida" e que as “informações inseridas pelos estados e municípios nos sistemas estão retornando gradualmente às plataformas nacionais”. Segundo a pasta, não houve perda de dados e a instabilidade nos sistemas não interferiu na vigilância epidemiológica de síndromes agudas respiratórias, incluindo a Covid-19. O ministério não deu informações sobre os motivos pelos quais os sistemas ainda não foram restabelecidos completamente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
Elizabeth
2022-01-12 10:09:15que apagão tendencioso é este que só favorece o governo?
Elizabeth
2022-01-12 10:06:46é claro que o apagão é intencional, tá escrito na testa do (des) governo. Malandros marotos, pensam que o povo é burro como eles e não vê. Que o Jair e sua mafia voltem para o inferno de onde nunca deviam ter saído! Moro PRESIDENTE!!!
Sônia Adonis Fioravanti
2022-01-12 09:06:01ESSE É O OBJETIVO DO SOCIOPATA DAS ARMINHAS E O ANTI CIÊNCIA DR PIROGA O SUCESSOR DE PAI ZUELLO
Claide
2022-01-12 07:54:53O delinquente do Planalto e do ministério da Morte..ops da Saúde devem estar festejando...Blackout informações..tudo q Bolsonaro sonhou...FORA DELINQUENTES!
Maria
2022-01-11 22:39:48Absurdo!Governo sem respeito pela lei e a população!So mentiras
Palhaço Bozo
2022-01-11 22:39:28Esse governo da morte não engana mais ninguém. Até os aloprados que defendem esse desgoverno corrupto sabem q coisa boa nunca virá do atual desgoverno. É uma reunião macabra do q existe de pior na raça humana, preparando ordeiramente o terreno para a volta do maior ladrão do Brasil. Isso para delírio da gadolandia esquizofrênica q continua dando glória a Deus pelo maravilhoso governo genocida de dar inveja aos mais cruéis Reis do velho testamento.
Jose
2022-01-11 20:12:45Apagão causado pela incompetência Bozista associada ao desejo secreto desta turma de genocidas em maltratar mais a população brasileira.
William
2022-01-11 19:56:33FOLHETIM MORO ATACANDO 🐁🐁🐁🐁🐁
Sillvia2
2022-01-11 18:39:39Esse apagão cheira mais a sabotagem, disfarçada como ataque raquer, fantasiando a mentirosa versão de que vai tudo bem no pobre reino de Jair Bolsonaro… só que não: agora a máscara dos embusteiros está caindo e provocando o lockdown direto do vírus, com voos sendo cancelados em massa, lojas funcionando precariamente, pois são muitas mesmo as pessoas que estão doentes… muito mais do que o desgoverno informa e finge acreditar! O POVO NÃO É MAIS BOBO, JB!!!
Marcello
2022-01-11 18:23:46Definitivamente, um "vírus-mínion"!