Falta de dados sobre dívidas da União afeta debate da PEC da 2ª instância
Um dos debates sobre a PEC que garante a prisão após condenação em segunda instância será feito sem o apoio de dados oficiais. Os parlamentares vão discutir na recém-instalada comissão especial se a aplicação da regra se estende a ações cíveis, tributárias e trabalhistas. A extensão teria impacto na cobrança de precatórios da União e...
Um dos debates sobre a PEC que garante a prisão após condenação em segunda instância será feito sem o apoio de dados oficiais. Os parlamentares vão discutir na recém-instalada comissão especial se a aplicação da regra se estende a ações cíveis, tributárias e trabalhistas. A extensão teria impacto na cobrança de precatórios da União e dos estados. Mas o governo federal não tem nenhum levantamento consolidado sobre o valor das dívidas da Fazenda Nacional reconhecidas pela Justiça. Os estados e municípios devem cerca de 141 bilhões de reais.
A falta de estimativas é um argumento para os parlamentares contra a extensão da PEC da segunda instância para além dos processos criminais. No caso das ações penais, por causa da pressão da opinião pública, há pouca resistência explícita à proposta. Mas deputados e senadores, muitos deles em débito com a União, temem a antecipação da execução de sentenças de ações cíveis, como as de improbidade, por exemplo, em que há exigência de ressarcimento ao erário, decretação de indisponibilidade dos bens e multas.
Governadores também pressionam nos bastidores para que a PEC restrinja a execução da condenação após segunda instância apenas a processos criminais. Em São Paulo, por exemplo, o débito total do estado com precatórios é de 50,9 bilhões de reais. No Distrito Federal, o valor chega a 3,9 bilhões de reais. Aprovada em 2017, a Emenda Constitucional 99 estabeleceu prazo até 2024 para os estados quitarem os precatórios. Hoje, as dívidas só entram na lista de execução após o trânsito em julgado. Se a PEC da segunda instância antecipar essa cobrança, as dívidas dos estados vão aumentar significativamente.
No projeto da Lei Orçamentária de 2020, que será votado nesta semana, o Planalto reservou 47,9 bilhões de reais para quitar parte desses débitos. A Advocacia-Geral da União e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional não sabem, no entanto, o total devido. Segundo a assessoria de imprensa da AGU, o valor é “incalculável”. Se a execução for antecipada para decisões de segunda instância, o reflexo sobre as finanças do governo federal será imprevisível.
Entre as ações impetradas contra a União que geraram as dívidas de precatórios estão aposentadorias sob litígio, cobrança de gratificações e benefícios de servidores, reversão de demissões questionadas no Judiciário e desapropriações para a reforma agrária. Só para o pagamento de anistias políticas questionadas na Justiça, o Ministério da Economia deve pagar 1,9 milhão de reais em precatórios em 2020.
Na comissão especial da PEC da segunda instância, os deputados estão divididos quanto à extensão da execução antecipada para além das ações penais. O relator, Fábio Trad (foto), reconhece que os parlamentares não têm hoje nenhum dado concreto sobre as dívidas de precatórios da União, mas diz que as informações serão cobradas do governo federal. “Não podemos ignorar o fato de que estados e municípios usam inúmeros recursos para não pagar o que devem. Temos que ver o lado dos credores, muitos deles pobres. Vamos ter que construir regras”, defende o deputado do PSD.
“O objetivo da PEC é combater a impunidade, mas também a morosidade da Justiça. Além da questão dos precatórios, temos que analisar também assuntos como ações previdenciárias. Muitos idosos postulam seus direitos e têm que esperar por décadas”, acrescenta Trad. Segundo o relator da PEC, a comissão especial está dividida quanto à extensão da segunda instância para ações além das penais. “E essa divisão não é entre direita e esquerda. Está tudo completamente misturado”, garante.
Entre as autoridades que devem ser ouvidas no debate sobre a PEC, estão ministros do Supremo e do Superior Tribunal de Justiça, juristas, defensores públicos e o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
Eduardo
2019-12-16 19:48:32Tá bom, tudo isso é muito importante mas, enquanto se discute a PEC, vota logo o PL do Senado.
GIL
2019-12-16 18:04:51Pura enrolação.
Elcir
2019-12-16 17:55:25Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Eliomar
2019-12-16 17:42:33Sou totalmente favorável a extensão as áreas cíveis também porque o cidadão tem que pagar suas dúvidas com o estado e o estado fica desobrigado a cumprir a sua parte? A lei tem que valer para todos.
Rômulo
2019-12-16 16:52:37🇧🇷 Na revolução francesa houve a queda da bastilha e da monarquia, temos que fechar o congresso dissolver o STF e dar autonomia jurídica e financeira aos estados. 🇧🇷 Se necessário a força, temos que nos libertar de Brasília que mantém o Brasil refém.
SERGIO
2019-12-16 16:41:45Isso é enrolação. A PEC trata da prisão em segunda instância, não de execução de sentença. E fora uma ou duas exceções, prisão só existe no direito criminal.
José
2019-12-16 16:41:26Estão buscando motivos para salvar a própria pele e atrasar a votação da PEC da 2° instância. O povo está alerta.
José
2019-12-16 16:12:02Parem de enrrolar o povo é vota logo essa prisão em segunda instância seus políticos safados. O povo aqui embaixo está morrendo.
Leandro
2019-12-16 16:10:34Segunda instância precisa valer para todas as áreas, não só a criminal. Segunda instância valeria para botar alguém na cadeia, mas não pro Estado pagar suas dívidas? Não faria sentido nenhum. Inclusive seria bom diminuir a chicana de outros devedores também.
Roberto
2019-12-16 16:04:24É vergonhoso para todos nós termos um legislativo que confessa abertamente que o Poder Judiciário Brasileiro integra a República não para compor conflitos e aplicar a justiça, mas sim para servir de instituição procrastinatoria na manutenção do criminoso poderoso em liberdade e o Estado devedor em engavetador de dívidas pagando tão-somente a quem interessa, em proteção aos péssimos gestores.