Rumo à ditadura parlamentar
Depois de usurpar do Executivo o poder de formar maiorias com o uso de emendas, o Centrão quer roubar do STF a última palavra sobre a Constituição.
O apetite do Centrão é incontrolável. Depois de emascular a Presidência, assumindo o controle do orçamento como nunca se viu antes, ele agora quer retirar do Supremo Tribunal Federal a prerrogativa de dar a última palavra sobre a Constituição. Como registrado por O Antagonista, Arthur Lira e seus feiticeiros tramam votar, depois das eleições, uma PEC que permite ao Congresso cassar decisões do Supremo que não sejam unânimes e que, no entender dos parlamentares, “extrapolem os limites constitucionais”.
“Ditadura parlamentar” é uma expressão paradoxal. Como falar em ditadura se o Congresso é marcado pela representação plural - no caso do Brasil, onde 22 partidos compõem o legislativo, até por uma hiperpluralidade? Sob a guarda incompetente de Jair Bolsonaro, no entanto, os presidentes da Câmara e do Senado, manipulando as emendas do relator, conseguiram usurpar do Executivo o poder de formar maiorias (ou comprá-las, como queiram). Tornou-se muito mais fácil para a cúpula do Congresso ameaçar os outros Poderes.
Bolsonaro passou boa parte de seu mandato sob a ameaça velada do impeachment. Deixou-se encabrestar pelo Centrão. Ao contrário do que acontece com o presidente, a ameaça do impeachment não basta para controlar o STF. Ainda que se obtenha o impedimento de um ministro, sobrarão outros dez. A solução idealizada pelo Centrão é atacar diretamente as decisões colegiadas que não sejam do seu agrado, lançando mão de um pretexto arbitrário (a falta de unanimidade) e de uma prerrogativa imaginária (o Congresso não tem o direito constitucional de interpretar a carta e definir os seus limites; só o STF tem essa prerrogativa).
A desculpa do Centrão para tentar esse golpe é “restaurar o equilíbrio entre os Poderes” e deter “o ativismo judicial”. Acontece que esses dois fenômenos não são decorrência direta da maneira como os Poderes estão organizados no Brasil. Suas causas são conjunturais, não estruturais. Não é preciso mexer na Constituição, muito menos dotar o Congresso de um predicado inaudito de revisão constitucional, se tantas polêmicas do STF advém da tagarelice dos ministros ou de um déficit de colegialidade (decisões individuais em excesso). Não é preciso mexer na Constituição se um Congresso mais ativo e menos corporativista já reduziriam bastante a margem de ativismo da Supremo, desobrigando-o de suprir lacunas legais ou de punir parlamentares malandros, cujos casos são sistematicamente esquecidos ou desculpados nas Comissões de Ética.
O Centrão quer revolucionar a doutrina da separação de Poderes que vem prestando bons serviços à democracia desde a ratificação da Constituição dos Estados Unidos, em 1788. Segundo o Estadão, Arthur Lira (PP-AL), Ricardo Barros (PP-PR), Wellington Roberto (PL-PB) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) são os plantadores dessa notável jabuticaba. Talvez tenhamos em nosso Congresso gente muito mais brilhante do que Alexander Hamilton, John Jay e James Madison, que desenharam o sistema de separação de Poderes dos americanos. Talvez tenhamos apenas cínicos e espertalhões, querendo fazer chantagem.
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Comentários (10)
JOEL
2022-06-18 15:03:15É uma utopia imaginarmos o congresso criar leis, sobretudo prisão em 2ª instância pra com isto colocarem na cadeia no mínimo uma metade dos seus componentes atual que se acha com uma folha corrida de processos nas costas maior que muitos delinquentes do PCC e outros comandos. Nós é que temos a obrigação de enquanto eleitores, os expurgarmos da vida pblica pra sempre pela via democrática, via não voto nestes canalhas.
Maria
2022-06-16 15:09:30Alagoanos nao votem nesse ban di do gan gster do Lira em outubro. É pela salvação do Brasil.
Ricardo
2022-06-16 10:19:28o STF precisa de um freio. Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes fazem o que querem
Nildo Jose Formigheri
2022-06-16 09:31:20O STF tem se manifestados em decisões pela omissão do congresso e pelo protecionismo aos seus membros. A intervenção do STF se faz necessária por solicitação dos próprios congressistas.
Oráculo de Delfos
2022-06-16 01:06:11Caso Eduardo Cunha seja eleito, em janeiro ele volta à presidência da câmara e a turma do PT vai ter que comer na mão dele. Se o minto vencer ele o mantém como bobo da corte. Caso o vencedor seja o molusco, em dois tempos ele tira o Larapio com xuxu e tudo e assume ele mesmo a PR. O mais tragicômico é que (se eleito...) nada poderá impedi-lo.
Vasconcellos
2022-06-15 19:04:53Muito lúcida essa descrição da "ditadura do Congresso". Os ratos estão cada vez mais ativos. Mais chantagistas. A vergonhosa pobreza no Brasil não faz parte da preocupação desses bandidos. Somente se importam mesmo em se fixar no poder para, assim, roubarem mais e mais. Eles não entendem outro mundo que não seja esse. Usam o Sistema para perverterem o Sistema.
MCG
2022-06-15 19:01:51Mas o Congresso pode tomar decisões que anulem as do STF. É só fazer as leis. Por exemplo: bastava o Congresso sancionar a lei de prisão em 2ª instância que a decisão do STF ia por água abaixo. Mas os deputados não quiseram meter a mão na cumbuca. Não passam de oportunistas que só querem levar vantagem em tudo. Pobre de nós!!!
MARCOS
2022-06-15 16:34:10PICARETAS.
PAULO PEREIRA GONTIJO
2022-06-15 14:59:06A culpa de tudo isso, é única e exclusivamente do stf. Ao tomar medidas políticas como tem feito, criou um embate e vai sair perdendo. O próximo passo é acabar com a pec da bengala, aposenta-se com 70 anos e fim de papo. O stf engaveta processos de amigos, como já ocorreu não de agora mas sempre houve e libera os processos dos fora de seus interesses. A canetada feita pelo fachin, anulando o processo contra o amigo lula, acabou de vez com a credibilidade do stf. Quem perde com isso somos nos.
Sônia
2022-06-15 14:31:09maldito ,corrupto safado! o inferno te espera com a fornalha acesa