Memes de destruição em massa
Passou-se mais um ano sem que as autoridades brasileiras tenham aprendido a lidar com o deboche nas redes sociais. Para fazê-lo, seria preciso admitir as próprias mentiras
A memecracia de Donald Trump e Elon Musk se instala daqui a 20 dias nos Estados Unidos, e as autoridades brasileiras ainda não aprenderam a lidar com o deboche das redes sociais.
O Supremo Tribunal Federal (STF) lançou neste mês o segundo volume de Desinformação, o mal do século, livro publicado em parceria com a Universidade de Brasília (UnB).
O primeiro volume só contou com a participação em artigo de um membro do STF, a então presidente e agora ministra aposentada Rosa Weber, que analisou o 8 de janeiro de 2023 para dizer que "o combate à desinformação deve promover o amadurecimento das instituições democráticas e preservar os direitos fundamentais".
Leia também: Os inimigos dos memes
"Emergência regulatória"
No segundo volume, já são cinco os ministros a assinar artigos, que seguem tratando sobre desinformação, mas passaram a abordar também seus receios em relação à inteligência artificial. O ansioso Flávio Dino fala, inclusive, em "emergência regulatória".
Os debates são muito bem-vindos, bem mais até do que a pretensão dos ministros de atualizar a legislação brasileira por meio de decisões judiciais.
A análise sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet foi interrompida por pedido de vista de André Mendonça, mas o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, pediu pressa para deliberar logo sobre "o que pode e o que não pode" se publicar nas redes sociais.
Fake news supremas
O assunto não é irrelevante, merece atenção e discussão, mas a forma como as autoridades brasileiras têm tratado dele dá a entender que elas estão mais interessadas em se proteger do que em proteger a democracia, a República, a ordem ou qualquer outra palavra bonita.
O próprio STF passou um belo de um recibo neste ano ao publicar uma checagem para dizer que o decano Gilmar Mendes e seu colega Dias Toffoli são formados em direito, apesar de fake news dizerem o contrário.
Enquanto isso, Toffoli dá sobrevida a processos abertos a partir de mentiras já desmentidas, como o que acusa a Transparência Internacional de um ilícito inexistente no âmbito da Lava Jato e o caso dos grampos na cela do doleiro Alberto Youssef.
Fake news do dólar
O governo Lula também já destruiu o próprio discurso de combate a fake news com mentiras disseminadas e alimentadas pelo próprio governo.
Em julho, os governistas espalharam a narrativa de que os memes de Taxadd, uma reação à famigerada "taxa das blusinhas", concentradas na figura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, eram resultado de uma "indústria dos memes" financiada por algum ente oculto.
Desde o fim de novembro, quando a cotação do dólar estourou após a apresentação do frustrante pacote fiscal de Haddad, os petistas tentam culpar tudo, inclusive as fake news, para esconder o verdadeiro responsável pela desvalorização do real: Lula.
Fake news dos outros
A cada reação espontânea mais intensa da população brasileira nas redes sociais, o discurso retorna: é preciso regular o que se publica. Mas é preciso regular apenas o que os outros publicam.
Com esse nível de desconfiança, semeado pelas próprias autoridades brasileiras, qualquer tentativa de regulação vai acabar saindo pela culatra.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
MARCOS
2025-01-01 13:49:21PALAVRAS ETERNAS: "O AMIGO DO AMIGO DO MEU PAI", "NERVOSINHO", "COXA OU AMANTE" E TANTAS OUTRAS.