Já chega de teoria da conspiração sobre as eleições
Depois da resposta do TSE aos seus questionamentos, as Forças Armadas precisam definir se querem estar ao lado da sanidade ou da baderna e do conspiracionismo
O jurista e cientista político americano Cass Sunstein define da seguinte forma as teorias da conspiração em "Conspiracy Theories and Other Dangerous Ideas": "esforços para explicar um acontecimento como sendo produto das maquinações de pessoas poderosas, que, além disso, conseguem ocultar o seu papel no enredo".
Toda a palhaçada bolsonarista em torno da manipulação das eleições brasileiras na "sala secreta do STF" se encaixa perfeitamente nessa definição. Infelizmente, é improvável que se consiga eliminar esse tipo de paranoia do mundo à nossa volta. Segundo Sunstein, experimentos psicológicos já identificaram alguns traços de personalidade como sendo comuns aos adeptos desse tipo de raciocínio: eles são "cínicos em relação à política, têm baixa autoestima e desafiam a autoridade de forma geral". Sempre haverá pessoas inclinadas a acreditar em teorias da conspiração.
Um país está mesmo encrencado quando suas instituições passam a colaborar com a propagação dessas formas patológicas de ceticismo e desconfiança. A reação das Forças Armadas às respostas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre os questionamentos militares a respeito das urnas eletrônicas e da apuração dos votos vai definir se elas querem estar ao lado da sanidade ou do conspiracionismo.
O relatório do TSE é bastante contundente. Ele mostra que vários dos questionamentos já tinham resposta na legislação e nas práticas consolidadas de apuração dos votos. Outros, como o relacionado ao número de urnas que devem ser submetidas a um teste de integridade, talvez admitam mais de uma resposta. No entanto, o posicionamento técnico do tribunal foi exposto com clareza e está amparado num histórico de apurações que jamais registrou falhas graves.
A menos que se demonstre que existe um erro estatístico gritante no raciocínio do TSE, e que essa constatação seja corroborada por especialistas independentes, não cabe ao ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que decidiu assumir o protagonismo na conversa, impor o ponto de vista de sua instituição sobre essa ou qualquer outra questão desta infeliz polêmica. As leis brasileiras atribuem à Justiça Eleitoral, e não às Forças Armadas, o papel de garantidor dos pleitos brasileiros - e a palavra final sobre como devem se desenrolar.
Essa é a fronteira que o ministério da Defesa precisa reconhecer. Ele fez suas perguntas e elas foram respondidas com a devida minúcia. A menos que haja um erro grotesco por parte do TSE, os militares devem dar o episódio por encerrado, sob pena de convalidarem teorias da conspiração a respeito de suas próprias intenções.
Eles devem também dizer, sem qualquer ambiguidade, que estarão ao lado da Justiça Eleitoral em outubro, não como tutores da democracia, muito menos como encorajadores de um baderneiro como Bolsonaro, mas no papel de coadjuvantes que sempre desempenharam com eficiência e honradez, desde a redemocratização.
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Comentários (10)
Mario
2022-05-10 11:23:44A Democracia nunca foi nem será perfeita porque possui pressupostos inatingíveis. Mas para funcionar depende do aperfeiçoamento constante das instituições. Infelizmente essas instituições continuam sendo desconstruídas no Brasil. A instituição das urnas, no entanto, beira a perfeição se comparada, por exemplo, com a instituição da suprema corte. Não são as urnas o nosso real problema. Sua discussão é antes uma distração provocada por aproveitadores mal intencionados, incluindo os militares.
Alessandro Campos Moreira
2022-05-10 11:22:12Os vários problemas apontados no relatório de auditoria produzido pelo PSDB (e assinado por peritos do ITA, USP e Instituto Brasileiro de Peritos) comprovam que não é mera teoria da conspiração. O sistema não vai se tornar confiável do dia pra noite por que o maluco do Bolso resolveu explorar o tema ou porque o Presidente do TSE (o mesmo Fachin que já discursou no palanque do PT pedindo votos pra Dilma) diz que "pode confiar" e pronto.
Alessandro Campos Moreira
2022-05-10 11:13:28"A Auditoria Especial no Sistema Eleitoral de 2014 feita pelo PSDB concluiu não ser possível a realização de uma auditoria externa nas eleições". O relatório diz que “Claramente, o sistema eletrônico de votação do TSE não foi projetado para permitir uma auditoria externa independente e efetiva dos resultados que publica".
Waldemar
2022-05-10 10:12:31Antes de ser uma questão política existe uma questão técnica de análise de integridade não da urna mas do processo eletrônico em que se apoia a eleição brasileira.Como a segurança cibernética exige restrição ao público dos detalhes, é impossível haver transparência integral e direta pelo cidadão.A auditoria do sistema a qualquer tempo e de forma acessível voto a voto é a forma certa. Isto não quer dizer voto impresso, mas um mecanismo equivalente que preserve o sigilo,a fraude e a má fé.
NELSON VIDAL GOMES
2022-05-10 09:39:26A imprensa a pretexto de defender a democracia não pode se afastar da verdade dos fatos,que é sua razão de existir e proclamar em "alto e bom e tom", que essa desconfiança no processo eleitoral se justifica, por ter o STF anulado 07 anos de combate à corrupção e lançado Lula às eleições com a "fantasia de mártir", sob a qual padece a nação despossuída e humilhada por suas danosas consequências. Urge a substituição de Lula por seu partido para devolver a estabilidade política ao país. Namastê!
Demetrio Calil Jabur
2022-05-10 07:24:51O general peruquinha é o que resta de patológico a ser manipulado pelo capitão B undão e seus delírios sem fundamento
Delei
2022-05-10 06:18:32O Pangaré Sociopata não trabalha e vive fazendo quizumba emporcalhando tudo até as FAs.
Julio
2022-05-10 06:13:14A imprensa é a principal responsável por esse mi mi mi eleitoral.Insiste no assunto. Garantindo projeção, protagonismo (indevidamente) . Estão atuando “ fora das quatro linhas” há muito tempo. Esqueceram das suas funções constitucionais e estão esculachando com as FFAA que se deixaram envolver, se arrastar, para um debate que não é delas. É muita vaidade. Muito interesse pessoal . Querem aparecer e tumultuar. Estão se distanciando da vontade do povo aprova e confia nas Urnas / apuração.
Joao
2022-05-10 03:55:45Foi uma imbecilidade do TSE convidar os milicos para a CTE. Eles ganharam espaço e são saudosos da época em que enterraram bilhões de dólares no programa nuclear e na Transamazônica, que não leva a lugar nenhum. Inventaram a Secretaria Especial de Informática, que atrasou a informatização do Brasil. Além disso, torturas e assassinatos de milhares de opositores. Milicos de novo no poder? Já basta os horripilantes STF, STJ, Congresso Nacional, MPF, AGU, TCU, CGU, etc
José
2022-05-10 03:31:57Quem soltou o Lula? Quem vai organizar as eleições? Quem vai totalizar o votos?