O perigoso revisionismo histórico de Eduardo Bolsonaro
Com PT e bolsonarismo se revezando no poder, Brasil corre risco de ter Viktor Orbán ensinando história e a ditadura cubana regulando as redes

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (foto) divulgou um vídeo nas redes sociais com um revisionismo da história do Brasil, em que períodos autoritários são relativizados e todas as fases são vistas por uma ótica positiva, ou "nacionalista".
No domingo, 1º, o filho caçula de Jair Bolsonaro, Renan, compartilhou o vídeo do irmão nas redes sociais.
Além dele, vários aduladores do ditador russo Vladimir Putin aplaudiram a mensagem.
Não há qualquer estranhamento nisso.
Putin tem usado a mesma tática na Rússia. E Viktor Orbán, na Hungria.
História putinista
No revisionismo histórico russo, há lições edificantes para tirar até nos períodos históricos mais cruéis, em que tiranos mataram milhões de civis.
Ao longo dos 25 anos sob Vladimir Putin, 108 monumentos a Josef Stalin foram erguidos na Rússia.
Hoje, há uma estátua do tirano responsável pela morte de mais de 10 milhões de pessoas no metrô de Moscou.
O aeroporto de Volgogrado foi rebatizado para Stalingrado em maio, por ordens de Putin.
Eduardo Bolsonaro
No vídeo de Eduardo, ele pede para que todos os períodos da história brasileira sejam vistos sem um "sentimento derrotista", em nome de uma "união nacional".
"Mesmo em momentos difíceis, houve grandeza", diz Eduardo.
Então, como uma Pollyana histórica, ele parte para elogiar vários momentos do Brasil.
O desrespeito às liberdades e violações aos direitos humanos, segundo ele, devem ser contrapostos a avanços em infraestrutura e desenvolvimento econômico.
"Getúlio Vargas, por exemplo, ele liderou um governo que não teve as liberdades plenas. É verdade. Mas é inegável também que houve avanços na nossa indústria, a intenção de valorizar o trabalhador e também investimentos em infraestrutura", disse Eduardo.
Como no revisionismo de Putin e seu filósofo Alexander Dugin, bandeiras de esquerda, como as reformas sociais, são incorporadas às da direita em nome do tom patriótico.
Até João Goulart
Eduardo fala bem até do governo de João Goulart, que não trouxe nada de proveitoso para o país, além de instabilidade política — o que levou ao golpe de Estado de 1964.
"Podemos concordar ou discurdar das suas propostas — eu certamente não sou um fã dele — mas é injusto negar que muitas delas nasciam com a intenção de dar respostas aos anseios populares", disse Eduardo.
A ditadura militar também não ficou de fora.
"Assim como falar do período militar, não dá para dizer que tudo ali foi trevas. Até houve autoritarismo. Mas ali existiram investimentos em infraestrutura que sustentam o Brasil até hoje", disse o deputado licenciado.
Professor Viktor Orbán
No final do vídeo, Eduardo ainda faz um elogio ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.
"Se tem algo que eu aprendi nas minhas andanças pelo mundo, foi com o líder conservador mais longevo da atualidade: Viktor Orbán", disse Eduardo, que destaca uma qualidade interessante para explicar essa admiração pelo húngaro.
"Quinze anos no poder", diz ele, sobre Orbán. "Tenha aliados. E foque naquilo que convergem."
Após mudar a Constituição, em 2011, Orbán passou a ter controle quase total da imprensa, das manifestações culturais, das universidades e do Judiciário.
Nova Resistência
O dirigente da associação paramilitar neofascita pró-Putin Nova Resistência (NR), Raphael Machado, adorou o vídeo de Eduardo.
"Excelente discurso, alinhado à NR, toca em todos os pontos certos e é um discurso mais maduro do que 99% daquilo que é repetido inclusive nos meios nacionalistas/dissidentes brasileiros, devorados por sectarismos irracionais", escreveu Raphael.
Com o PT e o bolsonarismo se revezando no poder, o Brasil corre o risco de ter Viktor Orbán ensinando história brasileira e um membro da ditadura cubana regulando as redes sociais.
Os brasileiros liberais, tanto os de direita quanto os de esquerda, deveriam prestar atenção.
Leia em Crusoé: 100 dólares por um texto pró-Putin
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Comentários (1)
Joaquim Arino Durán
2025-06-02 11:45:14Defenestrar os dois populistas.