Ninguém escreve para Bashar Assad
O ditador deposto da Síria ficou sem amigos e vive um fim melancólico em Moscou. Daria até um romance de Gabriel García Márquez
O ditador deposto da Síria, Bashar Assad (foto), divulgou nesta segunda, 16, um pronunciamento sobre as circunstâncias que o levaram a deixar seu país no domingo, 8.
Na mensagem de apenas uma página, Assad tenta passar a ideia de que ficou ao lado do seu povo até o último minuto, enquanto terroristas avançavam na direção de Damasco e as forças nacionais desistiam de lutar.
Seu governo na Síria, segundo ele, nunca foi uma maneira de obter ganhos pessoais.
Tudo o que ele fez foi lutar pelo bem do país e da população, em um exemplo de devoção e sacrifício pessoal.
"Eu nunca busquei posições para ganhos pessoais mas sempre me considerei como um protetor de um projeto nacional, apoiado pela fé no povo sírio, que acreditava nessa visão. Eu sempre mantive uma convicção inabalável no desejo deles e na capacidade de proteger o Estado, defender suas instituições e manter as escolhas até o último momento", escreveu Assad, de Moscou.
Celebração
Nada podia estar mais distante da realidade.
Bashar Assad herdou uma ditadura do seu pai, Hafez, e a manteve com mão de ferro por 24 anos.
A fortuna de sua família é estimada em mais de 1 bilhão de dólares.
Sua derrubada pelos terroristas do HTS foi festejada por todos: membros do seu partido Baath, integrantes do seu governo deposto e de integrantes de minorias que ele dizia proteger, como os cristãos. Sem contar a alegria dos curdos e dos drusos.
O Irã e o grupo terrorista Hezbollah não lançaram um único drone para defendê-lo.
A Rússia o acolheu quase por obrigação, tentando escondê-lo na medida do possível.
Simón Bolívar
O final melancólico de Bashar Assad lembra o do venezuelano Simón Bolívar, que entrou para a história como o grande "libertador" da América Latina.
Bolívar tentou criar um único país, que obviamente ficaria sob a sua tutela.
Mas a resitência foi grande, principalmente dos colombianos.
No final de sua vida, Bolívar iniciou uma longa viagem com destino a um porto, de onde provavelmente iria para a Europa.
Bolívar, que sofria de tuberculoso, morreu antes de embarcar.
O romance ficcional Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel García Márquez, narra o que seriam seus últimos dias, em que Bolívar tinha sido esquecido por todos.
García Márquez, aliás, sempre teve uma inclinação por velhos ditadores.
Assad conseguiu embarcar para Moscou mas, como Bolívar em seus momentos derradeiros, não há ninguém disposto a escrever cartas para ele.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)