MP de Bolsonaro que altera as regras da internet é um golpe para autoproteção
Caminhões e manifestantes que romperam o bloqueio da Polícia Militar na Esplanada dos Ministérios exibem faixas com pautas antidemocráticas, enquanto apoiadores de Jair Bolsonaro estimulam a invasão de prédios públicos e a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal e de parlamentares. As cenas se repetem nas redes sociais e muitos militantes bolsonaristas incitam o...
Caminhões e manifestantes que romperam o bloqueio da Polícia Militar na Esplanada dos Ministérios exibem faixas com pautas antidemocráticas, enquanto apoiadores de Jair Bolsonaro estimulam a invasão de prédios públicos e a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal e de parlamentares. As cenas se repetem nas redes sociais e muitos militantes bolsonaristas incitam o caos, afrontando claramente a Constituição, que classifica como crime inafiançável a ação contra o Estado democrático. Na véspera dos atos, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que, ao modificar o Marco Civil da Internet, limita a remoção de conteúdo e dificulta a exclusão de contas e de perfis nas redes sociais. Na prática, é um libera-geral para fake news, para a desinformação e para orquestrações golpistas -- quase que um salvo-conduto que Bolsonaro concede a si mesmo e a suas milícias digitais.
O texto foi publicado em uma edição extra do Diário Oficial da União nesta segunda-feira, 6. A data não foi coincidência. Bolsonaro quis afagar seus apoiadores na véspera dos atos pró-governo convocados para este feriado de Sete de Setembro. Mas há algo além disso no cálculo presidencial: ele já se move de olho na campanha eleitoral do ano que vem. Segundo especialistas, a MP é inconstitucional. Senadores pressionam para que o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, devolva a medida provisória ao governo.
A MP prevê que as chamadas big-techs que controlam as redes sociais só podem retirar publicações ou cancelar contas de usuários se houver "justa causa" e "motivação". As plataformas se posicionaram contra o texto por entenderem que a medida provisória limita a capacidade de conter abusos, como a exclusão rápida de publicações criminosas, xenófobas, racistas ou com desinformações sobre a pandemia.
A edição da medida provisória foi um aceno aos militantes radicais, mas também um ato de autoindulgência. O próprio presidente da República já teve publicações excluídas do Twitter, do Facebook e do Instagram por violações às normas das plataformas. No início da pandemia, quando as autoridades sanitárias orientavam os brasileiros a manter o isolamento social, Bolsonaro saiu pelas ruas para conversar com apoiadores e divulgar a hidroxicloroquina, remédio ineficaz contra a Covid – tudo devidamente registrado nas redes. As publicações foram removidas imediatamente.
A decisão das plataformas de excluir as postagens gerou a ira do presidente, que desde então faz ameaças a elas. Bolsonaro também busca se precaver contra medidas mais radicais como as aplicadas contra o ex-presidente americano Donald Trump, banido permanentemente do Twitter, por exemplo. Motivos não faltam: o presidente brasileiro e seus apoiadores reiteradamente transgridem as normas de funcionamento das redes.
“A medida provisória tem dimensões políticas e jurídicas. Há o timing da edição da MP, um dia antes do Sete de Setembro, com esse aspecto simbólico. Do ponto de vista jurídico, o texto é inconstitucional e deve ser derrubado pelo Supremo Tribunal Federal”, disse a Crusoé o advogado Ricardo Campos, professor da Faculdade de Direito de Frankfurt, na Alemanha, e diretor do Instituto LGPD. Especialista em Marco Civil da Internet, Campos lembra que medidas provisórias não podem versar sobre questões de processo civil e, por isso, o texto deve ser declarado inconstitucional.
O professor diz que a questão da “justa causa” para remoção de conteúdos é um dos pontos mais problemáticos. Segundo ele, com a MP de Bolsonaro, haverá mais dificuldade para remover publicações com informações sem embasamento científico relacionadas à pandemia, como a divulgação de remédios ineficazes e campanhas contra o uso de máscaras, por exemplo. “Há o risco de que a MP seja usada como uma forma de abrir mais as portas para a circulação desse tipo de conteúdo.”
A divulgação de atos golpistas é outro aspecto que preocupa. “Por que será que Bolsonaro editou medida provisória, que tem efeito imediato, liberando usuários para espalhar desinformação na véspera do Sete de setembro?”, questiona o deputado Alessandro Molon, do PSB, líder da oposição e relator do Marco Civil da Internet na Câmara.
O senador Alessandro Vieira, do Cidadania, impetrou um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal pedindo a imediata suspensão dos efeitos do texto da MP. Segundo ele, há "grave risco de que ela sirva como garantia para o propagação de material ilegal e antidemocrático".
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Comentários (5)
Sônia Adonis Fioravanti
2021-09-07 16:41:44Filhotes acima de tudo e cor RUPTOS e la droes acima de todos .MESSIAS BOZO 1:171
PAULO
2021-09-07 16:30:41Parabéns senador Alessandro Vieira pela iniciativa. Vivemos dias conturbados, mas não podemos entrar no fluxo, deixando passar absurdos, deixando de lado nosso reais problemas. Bolsonaro não consegue mais se reeleger. Mas não podemos deixar que ele em plena campanha, consiga causar mais estragos no NOSSO BRASIL, além do que já vem causando. Impeachment Já!!!!!!!
Carla
2021-09-07 16:07:43Prendam logo esse genocida antes que o país se afunde de vez!
Gustavo Vasconcelos Carvalho
2021-09-07 14:31:35É notório o intento maléfico de nosso “líder eleito” em propagar o danoso. Seu intento beira a insanidade e ouso afirmar a necessidade de uma hospitalização em Instituição para tratamento de distúrbios psiquiátricos.
Lucas
2021-09-07 13:58:28cancelando a assinatura dessa revista.. que assumiu sua bandeira vermelha