Não vai ter golpe, mas fazemos o jogo de Bolsonaro
Já faz tempo que venho repetindo que não haverá golpe militar no Brasil, apesar de todo o golpismo de Jair Bolsonaro (foto). As condições que historicamente levaram a quarteladas não existem. São elas: apoio da maioria da classe média; apoio de grandes banqueiros e empresários; apoio da grande imprensa; apoio de boa parte do Congresso;...
Já faz tempo que venho repetindo que não haverá golpe militar no Brasil, apesar de todo o golpismo de Jair Bolsonaro (foto). As condições que historicamente levaram a quarteladas não existem. São elas: apoio da maioria da classe média; apoio de grandes banqueiros e empresários; apoio da grande imprensa; apoio de boa parte do Congresso; apoio americano. Golpe para quê? Para manter Jair Bolsonaro no poder e evitar que Lula tome posse, caso vença a eleição? Lula é um risco, como mostra a reportagem de capa da edição desta semana da Crusoé, mas um risco já precificado, num país que se acostumou a pagar altos preços para não sair do lugar ou, até mesmo, andar para trás. Ele comporá com os militares da mesma forma que fez quando ocupou a Presidência.
Com base nessa constatação, não dá para entender o esforço que a imprensa e os tribunais superiores estão empreendendo para manter o discurso golpista de Jair Bolsonaro em evidência. Jornais e emissoras estão assustadiços para além da conta. Faríamos bem à democracia brasileira se não levássemos tão a sério as falas abiloladas do presidente da República. Como levamos, Jair Bolsonaro aumenta o tom, porque sabe que tudo vai reverberar no noticiário. Não se trata de ignorar completamente o presidente da República, mas de dar a justa medida ao seu lero-lero. Estamos assustadiços, mas há outra questão que conta: se Donald Trump alavancou os números da imprensa nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro ajuda um pouco a segurar a decadência geral no Brasil e, desse modo, todos nos sentimos obrigados a destacar tudo o que ele diz. Ao amplificar criticamente as suas besteiras, cevamos também os veículos bolsonaristas, que ganham relevância junto ao seu público cativo, no seu jogo de ganha-ganha contra a "extrema-imprensa". Para não falar, é claro, que repercutir Jair Bolsonaro serve à manutenção do clima eleitoral favorável a Lula, o candidato de muitos jornalistas de grandes veículos. Ao fim e ao cabo (sem farda, por favor), há uma diferença entre a eterna vigilância, o preço da liberdade, e o eterno sobressalto, que pode se voltar contra ela.
No caso dos tribunais superiores, o STF faz o jogo bolsonarista, ao abrir inquéritos de ofício e punir de maneira inquisitorial um deputado desclassificado, por ameaças verbais ao Supremo. Isso deveria ser assunto da Câmara. Francamente, é desproporcional o tempo e a energia gastos com esse Daniel Silveira, eleito no Rio de Janeiro com apenas 31 mil votos e que, agora, pode se lançar candidato ao Senado pelo seu estado, alçado que foi, por Jair Bolsonaro, esse defensor intransigente tanto do AI-5 como da liberdade de expressão, à condição de mártir do pau oco de um pilar da democracia. O bolsonarismo também recebeu um empurrão do TSE, no seu ataque às urnas eletrônicas e consequente tentativa de deslegitimação do processo eleitoral brasileiro. O empurrão foi dado quando o tribunal convidou as Forças Armadas a integrar a Comissão de Transparência das Eleições. Isso abriu uma estrada para que fardados mal-intencionados ou simplesmente empavonados questionassem a segurança das votações -- e para que Jair Bolsonaro tirasse da cachola a ideia absurda de a caserna fazer uma apuração paralela à do TSE, "para a gente confiar nas eleições" de outubro. Entendo que, ao convidar as Forças Armadas, a intenção do tribunal foi tentar neutralizar o discurso golpista -- e, naquele momento, até achei que era algo inteligente. Mas a coisa se mostrou um tiro no pé. Foi como promover um desfile de tanques fumacentos na frente do prédio do TSE. A caserna deve ser mantida a muitos quilômetros de distância do processo eleitoral, porque ela não tem nada -- absolutamente nada -- a ver com isso.
