Por que fotos do bombardeiro "Enola Gay" estão sob risco de remoção pelo Pentágono?
O nome da aeronave, que remete ao nome da mãe do piloto Paul Tibbets, está agora sendo alvo da censura devido ao significado da palavra "gay" no inglês contemporâneo

Nos Estados Unidos, uma mudança significativa nas normas de linguagem e inclusão está em curso, especialmente entre os setores governamentais.
Sob a administração de Donald Trump houve uma orientação clara para remover referências a programas de diversidade e os termos associados de documentos oficiais.
Essa nova abordagem contrasta com o que era anteriormente considerado uma norma em muitas esferas sociais e profissionais, onde o uso dos pronomes e da linguagem inclusiva era amplamente promovido.
A recente publicação do jornal "New York Times" revelou uma lista de termos que passaram a ser considerados inaceitáveis.
Além de expressões esperadas como "LGBTQ" e "não binário", outros termos como "imigrantes", "vítimas", "deficiência", "sexualidade", "prostitutas" e até mesmo "socioeconômico" foram incluídos na lista.
A proposta é que essas palavras deixem de aparecer em documentos governamentais, gerando preocupação sobre o impacto que essa censura pode ter na representação de diversas comunidades.
Acervo fotográfico
Um exemplo notável dessa nova política é a ação do Pentágono, que está revisando seu vasto acervo fotográfico em busca de imagens que não estejam alinhadas com essa nova diretriz.
O Secretário da Defesa, Pete Hegseth, um crítico fervoroso dos programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), argumenta que tais iniciativas comprometem a eficácia das Forças Armadas.
Como resultado, foi criada uma base de dados contendo 26 mil fotos destinadas à remoção, um número que pode aumentar para 100 mil após a revisão completa das redes sociais.
Aeronave "Enola Gay"
Entre as imagens sob risco, destaca-se a famosa aeronave "Enola Gay", que lançou a primeira bomba atômica sobre Hiroshima em 1945.
O nome da aeronave, que remete ao nome da mãe do piloto Paul Tibbets, está agora sendo alvo da censura devido ao significado da palavra "gay" no inglês contemporâneo.
Apagando a história
Outro caso emblemático envolve os 'Tuskegee Airmen', os primeiros pilotos afro-americanos da Segunda Guerra Mundial. Eles são reconhecidos como heróis por sua contribuição para a dessegregação militar nos Estados Unidos; no entanto, suas imagens históricas também estão ameaçadas de exclusão.
A exclusão não se limita apenas a figuras históricas masculinas ou militares. Fotos e filmes das primeiras mulheres em papéis ativos nas Forças Armadas também estão sendo eliminados.
Isso inclui imagens da Coronel Jeannie Leavitt, primeira mulher piloto de combate da Força Aérea, assim como das primeiras mulheres fuzileiras navais.
Remoções excessivas
No dia 26 de fevereiro, o Pentágono estabeleceu um prazo para que seus funcionários eliminassem todas as imagens consideradas "inadequadas". Caso contrário, seria necessário remover todo conteúdo publicado durante a gestão Biden.
Diante das críticas recebidas sobre as ações relacionadas aos Tuskegee Airmen, a Casa Branca interveio e acusou o Pentágono de seguir as diretrizes de maneira maliciosa.
O porta-voz do Pentágono, John Ullyot, afirmou estar satisfeito com a rápida implementação das novas regras, prometendo correções onde as remoções fossem excessivas.
Reacionarismo contra wokismo
A ironia dessa situação reside no fato de que enquanto os republicanos criticavam anteriormente o que viam como um exagero na correção política promovida por democratas durante o governo Biden, agora eles próprios estão aplicando medidas semelhantes contra o que consideram expressões "woke".
Essa mudança levanta questões sobre liberdade de expressão e sobre como certos grupos tentam controlar a narrativa através da linguagem.
O fenômeno atual assemelha-se ao controle linguístico observado em regimes totalitários ou na distopia apresentada na obra "1984" de George Orwell, onde o governo impõe um novo vocabulário para moldar a percepção pública.
A evolução dessa política cultural nos EUA mostra como espaço para diálogos abertos e diversidade de opiniões pode estar se estreitando sob diferentes pretextos ideológicos.
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