O climão de Janja na China
Primeira-dama reclamou dos conteúdos de "extrema-direita" no TikTok, mas ninguém vai ensinar a China sobre como censurar a internet

A primeira-dama Janja causou um "climão" ao pegar o microfone e criticar o aplicativo TikTok durante um encontro entre o presidente chinês Xi Jinping e a delegação brasileira em Pequim.
De acordo com o blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, Janja teria pedido a palavra para falar dos efeitos nocivos da rede social TikTok.
Para Janja, o algoritmo favorece o avanço da extrema-direita.
Ligação com Partido Comunista
O constrangimento se deu por vários motivos.
Primeiro, ao reclamar de uma empresa privada diretamente ao ditador chinês, Janja insinua que há uma ligação entre o Tik Tok e o Partido Comunista da China.
Foi justamente a suspeita de que a empresa é obrigada a compartilhar informações com o governo comunista que suscitou uma ação no Congresso americano para bloquear a rede social nos Estados Unidos.
Em abril, o presidente Donald Trump deu um prazo de 75 dias para o TikTok se adequar a uma lei recém-aprovada, que obriga o TikTok a vender sua operação no país.
Segundo Andréia Sadi, o ditador chinês teria se saído pela tangente, dizendo que "o Brasil tem legitimidade para regular e até banir, se quiser, a plataforma".
Além disso, Janja não se deu conta de que estava reclamando do "avanço da extrema-direita" para um ditador comunista, de esquerda.
Obviamente, Xi reprova esse tipo de conteúdo, mas o algoritmo funciona de um jeito diferente.
"Algoritmos são otimizados para potencializar publicações de tipos que apresentam grande volume e que recebem interesse dos usuários, geralmente isso independe de viés político", diz Marianne Batista, cientista política especializada em moderação de conteúdo e inteligência artificial generativa.
"Enquanto a esquerda fala que as redes impulsionam conteúdos de direita, a direita fala que as redes censuram mais conteúdos de direita que de esquerda", diz Marianne.
Aula de censura
Mas o mais absurdo da fala de Janja é pedir uma intervenção oficial para controlar os conteúdos publicados pelas pessoas, sendo que a China é o país que mais censura a internet no mundo.
Não dá para ensinar o padre a rezar a missa, assim como não há como ensinar Xi Jinping a censurar a internet.
Aliás, o TikTok existe na China em um modelo totalmente diferente.
Por lá, o TikTok é operado por aplicativo separado, o Douyin, também da ByteDance.
O Douyin é adaptado para o mercado chinês, com conteúdo regulado conforme as leis locais de censura.
Janja segue a mesma toada do governo federal e do Supremo Tribunal Federal, ao entender que as redes sociais devem ser controladas para evitar o avanço da "extrema-direita" e de conteúdos "antidemocráticos".
Mas a verdade é que ninguém vai ensinar a China sobre como fazer censura na internet.
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