Quem matou o pianista de Vinicius de Moraes?
Tenório Cerqueira Jr. estava em Buenos Aires para shows e saiu para comprar alguma coisa durante a ditadura da Argentina. Nunca mais voltou
O pianista Tenório Cerqueira Jr. (foto), reconhecido no mundo do jazz, deixou o hotel Normandie, em Buenos Aires para comprar alguma coisa em 18 de março de 1976, durante a ditadura militar argentina.
Ele esva em uma turnê internacional com os músicos Vinicius de Moraes e Toquinho.
Segundo o livro Vinicius Portenho, de Liana Wenner, alguns dizem que ele tinha saído para comprar aspirina. Outros, sanduíche. Outros, maconha.
Da caminhada, Tenório Jr. nunca mais voltou.
"Na esquina com a Rodriguez Peña, colocaram-no em um Falcon sem placa. Dali, foi levado à delegacia da rua Lavalle e depois (e definitivamente) à Escola de Mecânica da Marinha", escreve Liana em seu livro.
Tenório Jr. era casado, tinha quatro filhos e aguardava a chegada de um quinto.
Na terça, 23, o 4º Ofício do Gama, no Distrito Federal, emitiu a certidão de óbito de Tenório Jr., a pedido da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
O corpo do pianista só foi identificado em setembro deste ano, por meio de exames de impressões digitais realizados com apoio da Justiça argentina e da Embaixada do Brasil.
No item "causa da morte", o atestado coloca a culpa no Estado brasileiro, e não na ditadura argentina: "Não natural violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964 [no Brasil]".
Segundo as últimas informações, Tenório foi assassinado com cinco tiros e seu corpo foi jogado em um terreno baldio.
Em seguida, ele foi enterrado em um cemitério em Tigre, que fica a uma hora de Buenos Aires.
Como Tenório Jr. não tinha qualquer participação na política, sempre pairou uma dúvida sobre quais teriam sido os motivos para sua execução.
Em seu livro, Liana Wenner entrevista Eric Nepomuceno, jornalista que estava exilado em Buenos Aires e conhecia Tenório Jr.
Diz Nepomuceno na obra: "A verdade é que, antes mesmo de ser identificado, ele foi levado pelo jeito como estava vestido. Vinicius ia para a embaixada brasileira em Buenos Aires e voltava muito frustrado. O que iam dizer para ele? Ele estava chorando muito na catacumba errada".
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