'Lula livre', Kakay, Toron e cia: grupo que organizou live com Aras é composto por críticos notórios da Lava Jato

As duras críticas do procurador-geral da República, Augusto Aras, à Lava Jato repercutiram no meio jurídico e foram amplificadas por outros adversários da operação, como parlamentares e militantes petistas.

Ao aceitar o convite para participar da conversa com advogados, na noite de terça-feira, 28, Aras sabia bem onde estava pisando. Ou seja, tinha total conhecimento de que estaria ao lado de notórios adversários da operação. O Grupo Prerrogativas, organizador da webconferência, defende, por exemplo, que o ex-presidente Lula foi “condenado sem provas”. Integrantes da associação estão entre os maiores críticos da força-tarefa, com um histórico de artigos e livros contra a Lava Jato, os procuradores que atuaram na operação e, sobretudo, contra o ex-juiz Sergio Moro.

Desde o início da pandemia, o Grupo Prerrogativas já fez lives com outras autoridades, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. Um dos seminários virtuais do grupo, realizados durante a pandemia, foi um fórum sobre a suspeição de Sergio Moro, com a participação do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, conhecido por não medir palavras nos ataques ao ex-juiz da Lava Jato. Àquela altura, o convite a Aras já estava em gestação.

O Prerrogativas surgiu há cinco anos, pouco depois das primeiras fases da Operação Lava Jato, inicialmente como um grupo de WhatsApp. O objetivo prioritário era defender as prerrogativas dos profissionais, sobretudo os que atuavam no caso, mas logo a associação de advogados virou uma trincheira contra a força-tarefa em si, com ataques aos integrantes da Lava Jato.

O coordenador do "Prerrô", como o grupo é informalmente chamado, é o advogado Marco Aurélio de Carvalho. Defensor do "Lula Livre" e muito próximo de figuras históricas do PT, ele trabalhou para a sigla e chegou a ser cotado no começo do ano para concorrer à Prefeitura de São Paulo pelo partido. No texto de apresentação do Prerrogativas, Marco Aurélio afirma que, com a Lava Jato, “as leis foram rasgadas e costuradas feito uma colcha de retalhos de conveniência, aparentemente com o intuito de embalar os objetivos políticos de alguns servidores da Justiça e do Ministério Público”.

Quem também participou da live com Augusto Aras foi Alberto Toron, um dos criminalistas mais requisitados por investigados da Lava Jato e também um duro crítico da operação. Ele defendeu acusados como Fernando Bittar, sócio de Lulinha. Foi de Toron a tese, reconhecida pelo Supremo, de que é direito dos delatados apresentarem as alegações finais depois dos réus que firmaram acordo de colaboração. O entendimento, aplicado no caso do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, cliente de Toron, é considerado um dos maiores golpes à Lava Jato e deve beneficiar o ex-presidente Lula.

O Grupo Prerrogativas já foi ao Supremo para tentar fazer avançar uma investigação contra o procurador Deltan Dallagnol, e lançou manifesto quando, em janeiro deste ano, o jornalista Glenn Greenwald foi denunciado pelo Ministério Público Federal no âmbito da investigação que apura o ataque hacker contra autoridades, entre elas, Moro.

Na live, Aras aproveitou a presença de adversários da Lava Jato para soltar o verbo contra a força-tarefa e tentar justificar a decisão de sua gestão, que levou à entrega de dados sigilosos da operação à PGR. Na conversa com o grupo Prerrogativas, além de chamar a Lava Jato de “caixa de segredos”, ele criticou supostos privilégios dentro da instituição. “A igualdade de todos perante a coisa pública deve ser preservada, especialmente no âmbito da carreira do Ministério Público, onde os privilégios alcançaram pequenos grupos, que partilharam de viagens internacionais, de favores, de cursos, de cargos. Nossa gestão abriu todas essas oportunidades para distintos segmentos da carreira”, afirmou Aras. Segundo ele, um dos objetivos de sua gestão à frente do MP é “mudar a lupa e tratar da atuação preventivamente, em todos os campos do direito, inclusive no direito penal”.

Nesta quarta-feira, 29, o ex-juiz Sergio Moro reagiu aos ataques de Augusto Aras à força-tarefa. “Desconheço segredos ilícitos no âmbito da Lava Jato. Ao contrário, a operação sempre foi transparente e teve suas decisões confirmadas pelos tribunais de segunda instância e também pelas cortes superiores, como STJ e STF”, disse Moro, pelas redes sociais.