Trump faz a festa dos corruptos mundo afora
Presidente suspendeu lei anticorrupção, a mesma que obteve acordos de leniência com Odebrecht, Braskem, Petrobras, J&F e Gol Linhas Aéreas
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), suspendeu a aplicação da Lei de Práticas Corruptas no Exterior, a Foreign Corrupt Practices Act (FCPA).
A lei, de 1977, é o principal mecanismo para impedir que empresas americanas paguem propinas para ganhar contratos no exterior.
Mais do que isso, a FCPA tem ajudado a punir empresas estrangeiras, incluindo brasileiras, que praticam atos de corrupção que, em algum momento, acabam envolvendo os Estados Unidos.
Se o dinheiro ilegal passou por um banco americano ou foi usado para comprar um apartamento em Miami, a lei pode ser usada contra empresas e empresários estrangeiros.
Lava Jato: Odebrecht, Braskem e Petrobras
Para aplicar a FCPA, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tem vários times de advogados, no país e no exterior.
Eles investigam casos e conseguem obter acordos de leniência, em que as empresas admitem a culpa, pagam multas altas e se comprometem a andar na linha dali em diante.
Em 2016, a empreiteira Odebrecht e a Braskem aceitaram pagar 3,5 bilhões de dólares em multas após admitir que tinham violado o FCPA.
Foi um dos desdobramentos mais importantes da Lava Jato.
Em 2018, a Petrobras aceitou pagar uma multa de 850 milhões de dólares por não respeitar a legislação americana contra a corrupção.
Uma nota do Departamento de Justiça afirma que a estatal teve um papel em "facilitar pagamentos a políticos e partidos políticos no Brasil".
J&F e Gol
Em 2020, a J&F Investimentos, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, concordou em pagar uma multa de 256 milhões para resolver uma pendência com a FCPA.
"A resolução surge do esquema da J&F para pagar milhões de dólares em propinas a funcionários do governo no Brasil em troca da obtenção de financiamento e outros benefícios para a J&F e entidades de sua propriedade", diz a nota do Departamento de Justiça americano.
“Como parte desse esquema, executivos nos níveis mais altos da empresa usaram bancos e imóveis dos EUA para pagar dezenas de milhões de dólares em propinas a funcionários corruptos do governo no Brasil, a fim de obter centenas de milhões de dólares em financiamento para a empresa e suas afiliadas. A resolução de hoje demonstra o compromisso contínuo do departamento em combater a corrupção internacional e responsabilizar as empresas por violações da FCPA", diz o documento.
Em 2022, foi a vez da Gol Linhas Aéreas assinar um acordo de leniência, concordando em pagar uma multa de 41 milhões de dólares.
“A Gol pagou milhões de dólares em propinas a autoridades estrangeiras no Brasil em troca da aprovação de uma legislação benéfica para a companhia aérea”, diz a nota do Departamento de Justiça.
Sem novas investigações
Com o decreto de Trump suspendendo a FCPA, há dúvidas sobre o que vai acontecer com as investigações que estavam em andamento.
O certo é que novas investigações não devem ser abertas por algum tempo.
Por 180 dias, a procuradora-geral Pam Bondi deverá rever as diretrizes e políticas que regem as investigações e as ações de execução sob a FCPA.
O decreto ordena "cessar o início de quaisquer novas investigações ou ações de execução da FCPA, a menos que o procurador-geral determine que uma exceção individual deva ser feita".
O período poderá ser prorrogado por mais 180 dias.
Lula e os caças Gripen
O presidente republicano afirma que a lei atrapalha a competitividade das empresas americanas no exterior.
É verdade que isso acontece.
Nas licitações governamentais pelo mundo, é comum ouvir queixas de empresas americanas, afirmando que são prejudicadas porque não podem pagar propinas para oficiais.
Em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff, a empresa americana Boeing entrou numa disputa para vender caças F-18 Super Hornet ao Brasil.
Quem venceu foi a sueca Saab, que fabrica o caça Gripen.
Em 2016, Lula foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suspeita de tráfico de influência na contratação dos caças. O petista negou ter tido alguma participação nas negociações, que começaram quando ele ainda era presidente.
Em outubro do ano passado, o Departamento de Justiça americano solicitou informações sobre o contrato da compra de 36 caças Gripen à Força Armada Brasileira, FAB.
"A Saab North America, Inc., uma subsidiária americana da Saab, recebeu uma intimação do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ). O DoJ solicitou informações sobre a aquisição pelo Governo Brasileiro de 36 aeronaves de caça Gripen E/F para sua força aérea. O contrato foi assinado em 2014", afirmou a empresa sueca em seu site.
As consequências para o mundo
Ao enfraquecer a principal lei contra a corrupção no mundo, Trump espera ajudar as empresas americanas.
Contudo, as companhias americanas continuarão sob a supervisão de entidades do país, como a SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos.
O mais provável é que a suspensão poderá tornar as compras governamentais em todo o muno uma terra sem lei.
E aí, perderão todos.
Incluindo americanos e brasileiros.
Só quem vai ganhar com o enfraquecimento da FCPA são os políticos corruptos.
Leia em Crusoé: Como fica a Lava Jato no exterior
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