Por que governadores avançam com privatizações, enquanto Lula segue preso no passado
O governo federal excluiu sete empresas do Programa de Desestatização, entre elas EBC, Correios, Dataprev, Serpro e Telebras. O Executivo também reverteu por decreto o Marco do Saneamento, que prometia ampliar o acesso da população à água tratada com a ajuda de investimentos privados. A visão de Lula contrasta com a dos governadores de vários...
O governo federal excluiu sete empresas do Programa de Desestatização, entre elas EBC, Correios, Dataprev, Serpro e Telebras. O Executivo também reverteu por decreto o Marco do Saneamento, que prometia ampliar o acesso da população à água tratada com a ajuda de investimentos privados.
A visão de Lula contrasta com a dos governadores de vários estados, que seguem com seus programas de privatizações. No Paraná, o governador Ratinho Júnior obteve nesta terça, 11, um aval do STF que libera a Companhia Paranaense de Energia Elétrica, Copel, para a privatização. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (foto) assinou nesta segunda, 10, um contrato com uma agência do Banco Mundial para realizar estudos sobre a venda da Sabesp, companhia de saneamento. Em Minas Gerais, Romeu Zema assinou um contrato de concessão do metrô de Belo Horizonte. O mineiro também disse que pretende privatizar a Cemig. No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite deve assinar em maio um contrato que privatiza a Corsan, de saneamento básico.
Crusoé conversou com o cientista político Paulo Kramer, professor aposentado da Universidade de Brasília, para entender por que governadores estão indo na contramão de Lula. Segue a entrevista:
Por que governadores querem privatizar empresas enquanto Lula quer evitar que isso aconteça?
O lulopetismo é o último e mais vicioso avatar do patrimonialismo brasileiro, que confere prioridade absoluta ao controle político da economia mesmo contra qualquer outra consideração de eficiência, equilíbrio fiscal, interesse da população etc. O patrimonialismo lulopetista só tolera conviver com o capital privado e o mercado se e enquanto esses se provem úteis ao projeto de poder. É o caso, por exemplo, da política industrial que prestigia os tais “campeões nacionais”, beneficiando os empresários com créditos, subsídios, barreiras tarifárias ou não tarifárias em troca de recursos, sob a forma de financiamento de campanha, entre outras "contribuições".
Sempre foi assim?
Há muito tempo, desde as derrotas sofridas nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, as cabeças pensantes do lulopetismo compreenderam que sua preferência número 1 (a implantação de um regime de partido único, como o de Cuba, ou das antigas “democracias populares” do Leste da Europa) jamais vingaria em um país grande e complexo como o Brasil. Por isso, se fixaram na segunda melhor opção: a mexicanização da política brasileira, tendo como modelo o sistema de partido hegemônico que durante 70 anos, de 1929 a 1999, manteve o México sob o comando do Partido Revolucionário Institucional, o PRI, enquanto partidos menores e incapazes de lhe oferecer efetiva oposição gravitavam em torno do governo. Com a mão direita no “diário oficial”, o PRI comprava a aquiescência e a cumplicidade dos empresários. Com a mão esquerda nos sindicatos e movimentos sociais pelegos, o PRI garantia o controle das massas. A privatização, ao conferir maior poder e influência ao mercado, em detrimento do Estado, não pode ser aceita pelo lulopetismo.
Governadores estaduais poderiam se dar ao luxo de seguir uma ideologia estatizante?
Tudo depende do modelo de sociedade e economia que eles defendem. Enquanto o governador Tarcísio de Freitas planeja privatizar a Sabesp, o ministro da Casa Civil e ex-governador Rui Costa não hesita em sabotar o marco do saneamento para obrigar o município de Salvador a assinar com a estatal Embasa. É por essas e outras que, até hoje, metade da população ainda sofre sem saneamento básico.
Tarcísio, Ratinho e Zema precisam mostrar resultados, e por isso não podem seguir ideologias do passado?
A questão é que eles governam estados onde as correntes de opinião pública pró-privatização e antilulopetista são muito fortes. Na Bahia, o mais lulopetista dos estados brasileiros, o destino do marco do saneamento pende por um fio.
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Comentários (7)
ROMEU
2023-04-12 17:56:18O Lula está conseguindo manter essas barbaridades simplesmente em razão da inoperância do Legislativo. Muita gente ainda não percebeu que o PT não passa de um grande sindicato. Na terra de cegos quem tem olho é rei.
HENRIQUE SOLON BRANDAO KNOEDT
2023-04-12 16:27:25É por essas e outras que o lulopetismo faz mal ao Brasil. Sua única vantagem é a de brigar por algumas poucas causas justas o que, nem isso, o maldito capetão fazia. Aí, nosso Brasil.
Manoel
2023-04-12 11:02:41Mais se nóis privatiza tudo aonde vamo impregá os cupanheiros? Aliás uma boa ideia é verificar os currículos das milhares de nomeações e perceber a enorme inadequação com os cargos ocupados. O maior exemplo é o Dilmão Lé sem Cré Rivotril para presidenta do Banco dos BRICS É de matar...
Benjamin Gomes Neto
2023-04-12 10:29:41Gostei muito deste texto. Vale a pena lê-lo até o fim...
Xico Só
2023-04-12 09:38:02Por simples questão de lógica não mais cabe um Estado totalitário em grandes comunidades isto não funcionou nas diversas tentativas todas terminadas em caos ... esmagar uma grande nação só é possível por períodos curtos e que o digam a Rússia comunista que pela força dominou várias nações eslavas e nenhuma delas manteve o regime ... Cuba, Argentina e Venezuela já foram países de primeiro mundo de elevada renda e nível de vida e hoje amargam humilhações a mendigar expulsar seu povo.
ROBERTO DE VASCONCELLOS PEREIRA
2023-04-11 19:14:20Porque os governadores querem privatizar ? Simples! Eles tem poucos recursos para investir e, então, deixarão a iniciativa privada investir por eles. Todos os envolvidos saem ganhando. Já no governo petista somente alguns ganham: os amigos, claro.
Carlos Renato Cardoso Da Costa
2023-04-11 18:03:24É das vantagens no Brasil ser uma federação, ainda há espaço para, nos estados e municípios, não sermos vítimas indefesas de todas as idiotices do governo federal.