Trump ecoa o que Putin fala
Presidente americano reproduz narrativa russa que, na prática, só rejeitou o acordo de cessar-fogo

O ditador russo, Vladimir Putin, recusou o acordo de cessar-fogo temporário proposto pelos Estados Unidos e aceito pela Ucrânia para pôr fim à guerra.
Uma das condições impostas pelo Kremlin era uma conversa com o presidente americano, Donald Trump, que ocorreu nesta quinta-feira, 13.
Em uma publicação na rede social Truth Social, o republicano afirmou que há uma "grande chance" de a "horrível e sangrenta guerra" chegar ao fim após o diálogo com Putin.
No entanto, segundo Trump, há um impasse, já que "milhares de tropas ucranianas" estão cercadas pelo exército russo, o que poderia resultar em um "massacre horrível", sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial."
"Nós tivemos muito boas e produtivas discussões com o Presidente Vladmir Putin da Rússia ontem, e há uma muito boa chance dessa horrível e sangrenta guerra possa finalmente chegar a um fim - MAS, NESTE EXATO MOMENTO, MILHARES DE TROPAS UCRANIANAS ESTÃO COMPLETAMENTE CERCADAS PELO EXÉRCITO RUSSO, EM UMA POSIÇÃO MUITO RUIM E VULUNEÁRIVEL. Solicitei fortemente ao Presidente Putin que poupasse suas vidas. Isso seria um massacre horrível, algo não visto desde a Segunda Guerra Mundial. Que Deus os abençoe", escreveu Trump.
Na prática, porém, Putin mostra que não tem nenhuma pressa em parar com sua ofensiva para reconquistar a região russa de Kursk ou seguir com a invasão no leste da Ucrânia.
Manipulação
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Putin de manipulação para atrasar o fim do conflito.
Em publicação no X, Zelensky disse que Putin tem medo “de dizer a Trump que ele quer continuar esta guerra e continuar matando os ucranianos”.
"É por isso que, em Moscou, eles estão cercando a ideia de cesar-fogo com tais pré-condições que ela ou falha ou é arrastada pelo maior tempo possível. Putin faz isso frequentemente — ele não diz “não” diretamente, mas ele arrasta as coisas e torna soluções razoáveis impossíveis. Nós vemos isso como mais uma rodada de manipulação russa“, afirmou.
Para Zelensky, os países precisam aumentar a pressão sobre os russos que, segundo ele, “precisam dessa guerra”.
Vacilo americano
Com Putin seguindo com a guerra, Trump está vendo sua capacidade de influenciar outros países sendo testada.
O presidente americano tinha prometido acabar com a guerra no primeiro dia de seu mandato.
“Para o governo americano, as concessões dos aliados para satisfazer as ambições de Putin têm peso interno e internacional muito maior para os Estados Unidos do que os próprios aliados podem perder. Para Trump, vale muito mais ser o intermediador desse processo e ter interlocução com Moscou, do que continuar apoiando a Ucrânia contra a Rússia. Se Putin não aceitar, isso vai custar a Trump grande parte do seu capital político", afirma Enrique Carlos Natalino, cientista político pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mas o ditador, até agora, só sinalizou que quer demonstrações de respeito por parte de Trump, para no futuro tentar rever as sanções impostas a ele após a invasão da Ucrânia.
Sem um apoio militar consistente para a Ucrânia, não haverá nada capaz de fazer Putin desistir da guerra que ele próprio iniciou há três anos.
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