Por que o Acordo UE-Mercosul foi finalmente assinado
"Este acordo é mais estratégico para os europeus que para os latino-americanos", diz Thiago Vidal, da Prospectiva
Passaram-se 25 anos para que o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul fosse finalmente fechado nesta sexta, 6 de dezembro.
O momento da conclusão não é por acaso.
Em primeiro lugar, países da União Europeia estão preocupados com uma provável imposição de tarifas pelo presidente eleito americano Donald Trump, que assumirá em 20 de janeiro do próximo ano.
"Ao assinar um acordo com o Mercosul, as empresas industriais europeias esperam vender seus produtos para os milhões de habitantes do Mercosul", diz Thiago Vidal, diretor de análise política da Prospectiva. "Arrisco dizer que o acordo é mais estratégico para os europeus que para os latino-americanos."
São 273 milhões de consumidores nos três países: o Brasil de Lula, a Argentina de Javier Milei, o Paraguai de Santiago Peña e o Uruguai de Luis Lacalle Pou (na foto, eles posam com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen).
Rússia e China
"Além disso, a invasão da Ucrânia deixou muito claro que a Europa errou ao se tornar muito dependente da Rússia, particularmente na questão da energia. O Brasil e outros países da América Latina então aparecem como uma alternativa porque têm um potencial muito grande em energias renováveis e hidrogênio verde", diz Vidal.
Outra ameaça sentida pelos europeus é o fator China.
O país asiático tem tomado muito mercado de produtos europeus nos últimos anos.
"Os chineses ainda têm a capacidade de fechar a cadeia industrial completa, desde a produção barata de matérias-primas até o acabamento do produto final, o que tem preocupado principalmente os alemães", diz Vidal.
Todos esses fatores têm levado a uma estagnaçaõ da economia europeia.
As projeções de crescimento para os próximos anos, segundo o FMI, ficam em torno de 1% ao ano.
Por fim, é preciso levar em conta a chegada do presidente Javier Milei à Casa Rosada. Embora não goste do Mercosul, Milei é um entusiasta do livre comércio.
Prazo
A finalização do acordo não será para agora.
"Dificilmente vamos ver o acordo pronto no curto ou no médio prazo. O texto ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos dos países dos dois blocos. E provavelmente haverá resistência na Polônia, na França, na Holanda, na Áustria e eventualmente na Itália. Provavelmente, teremos o acordo implementado nos próximos dez anos", diz Thiago Vidal.
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, o livre comércio deve ocorrer em até 15 anos do início da vigência do acordo.
"Vale lembrar ainda que é possível que o acordo seja assinado integralmente, aprovado parcialmente ou que o acordo caia", diz.
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