Quem é Ginni Thomas, e como ela ajuda a entender os "power couples" da Justiça brasileira
Os "power couples" da Justiça, em que a esposa de um ministro no STF segue atuando como advogada, não são uma exclusividade nossa. Nos Estados Unidos, uma das maiores preocupações é como limitar a ação de Virginia "Ginni" Thomas (foto), esposa do juiz da Suprema Corte Clarence Thomas. Ginni é advogada, mas não exerce a...
Os "power couples" da Justiça, em que a esposa de um ministro no STF segue atuando como advogada, não são uma exclusividade nossa. Nos Estados Unidos, uma das maiores preocupações é como limitar a ação de Virginia "Ginni" Thomas (foto), esposa do juiz da Suprema Corte Clarence Thomas.
Ginni é advogada, mas não exerce a profissão. Ela é lobista, figurinha carimbada junto a fundações de viés conservador e organizações ligadas ao partido Republicano. A atuação de lobistas é muito bem regulamentada pelo Congresso americano, mas pairam dúvidas sobre a influência dela sobre o voto conservador do ministro da Suprema Corte, com quem ela divide residência desde 1987.
Além disso, explica o professor de direito constitucional da Universidade Federal Fluminense (UFF) Cássio Casagrande, a regulamentação sobre o lobby não vale para a mais alta corte dos Estados Unidos. "Lá há a tradição do juiz se declarar suspeito se a causa envolver aspectos particulares da sua vida", diz Casagrande.
Como se trata de uma questão de foro íntimo, fica difícil cobrar que Thomas ou qualquer outro ministro que tenha sido influenciado por Ginni se declare suspeito. Ela esteve politicamente ligada a mais da metade das partes que atuaram na ação que tirou os direitos nacionais ao aborto no ano passado — e nem por isso seu marido ou algum dos ministros deixou de opinar.
Leia na CRUSOÉ: Os casais poderosos do STF
O problema escalou de tamanho quando descobriu-se que Ginni estava em Washington durante a invasão do Capitólio, em 6 de Janeiro de 2021, apoiando a insurreição. Quando questionada sobre o tema por uma comissão do Congresso sobre sua participação, ela defendeu, sem provas, a tese que a vitória de Joe Biden contra Donald Trump havia sido uma fraude.
Neste ano, a bomba estourou no colo do próprio Clarence: uma longa investigação do site ProPublica descobriu que o juiz viajou em iates, jatinhos e se hospedou em uma vila privada de um investidor republicano, Harlan Crow. Nas fotos quando as famílias viajaram à Indonésia, o empresário aparece ao lado de um sorridente juiz e de uma ainda mais sorridente Ginni Thomas.
O legislativo do país até começou a atuar: após mais este escândalo, em abril deste ano, o Senado convidou o presidente da Suprema Corte, John Roberts, para debater a ética no Judiciário. Ele recusou a agenda, alegando que as suas aparições na Casa têm de ser extremamente raras, dada a separação dos poderes e a "importância de preservar a independência judicial".
"Essa situação é um pouco inusitada até para os padrões americanos", diz Casagrande, que é um especialista no Judiciário americano. "Ela [Ginni] tem trabalhado para ONGs e fundações — e ganhado muito dinheiro justamente por ser esposa do Clarence Thomas."
Leia na CRUSOÉ: Suprema Corte dos EUA derruba cotas raciais em universidades
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)