Reprodução

Keir Starmer é a esquerda britânica que passou por uma longa depuração

05.07.24 13:39

A principal qualidade do novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer (na foto, com a esposa), é que não há muito o que falar dele.

Um repórter do jornal britânico Guardian, com viés claro de esquerda, saiu pelas ruas do distrito de Holdborn and St Pancras, na Grande Londres, para perguntar sobre o que os seus habitantes achavam de Starmer. Para sua surpresa, os moradores não o conheciam ou não sabiam o que comentar.

Starmer nunca teve uma grande causa, pela qual se tornou famoso. Advogado por formação, ele enveredou pela defesa dos direitos humanos. Trabalhou como uma espécie de defensor público, defendendo condenados, e depois se tornou o procurador-geral do Reino Unido.

Nesse período, a conquista que ele mais se orgulha foi ter comandado a transformação dos processos em papel para arquivos digitais. Nada que empolgue nos dias de hoje, portanto.

Quando seus colegas o elogiam, dizem que ele é bom em adaptar suas posições para diferentes audiências. É uma pessoa flexível e aberta para negociações.

O melhor, então, é falar sobre o que Keir Starmer não é.

Ele não é antissemita. Aliás, todo o contrário. Starmer foi um dos principais algozes de seu antecessor na liderança do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn.

Em 2016, quando Corbyn foi acusado de antissemitismo, Starmer era ministro do “gabinete das sombras” e cuidava da pasta de imigração (na tradição democrática britânica, a oposição monta um gabinete com todos os ministros para poder estudar e criticar o governo nos diversos temas). Starmer foi um dos ministros que renunciaram em protesto após a denúncia contra Corbyn. Com isso ajudou a derrubá-lo.

Em 2020, Corbyn foi suspenso da liderança da legenda após um relatório de 130 páginas sobre antissemitismo dentro do partido, abrindo caminho para Starmer. Na época, o atual primeiro-ministro publicou uma nota prometendo tolerância zero com o preconceito contra judeus e criticando o antecessor: “O relatório mostra falhas claras na liderança, nos processos e na cultura em lidar com o antissemitismo dentro do nosso partido“.

Starmer tampouco é anti-Israel. Em entrevistas para jornalistas, ele tem dito claramente que o país tem direito de se defender e que a culpa pela guerra é do Hamas, além de dizer que é preciso respeitar o direito internacional.

Ao condenar a esquerda radical e antissemita, Starmer colocou-se mais ao centro no espectro ideológico. E chegou até a adotar algumas políticas da direita. Não pensa em tentar voltar para a União Europeia (ele foi contra a realização de um referendo sobre o assunto, proposto por Jeremy Corbyn) e fala em conter a imigração ilegal (Corbyn defendia o direito dos imigrantes).

Starmer é o representante de um Partido Trabalhista que passou por um longo processo de depuração, ainda que muitos britânicos não o conheçam muito bem.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO