Narloch contra o terraplanismo ambiental
Guia Politicamente Incorreto do Meio Ambiente obriga os porta-vozes da área a checarem seus relatórios e a encontrarem novos argumentos
O jornalista e escritor Leandro Narloch (na foto, com a índia Ysani) ficou oito anos sem publicar um livro. Quando seu novo Guia Politicamente Incorreto do Meio Ambiente entrou em pré-venda na internet este mês, a editora Avis Rara precisou aumentar a tiragem para atender a demanda.
Logo que chegou às prateleiras das livrarias, a obra subiu para as primeiras colocações nos rankings de mais vendidos em não ficção.
O sucesso imediato acontece porque Narloch já cativou um vasto público com sua coleção Guia Politicamente Incorreto, que traz assuntos bem apurados na forma de um texto gostoso e provocativo (o livro sobre a América Latina, vale avisar, foi escrito em coautoria com o autor desta resenha).
A coleção, publicada inicialmente pela Leya e depois pela Editora Globo, já vendeu mais de 1 milhão de exemplares.
Mas seu apelo também decorre do fato de que há uma canseira na nossa sociedade com os discursos padronizados, que são martelados pela imprensa, pelas ONGs, pelos professores, pelos políticos e pelos ativistas.
Na pressa para se mostrarem bem intencionados, eles ignoram fatos ou relativizam os resultados de suas ideias, quando elas contradizem suas promessas.
Nesta edição dedicada ao meio ambiente, Narloch aborda a área em que a sinalização de virtude é mais fervorosa e alcança feições religiosas.
É alardeando o fim do mundo que muitos dos defensores da causa buscam arrebanhar discípulos — um comportamento não muito diferentes dos profetas bíblicos.
Narloch é de outro tipo. Ele está longe de integrar uma maré de fanáticos e tampouco busca ter o seu próprio séquito.
Sua maior qualidade é usufruir da liberdade para perguntar, questionar, provocar.
COP30
A obra chega em ótima hora, semanas antes da Conferência das Partes da ONU sobre o clima, a COP30, em Belém.
"O evento cresceu tanto que fica difícil organizá-lo. Reclamações do preço astronômico de hotéis são comuns nas COPs, e os países-sede acabam gastando fortunas com a organização. Só o Brasil reservou 1 bilhão de reais dos pagadores de impostos para a COP30. Considerando 50 mil participantes, são cerca de 20 mil reais por pessoa", escreve Narloch.
"Mas vem cá: se estamos mesmo diante de uma catástrofe climática iminente, faz sentido tanta gente cruzar o mundo para participar desses eventos? Será que uma reunião rotineira de presidentes, anunciando acordos negociados em conferência por Zoom e café coado, não seria mais coerente com o discurso que esses milhares de ambientalistas, burocratas e políticos repetem? Difícil imaginar um jeito pior de mostrar que estamos numa corrida contra o tempo para conter um colapso climático", afirma.
"A verdade é que esse festival de viagens desnecessárias revela algo embaraçoso: os próprios participantes não parecem acreditar na emergência climática sobre a qual tagarelam. Estão confortáveis e seguros o suficiente com o clima atual para desperdiçar emissões de carbono com voos e reuniões que poderiam muito bem se resumir a conversas online", escreve Narloch.
Sacolas de plástico
O escritor aponta os benefícios das demonizadas sacolas de plástico, que liberam menos gases de efeito estufa que as de papel.
Aquelas de algodão, ou "ecobags", são as que mais agridem o meio ambiente.
"O plástico não tem o charme rústico do vidro nem o verniz ético do papel reciclado. Mas é quase sempre a opção mais sustentável", escreve.
Índios agricultores
Narloch, que viajou ao Xingu para fazer pesquisas para o seu livro, ainda traz a realidade dos índios brasileiros que querem plantar, mas não conseguem autorização do governo para tanto.
Aqueles que já conseguiram fazer essa mudança, como os parecis, nambiquaras e manokis, tiveram um progresso inegável, diz o autor.
"Há vinte anos, crises de fome eram frequentes em aldeias dessas etnias. A caça, a pesca e as roças tradicionais não forneciam segurança alimentar suficiente. Para fugir da forma, muitos jovens começaram a trabalhar nas fazendas ao redor e aprenderam a operar máquinas agrícolas e aplicar defensivos. A partir dessa experiência, com máquinas emprestadas e doações de insumos, levaram a agricultura mecanizada para dentro de seu território", escreveu Narloch.
O resultado?
"Os lucros da produção, divididos entre funcionários e cooperativas, acabaram com a fome nas aldeias e tornaram os moradores independentes de assistência do governo", afirma o autor.
Em vez de ver os indígenas como crianças que precisam ser eternamente mantidas em um quadro de dependência, Narloch questiona se o Brasil não deveria aceitar que elas se desenvolvessem e prosperassem.
"Intelectuais e ambientalistas não gostam de admitir, mas o modelo atual de preservação da Amazônia exige repressão contra pobres tentando sobreviver", resume Narloch.
Provocador
Não escapam do seu olhar questionador a ativista sueca Greta Thunberg, as quebradeiras de coco de babaçu, a sigla ESG, a ONU e a "Grande Ilha de Lixo do Pacífico" (que não existe).
Mas, em vez de estabelecer novas verdades, o que Narloch faz é obrigar os porta-vozes e adeptos do ambientalmente correto a checarem seus relatórios e a encontrarem novos argumentos.
Se alguém vai mudar ou não de opinião não é o que conta. Nunca há como prever como as pessoas irão reagir à leitura de um livro.
O certo é que o debate sempre fica mais inteligente quando Narloch decide explorar um novo tema.
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