O delivery de propina da JBS para Renan
Agentes do Serviço de Inquéritos Especiais da Polícia Federal que atuam nas investigações sobre o senador Renan Calheiros (foto) no Supremo Tribunal Federal se depararam com uma nova frente de apuração, que promete dar dor de cabeça ao parlamentar do MDB de Alagoas. Foi aberta por Durval Rodrigues da Costa, servidor público de 67 anos...
Agentes do Serviço de Inquéritos Especiais da Polícia Federal que atuam nas investigações sobre o senador Renan Calheiros (foto) no Supremo Tribunal Federal se depararam com uma nova frente de apuração, que promete dar dor de cabeça ao parlamentar do MDB de Alagoas. Foi aberta por Durval Rodrigues da Costa, servidor público de 67 anos e amigo de longa data do ex-diretor da J&F e delator Ricardo Saud.
Durval não fechou nenhum acordo de colaboração, ao contrário de Saud. Ainda assim, ao depor na sede da Polícia Federal em Brasília no dia 31 de maio, apresentou um detalhado relato sobre a complexa operação logística para entregar 3,8 milhões de reais em propinas ao então presidente do Senado, ao longo de duas semanas, às vésperas das eleições de 2014. O relato inclui viagens entre capitais em cinco carros diferentes, contatos por meio de um aparelho celular pré-pago e malas de dinheiro buscadas em quatro endereços diferentes, entregues para o filho de um funcionário de confiança do gabinete de Renan.
A relação de confiança entre Saud e Durval já havia sido citada pelo ex-executivo da JBS em sua colaboração e Durval confirmou à PF e deu mais detalhes. Eles se conheceram ainda na década de 1990 e Durval chegou a convidar Saud para ocupar um cargo no Estado de Minas em 1999. Naquela época, Durval era chefe de gabinete do então secretário estadual de Meio Ambiente. Logo após o convite, Saud foi nomeado presidente da Companhia de Armazéns e Silos de Minas Gerais. As trocas de favores e ajuda mútua entre os dois se seguiram ao longo dos anos. Foi graças a essa relação de confiança que Saud procurou Durval em 2014 para pedir um “favor” que anos mais tarde seria revelado.
O servidor informou que a operação começou quando Saud o procurou entre agosto e setembro de 2014 com um pedido de ajuda. Durval buscou o amigo no aeroporto de Brasília e ambos foram à residência oficial da Presidência do Senado. Lá, o executivo da JBS se reuniu a portas fechadas com Renan, enquanto ele aguardou em uma sala separada. Após a reunião, os três almoçaram na residência oficial e, ao final da refeição, Saud disse Renan que Durval era de sua confiança e “estaria pronto para executar o que havia sido combinado”.
Durval chegou a indagar o executivo da JBS sobre qual seria esse "combinado", mas Saud disse que explicaria depois. Na ocasião, o servidor ficou com a impressão que se tratava de algum serviço para a campanha eleitoral, já que Saud lhe passou o telefone do publicitário André Gustavo Vieira e indicou que o assunto seria tratado com ele. Vieira já foi condenado pela Lava Jato em Curitiba por atuar como operador de propinas para o ex-presidente da Petrobrás Aldemir Bendine, e aparece em outras investigações como suspeito de operar pagamentos a políticos.
Dias após o almoço na residência oficial do presidente do Senado, Saud voltou a procurar Durval e pediu que ele fosse para o Recife se encontrar com André Gustavo. No mesmo dia, o colega de Saud pegou um voo e foi se encontrar com o publicitário em um apartamento na praia de Boa Viagem, área nobre do Recife.
Chegando lá, se deparou com André Gustavo e outros dois homens, cujos nomes ele disse à PF não se recordar. No encontro, foi informado de que precisaria fazer várias viagens para entregar 4 milhões de reais para Renan em Maceió. Na primeira, realizada naquele mesmo dia, foram 600 mil reais. Ele e o publicitário, então, deixaram o apartamento e entraram em um carro com um dos aliados de André Gustavo. O outro homem que estava com o grupo entrou em outro veículo, onde estava a mala com o dinheiro. Eles rodaram por algumas quadras na capital pernambucana, até que Durval trocou de veículo. A partir daí, ele foi deixado no aeroporto do Recife e, de lá, seguiu para Maceió de taxi.
