O dilema dos cristãos na Síria
Fiéis vivem a incerteza diante do grupo terrorista HTS, mas, ao mesmo tempo, alimentam o desejo de serem incorporados ao país

Milícias favoráveis ao ex-ditador sírio Bashar Assad iniciaram uma ofensiva contra as forças do atual governo, ligado ao grupo terrorista Ha'yat Tharir al-Sham (HTS), na quarta-feira, 4 de março.
Combatentes leais ao antigo regime fizeram uma emboscada contra integrantes das forças militares, resultando na morte de 13 pessoas.
Em forte resposta, as autoridades promoveram um massacre contra a minoria alauíta, grupo étnico ao qual Assad e sua família faziam parte.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, quase mil pessoas foram mortas, a maioria delas alauítas.
Nas redes sociais, centenas de vídeos mostravam cenas de terror contra cristãos (foto).
Nem todos os vídeos, porém, eram recentes e se tratavam desse último conflito.
Segundo o correspondente da ONG Portas Abertas no Oriente Médio, Matthew Burns, foram registradas cinco mortes de pessoas cristãs.
Uma delas era um idoso que serviu ao Exército durante o antigo regime.
Dilema
Após três meses do novo governo, os cristãos sírios pleiteiam ser incorporados oficialmente à "Nova Síria", enquanto as igrejas seguiram funcionando.
No entanto, há um clima de incerteza e receio de possíveis represálias por parte do grupo terrorista HTS, cujos membros compõem o governo.
"Existe um sentimento de esperança dos cristãos fazerem parte da nova Síria e, ao mesmo tempo, um medo de serem perseguidos. O que os cristãos pedem é oração. Eles pedem por proteção", afirma Burns.
Durante a ditadura de Assad, os cristãos se aproximaram do governo e por isso não sofreram violações de direitos humanos.
Legitimidade
As novas autoridades da Síria, que assumiram o poder após tomar militarmente Damasco, têm pregado o discurso de unidade nacional na tentativa de se descolar do status de grupo terrorista, por serem uma dissidência da Al-Qaeda.
No nordeste do país, as Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos, assinaram um acordo histórico de incorporação civil e militar.
Com isso, os curdos farão parte do Exército sírio.
Enquanto isso, o presidente Ahmed al-Sharaa, que antes era conhecido pelo antigo nome de Jolani, criou o rascunho oficial da nova declaração Constitucional, que foi prometida aos pares internacionais.
Refugiados
Antes da Guerra Civil Síria de 2011, havia cerca de 1,8 milhão de cristãos no país.
Durante o conflito, os terroristas do Estado Islâmico (Isis) atacaram várias comunidades cristãs, destruíram igrejas e sequestraram fiéis.
Com medo, a maioria dos cristãos buscou refúgio no exterior.
Atualmente, existem cerca de 575 mil cristãos na Síria.
Desta vez, os mais novos querem sair. Eles não desejam fazer parte do Exército local.
Para entrar na polícia, os jovens precisam estudar a sharia, que é a lei islâmica.
"Eles têm medo", diz Burns.
Por professarem outra fé, preferem deixar o país.
Mudança de costumes
Nos últimos três meses, ocorreu uma mudança radical nos costumes na Síria.
Sob um governo jihadista islâmico, os direitos das mulheres têm sido cerceados.
Nas ruas, as mulheres precisam andar com o cabelo completamente coberto.
Além disso, mulheres têm sido proibidas de compartilhar o mesmo ambiente com os homens, como universidades e academias de ginástica.
"Na universidade de Aleppo e em academias, as mulheres agora entram em portas diferentes dos homens. São indicativos de que as coisas estão mudando", afirma Burns.
Leia mais: "Homs, o retrato da complexidade síria"
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