Se o antibolsonarismo for maior do que o antipetismo e Jair Bolsonaro perder mesmo a eleição, ele irá dizer que houve fraude, macaqueando Donald Trump. É um dado incontornável, não tem jeito. Quanto mais dermos importância a essa malandragem histriônica, maior a chance de que uma turma de malucos tente repetir na Praça dos Três Poderes o que ocorreu no Capitólio americano. Não será bom, pode até morrer gente, como ocorreu em Washington, mas golpe mesmo não ocorrerá.
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Comentários (10)
Marcia
2022-05-07 14:06:49A mídia precisa fazer notícia, e, conforme o investidor o discurso muda. Só estou preocupada agora é com os candidatos que essas mídias exaltam e nos enfiaram pelas goelas. TEM LAD.RÕES, TRAIÇ.OEIROS, EGÓLA.TRAS e VING.ATIVOS à escolher.
Ferreira
2022-05-07 12:18:57Acho - no campo mesmo da "achologia chutativa"-, que o grande golpe em curso está sendo dado contra a economia popular (o que detona qq governo), graças aos preços elevadíssimos da Petrobrás, da energia em geral, dos juros; alimentos (esses, em um país que mais os exporta; saldos de balança de exportação viraram sinônimo de subnutrição interna). Ninguém ganha de governo se a Economia vai bem. E governos não se sustentam no oposto. O povo quer pão, mais que ideologias e ismos. Não basta o circo.
Ronalde Segabinazzi
2022-05-07 10:59:46Sabino, Fachin está agindo com inteligência ao aprovar a consulta aos questionamentos dos militares, ele evita o que Bolsonaro tenta, o confronto. O TSE deve apoiar tudo o que Bolsonaro solicitar para fiscalização da eleição, com isso os argumentos dele caem por terra. Ele está putíssimo com o Fachin evitando o confronto.
Amaury G Feitosa
2022-05-07 07:08:10O bom cronista surtou ou aderiu ao santo d'aime e pirou? Quem joga fora da lei hoje neste país todos sabem e veem a quadrilha do descondenado e tentáculos a fermentar uma suja guerra revolucionária totalitária com um poder submetendo outro pelo terror e tentando impedir o outro a qualquer preço ... só idiotas não enxergam que que a CF a meu ver um aborto matando o país tem autodefesa no Art 142 o antídoto de golpes e com um em adiantada fase que o governo vê e ignora mas até quando? será fatal.
William
2022-05-06 22:45:58O STE se dobrou aos destranbelhados. O convite - de boa fé - foi boa ideia contanto que o convidado de origem tivesse vindo e não outro que, a meu ver, deveria ter sido rejeitado mas, ainda há tempo, é só dispensar pois se não quer cooperar, atrapalhar não vai.
Jaime
2022-05-06 22:37:42Esse "Mario Sabinada" esqueceu de dizer que os soviéticos instalaram mísseis em Cuba em 1961 e já tinham mantido seduzido Carlos Prestes e Olga Benário, bem como outros traíras. Na época desses tinha um Vargas pra colocar os pilantras no lugar. Se informe mais, Mário Sabinada. Esse seu discurso FEDE à comunismo enraigado.
NELSON VIDAL GOMES
2022-05-06 21:35:53Já passou da hora desta Revista que todos confiamos e admiramos proclamar em "alto e bom tom", que o primeiro golpe em nossa democracia foi dado pelo STF, ao anular 07 anos de combate à corrupção e lançar Lula às eleições com a "fantasia de mártir", sob a qual padece a nação despossuída e humilhada pela corrupção. Namastê!
RICARDO
2022-05-06 19:29:23Desde quando milico tem a ver com eleição? Foi mais uma cagada do STF e STE, já que os juízes supremos são os mesmos. No governo do Capitão nunca ficou tão exposto que também nas Forças Armadas tem corrupção, e psicopatas. Qual é a pena do traidor da Pátria, já que os milicos criminosos são os verdadeiros traidores, além dos congressistas corruptos e mafiosos. Nada escapa da corrupção nesse País.
CARLOS CESAR MACHADO
2022-05-06 19:22:00Vocês costumam errar muito, mas espero que estejam certos dessa vez. E Jair é um frouxo, todos sabemos.
Edvaldo
2022-05-06 19:02:53Na mosca, Sabino. Pena que a mosca boa fica mais difícil de matar.