Não existe coalizão quando o PT governa
Como secretária de Relações Institucionais, Gleisi deveria fazer articulações no Congresso. Em vez disso, ela ataca a imprensa e adversários políticos
O Partido dos Trabalhadores (PT) tem uma natureza hegemônica.
Isso quer dizer que, embora seus caciques se digam à vontade com o pluralismo democrático, seus líderes sempre que podem tomam medidas para eliminar ou calar adversários, seja dentro da esquerda, seja no restante do espectro político.
Basta analisar o comportamento dos petistas desde 2022 para constatar facilmente esse comportamento.
Na campanha presidencial de 2022, Lula prometeu uma frente ampla em nome da democracia e contra o então presidente Jair Bolsonaro, que tentava a reeleição.
Para vice na chapa, chamou Geraldo Alckmin, um ex-tucano que foi para o PSB.
Após a vitória de Lula, políticos de várias cores se reuniram nos salões do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, para escrever um plano de governo, com 73 páginas.
Assim que Lula tomou posse, em 1º de janeiro de 2023, o plano foi ignorado.
Ao nomear pessoas para ocupar os ministérios, Lula manteve as principais pastas, com os maiores orçamentos, nas mãos de petistas.
Fernando Haddad na Fazenda, Rui Costa na Casa Civil, Wellington Dias com Desenvolvimento Social (e o Bolsa Família), Camilo Santana na Educação e Luiz Marinho no Trabalho.
Hoje, Alexandre Padilha comanda a Saúde e Gleisi Hoffmann está nas Relações Institucionais.
Guilherme Boulos, do Psol (na prática, um puxadinho moderninho do PT) acaba de subir para a Secretaria Geral da Presidência.
Só sobraram migalhas.
É assim a hegemonia petista.
Nos primeiros dois anos de seu terceiro mandato, Lula topou uma aproximação com o Centrão, oferecendo pastas menores em troca de apoio no Congresso.
Esse equilíbrio não existe mais, porque partidos do Centrão se cansaram da concentração de poder nas mãos de Lula e de seu único foco na reeleição.
Tentativas de coalizão com o PT no passado também acabaram mal.
No primeiro mandato de Lula, o resultado foi o mensalão, a compra de votos de parlamentares. Em vez de dividir poder, o PT preferiu cooptar.
No governo de Dilma Rousseff, PT e Centrão se aliaram temporariamente para sugar a Petrobras, gerando o escândalo do petrolão.
Gleisi Hoffmann
Nesta quinta, 23, em resposta a um editorial do jornal Folha de S. Paulo, a secretária de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (foto), defendeu que o presidente Lula "lidera um governo de coalizão".
"Na falta de argumentos contra a retomada do crescimento, o menor desemprego da história, com inflação também caminhando para ser a menor desde o Plano Real, com o começo da justiça tributária, entre outros, [o jornal] ataca Lula por exercer sua prerrogativa de nomear ministros. Ao contrário do que diz o editorial, Lula lidera sim um governo de coalizão com as forças que o apoiaram em 2022", escreveu a ministra no X.
Como secretária de Relações Institucionais, caberia a Gleisi fazer articulações com parlamentares no Congresso.
Em vez disso, ela dedica seu tempo a atacar a imprensa e adversários políticos nas redes sociais.
É essa a natureza do PT.
Não é fazer coalizão, nem dividir o poder.
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