Os danos comprovados da contestação de resultados eleitorais
No livro Como as Democracias Morrem, que figura na lista dos mais vendidos no Brasil, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt afirmam que "falsas acusações de fraude podem minar a confiança pública em eleições —e, quando cidadãos não confiam no processo eleitoral, muitas vezes perdem a fé na própria democracia". A tese foi adotada sem questionamentos...
No livro Como as Democracias Morrem, que figura na lista dos mais vendidos no Brasil, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt afirmam que "falsas acusações de fraude podem minar a confiança pública em eleições —e, quando cidadãos não confiam no processo eleitoral, muitas vezes perdem a fé na própria democracia".
A tese foi adotada sem questionamentos por muitos que se declaram preocupados com governantes e candidatos de perfil autoritário, que só estariam esperando o momento para destruir as democracias "por dentro".
Mas pesquisas de opinião feitas no Brasil, no México e nos Estados Unidos não mostram uma relação direta entre as coisas. Nesses três países, os ataques de Jair Bolsonaro, Andrés Manuel López Obrador e Donald Trump aos sistemas eleitorais não reduziram a confiança no processo eleitoral quando se olha para toda a população. Isso só acontece quando se olham grupos específicos de eleitores, como os republicanos americanos ou os bolsonaristas, mas sem afetar o resultado geral. Analisando atentamente os dados das pesquisas, daria muito bem para dizer que a aprovação ao sistema eleitoral aumenta após as críticas.
No Brasil, Jair Bolsonaro começou a atacar as urnas eletrônicas (foto) e o sistema eleitoral em setembro de 2018. Desde então, a porcentagem entre os que não confiam na contagem de votos caiu de 54% para 29%, segundo a pesquisa "A cara da democracia", feita pelo Instituto da Democracia. A fatia que acredita no sistema eleitoral, por outro lado, subiu de 30% para 60% — dobrou. Uma possibilidade para explicar isso é que o esforço do TSE em demonstrar sua importância, após os ataques de Bolsonaro, surtiu algum efeito.
Os céticos estão principalmente entre os bolsonaristas mais ferrenhos, que representam 13% do total. Nesse grupo, 37% dizia não confiar na contagem de votos em setembro deste ano, segundo o Instituto da Democracia.
Nos Estados Unidos, a história é muito parecida. Donald Trump acusou fraude nas eleições de 2016 e 2020. Após sua primeira campanha, o número de americanos que acreditavam que os votos seriam corretamente contados subiu de 60% para 70%, segundo o Gallup. Em 2019 voltou a cair, para 59%, ainda em um patamar parecido com o que havia entre 2009 e 2016 (abaixo).
A queda é mais notada quando se olha somente para os republicanos (no gráfico abaixo, em vermelho). No último levantamento do Gallup, do ano passado, só 44% deles acreditavam na contagem. Os republicanos representam 30% da população.
Outro achado é que há uma ligação entre a aprovação ao sistema eleitoral pode subir e a rejeição a essa liderança cresça.
Foi o que aconteceu no México, com o atual presidente Andrés Manuel López Obrador.
Em 2006, ele foi derrotado em sua primeira tentativa de chegar à presidência, após aparecer como favorito nas primeiras pesquisas eleitorais por vários meses. A vantagem de Felipe Calderón, do católico Partido de Ação Nacional, PAN, foi de meio ponto percentual.
Obrador então pediu uma recontagem alegando amplas irregularidades. A estreita margem para Calderón e as críticas constantes ao sistema fizeram com que a aprovação do órgão eleitoral, o IFE, caísse para cerca de 48%, segundo o instituto de pesquisas Parametría, na Cidade do México.
Mas depois a aprovação do IFE foi se recuperando até alcançar 64% em 2012. Esse aumento pode estar relacionado à radicalização de Obrador. Em 2006, ele fez diversos protestos na Cidade do México e paralisou a cidade por meses. Obrador se autoproclamou como “presidente legítimo”, vestiu uma faixa com as cores da bandeira do país e nomeou um gabinete. Mas nenhuma evidência de manipulação em massa foi encontrada.
"Para que a credibilidade do sistema eleitoral seja afetada é preciso que um líder muito popular seja derrotado em uma eleição acirrada. Com isso, uma grande parcela da população concordará com ele que houve fraude. Mas o efeito pode se dissipar, a depender da reputação desse político nos meses e anos seguintes", diz Francisco Abundis, diretor da Parametría. "Quando alguém com imagem negativa fala mal de uma instituição, o que acontece no final é que essa instituição pode acabar se beneficiando."
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Comentários (3)
Amaury G Feitosa
2022-10-30 09:06:59Quem mata a democracia é quem deveria ser o equilíbrio do Estado mas se prestou a puxadinho da quadrilha PeTralha uma dura verdade ... uma suprema corte que tutela o Estado e se tornou curadora da nação atônita mostra com clareza o que é um apêndice ativista infecto nociva a um regime republicano ... o grande erro dos poderes violados desde 2020 foi não utilizarem o Art 142 da CF a saída institucional na crise mas a omissão dos poderes violados podem nos levar ao caos ... que Zeus nos proteja.
NESTOR
2022-10-29 19:24:02Só um idiota pode achar possível alguém "roubar" 3 ou 4milhões de votos nas urnas eletrônicas....Se cada urna recebe em média 500 votos, imaginem o que teria de ser feito para fraudar tantas urnas sem ninguém perceber...rsss
PAULO JOSE DE SOUZA MEIRELES
2022-10-28 18:31:13Bolsonaro fez muito mal ao Brasil. Como cidadãos, sempre discutimos política no campo da política. Quando um mau-caráter e imoral, que é o caso do Bolsonaro, contamina a política com a religião e a moralidade, a convivência entre as pessoas fica comprometida. Afastados dos sensatos, os bolsonaristas ficam cada vez mais lunáticos e extremados. Isso é um risco para a segurança de todos. Então temos a nova cruzada: "Cristãos" bolsonaristas contra todos os demais, inclusive cristãos. Lula 13