Durval contou que se hospedou no apartamento 212 do Hotel Ibis na praia de Pajuçara, um dos pontos nobres de Maceió. No dia seguinte, ele recebeu um telefone de José Aparecido Diniz, ex-assessor do governador de Alagoas Renan Filho, que foi até o hotel checar os valores e avisou que seria necessário ter alguém da confiança de Renan para entrar na garagem do prédio do parlamentar. Eles aguardaram a chegada de Ricardo Santa Ritta, filho do chefe do escritório político de Renan em Alagoas, Carlos Santa Ritta, e apontado por Durval como o motorista do senador.
Diniz e Santa Ritta deixaram o hotel com a mala e Durval aguardou no Ibis por dois dias, até receber um novo telefonema de André Gustavo, solicitando que ele voltasse ao Recife para buscar mais uma mala de dinheiro com um de seus homens. No dia seguinte, Durval voltou para a capital pernambucana de táxi, se encontrou com o homem da mala (desta vez com 800 mil reais) no aeroporto, e de lá, retornou no mesmo táxi para o apartamento 212 do Ibis em Maceió. No mesmo dia, Santa Ritta foi ao local pegar a mala e levar para Renan. A partir daquela entrega, eles acertaram que Santa Rita iria fazer as próximas viagens com Durval para buscar os recursos em Recife.
Por mais três vezes, com Santa Ritta e Durval viajando de carro até Recife para buscar os valores e o motorista de Renan posteriormente entregando as malas para o senador, segundo Durval. A operação durou pouco mais de uma semana, com Durval pagando suas diárias em dinheiro e usando um celular pré-pago para se comunicar com os outros envolvidos, e Santa Ritta utilizando um carro diferente a cada viagem. Para garantir que Durval estava se referindo de fato a Diniz e a Santa Ritta em seu relato, a Polícia Federal mostrou ao depoente várias fotos de rostos de pessoas semelhantes, sem identificar nomes. Ao se deparar com elas, Durval identificou os dois prepostos do parlamentar.
A propina para Renan paga pela JBS fazia parte de um acerto com o PT para que a bancada do PMDB apoiasse a chapa de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais daquele ano. De posse das novas informações, a PF pediu mais 60 dias para avançar nas investigações e confirmar, por exemplo, as visitas de Saud e seu amigo à residência oficial do Senado. Procurada, a defesa de Renan ainda não se manifestou sobre o depoimento de Durval.
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Comentários (10)
IZAQUE
2019-10-22 20:43:00Renan ainda está se criando porque aqui é nordeste, antro dos burros.
RAFAEL
2019-06-30 12:24:00Esse aí que subiu no palanque junto com o Haddad né? agradeço a Deus todos os dias pela derrota do PT
LRS
2019-06-29 12:43:42Por que isto está sendo tão pouco divulgado? Renan consegue ficar invisível quando quer. Vejo pessoas falarem mal dele desde da década de 80 e ninguém dá a devida atenção quando sai uma notícia desta?
Robson
2019-06-28 12:44:53É, democraticamente, impossível aprovar qualquer dispositivo legal para acabar com o foro privilegiado no Brasil que, a exceção do executivo, é governado por bandidos. Volto a bater na tecla (142) de que sem o fechamento de congresso e do stf o país é ingovernável. A partir de agora, nos meus comentários, passarei a utilizar somente letras minúsculas quando me referir ao congresso e ao supremo tribunal federal por manter em seus quadros elementos desqualificados.
Hélio
2019-06-28 11:30:38Não consigo entender porque o RENAN continua solto e, mais ainda, dando ordens no Senado. Só vejo uma razão: rabo preso de seus pares e de Ministros do STF.
Gilmar
2019-06-28 09:29:45Renan Calheiros deve ter gente graúda comendo na sua mão, do contrário já estaria na cadeia, não é possível tanta roubalheira sem punição.
FRANCISCO
2019-06-28 01:17:47Renan sua hora de ir para trás das grades está chegando. STF , a Lava Jato chegará até vocês! Não adianta fazer nada o povo brasileiro está com Moro e Bolsonaro.
Carlos
2019-06-27 22:22:11Como podem políticos investigados/citados em Delação Premiada/réus votarem Lei de Abuso de Autoridade? Falta de moralidade?
JOSE
2019-06-27 21:10:16Um jornalista meu amigo disse há dois anos que a corrupção na Petrobras era a terceira em tamanho e potência de corrupção, seguida do Denit. A primeira seria o BNDES, com poder de corrupção nos três Poderes. A PF está abrindo as portas do banco estatal e o Legislativo e Judiciário estão lutando para deixá-las fechadas. Com certeza, tem muita gente tomando Rivotril pra dormir !!!!
LuisR
2019-06-27 21:09:15Com certeza a hora desse calhorda, larápio irá chegar. Quero que morra na masmorra comido por vermes