Os reflexos da 'chantagem espacial' da Rússia
Incomodada com as sanções do Ocidente decretadas após a invasão da Ucrânia, a Rússia tem usado a dependência que outros países têm de seu programa espacial para fazer ameaças e tentar abrandar as punições. Em sua conta do Twitter, Dmitry Rogozin, diretor da Agência Espacial Russa, a Roscosmos, fez um pedido no último dia 12...
Incomodada com as sanções do Ocidente decretadas após a invasão da Ucrânia, a Rússia tem usado a dependência que outros países têm de seu programa espacial para fazer ameaças e tentar abrandar as punições.
Em sua conta do Twitter, Dmitry Rogozin, diretor da Agência Espacial Russa, a Roscosmos, fez um pedido no último dia 12 para que as agências espaciais americana, canadense e europeia removessem as "sanções ilegais" contra as empresas russas.
Logo abaixo do texto, ele publicou o mapa-múndi com uma faixa mais escura paralela à Linha do Equador. Apenas dois pequenos pedaços do território russo, ao sul, apareciam dentro dessa área, em vermelho. Acima, o título: "Partes da Rússia que são sobrevoadas pela ISS (Estação Espacial Internacional)".
A mensagem era clara. "A Estação é extremamente dependente da Rússia, porque, se não corrigir a sua órbita, ela irá cair. O que Rogozin estava fazendo é uma ameaça velada", diz Raquel Missagia, professora de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos. No topo de seu perfil, Rogozin estampou a frase "Vidas russas importam".
Outra ameaça ocorreu no dia 2 de março, quando Rogozin publicou um vídeo mostrando funcionários da base de lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, apagando as bandeiras dos Estados Unidos, da França, do Japão, da Coreia do Sul e do Reino Unido que estavam estampadas em um foguete. “Os lançadores de Baikonur decidiram que, sem as bandeiras de alguns países, nosso foguete ficaria mais bonito”, escreveu.
Dois dias depois, a Roscosmos publicou uma mensagem dizendo que todos os lançamentos de foguetes russos seriam interrompidos. O anúncio levantou dúvidas se os russos enviariam uma cápsula para a ISS para trazer de volta o astronauta americano Mark Vande Hei (foto). Seu retorno para a Terra está marcado para o próximo dia 30, quando terá completado 355 em órbita, a bordo da ISS.
Na quarta, 16, a agência russa confirmou o retorno de Vande Hei. Ele descerá com outros dois russos em uma cápsula, que pousará no Cazaquistão. Apesar da confirmação, as disputas siderais entre americanos e russos não devem esfriar.
Em suas contas sociais, Dmitry Rogozin segue elevando a tensão. Sua missão na Roscosmos é muito mais política do que científica. Jornalista que se tornou deputado e vice-primeiro-ministro, ele fundou uma coalizão de partidos nacionalistas, em 2013. No ano seguinte, tornou-se um árduo defensor da invasão russa da península ucraniana da Crimeia. Quatro anos depois, assumiu a direção da Roscosmos.
Rogozin é um ardoroso defensor de Putin e sempre está disposto a desferir golpes baixos contra os inimigos do presidente. Também é um crítico ferrenho do Ocidente, comportamento que em nada condiz com o sentimento de colaboração internacional presente no lançamento da ISS, em 1998.
Ao falar sobre o envio de armas americanas para os ucranianos, Rogozin escreveu: "A elite americana terá que responder pela morte de cada cidadão russo morto por armas americanas".
A chantagem dos russos no espaço, porém, não parece ter alcançado efeito algum. A cooperação entre a agência russa Roscosmos e a americana Nasa segue normalmente, e não há qualquer sinal de que o Ocidente pense em aliviar as sanções.
O impacto deve ocorrer principalmente nos próximos projetos, que poderão ser descartados. Na quinta, 17, a Agência Espacial Europeia, a ESA, anunciou a suspensão de uma missão com a Rússia para enviar um pequeno veículo exploratório para Marte. "Lamentamos profundamente as baixas humanas e as trágicas consequências da agressão à Ucrânia", dizia um comunicado da agência, que buscará outro parceiro. "A ESA está totalmente alinhada com as sanções impostas à Rússia.”
"Muitas cooperações no setor espacial que envolviam a Rússia estão sendo quebradas, o que poderá abrir oportunidades para empresas privadas americanas, como a SpaceX de Elon Musk, ganharem um papel maior nas operações espaciais", diz Raquel Missagia.
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Comentários (5)
Sandro
2022-03-25 15:58:00Fora Putin e toda sua máfia monstruosa!!! Viva a Ucrânia!!!
Odete6
2022-03-20 05:29:33E por falar em russos, """que beleza a """manifestação de """apoio de livre e espontânea pressão""" ao demente""" no estádio moscovita, no mais autêntico estilo petralhada, com bandeirinhas e alegorias padronizadas e homogêneamente distribuídas ao redor do psicopata!!!! E além da """livre e espontânea pressão""" deve ter rolado algo mais.... com certeza não foi mortadela.... deve ter sido strogonoff, né mesmo?!
Odete6
2022-03-20 04:27:57Uma hora dessas o demente, o nojento, o asqueroso vermezinho russo, acerta um meio metro da Polônia ou de outro país da OTAN e leva uma "rosa de Hiroshima" na cabeça!!! Será um pesar pelo povo russo que não quer saber de guerra, será um terror pra todos nós a desgraça planetária que poderá advir mas, fatalmente é o que acontecerá se esse verme não for ""extraído cirúrgicamente"" como foi o bin laden. Embora no caso a complexidade seja muito maior.....(continua).....
Nyco
2022-03-19 12:51:17As agências espaciais ocidentais deverão aprender de uma vez por todas que, parceria com a Rússia é bucha. Qto ao astronauta americano, ele poderá ser facilmente resgatado pela cápsula Dragon da SpaceX que tem capacidade de até 7 tripulantes. Os russos sob Putin, devem ser isolados de qualquer parceria científica com o ocidente.
Ferreira
2022-03-19 12:45:37Volto a perguntar: quanto tempo a Rússia - e o povo russo - (a maioria amedrontada pelas milícias do prócere criminoso de guerra)- vão precisar, em décadas, para recuperar credibilidade internacional?