"Eduardo é zero estratégia", diz Roberto Reis
Em conversa com Crusoé, estrategista eleitoral explica o lançamento antecipado de pré-candidaturas no campo da direita

O consultor político eleitoral Roberto Reis, colunista de Crusoé, conversou com a revista sobre as movimentações do deputado federal Eduardo Bolsonaro no exterior e a corrida presidencial antecipada. Eis a entrevista na íntegra:
Ao comprar brigas com o STF nos EUA, Eduardo Bolsonaro está se cacifando para uma candidatura à Presidência? Ou está se prejudicando?
Ele está fazendo o que o pai sempre fez: polarizar e polemizar primeiro, calcular depois.
Foi assim que colocou o pai na enrascada do 'soldado e do cabo'. Foi assim que antecipou a cadeia do pai. Eduardo é zero estratégia.
Amigos do PL que conversei dizem que ele faz tudo da cabeça dele. Causa vergonha alheia ao partido e até à família.
Ele não quer uma solução dentro do sistema. Quer explodir o sistema. Isso agrada alguns. Mas não vence nenhuma eleição presidencial.
Cada vez que compra briga com o STF fora do Brasil, ele não apenas se prejudica: cava mais fundo o buraco do pai e amplia a rejeição do eleitor do meio, o que, repito, decide qualquer eleição.
Eduardo não está disputando com Zema, Tarcísio, Ratinho Jr. ou Caiado: está disputando com o fantasma dos próprios traumas.
Deveria aprender com o irmão Flávio Bolsonaro a ser estrategista, em vez de tentar provar DNA e testosterona à distância.
O governador mineiro Romeu Zema, do Novo, vai se lançar como pré-candidato à Presidência. Caiado já se lançou. Ratinho Jr. tem buscado aparecer nacionalmente. Por que esses candidatos da direita estão se antecipando?
Porque eles não estão dormindo no ponto. Sabem que 2026 começou em janeiro de 2023. Bolsonaro inelegível e, provavelmente, preso. Pablo Marçal inelegível. Eduardo Bolsonaro fazendo campanha a distância. Caiado sem apoio nem do Rueda, presidente do União Brasil, que não apareceu nem no lançamento da sua campanha. Tarcísio negando até o fim e insistindo que não é candidato.
Zema viu a bola quicar na área, sem goleiro. E no mínimo, se valoriza assim.
Ao colocar sua campanha, faz o famoso xixi no poste. E poderá cobrar politicamente depois, se quiser retirar sua candidatura. Ele sabe que o espaço deixado pelo Bolsonaro não ficará vazio. E mesmo com um partido menor, precisa se posicionar.
Quem não é visto agora, não é lembrado depois. A direita, do jeito que está hoje, não é cadeira cativa de ninguém, é terreno baldio esperando um ungido. Até lá, todo mundo cisca nesse quintal.
Zema, Caiado e Ratinho Jr. não estão se lançando com antecedência. Estão buscando não ser irrelevantes quando o jogo começar.
Zema pediu a benção de Jair Bolsonaro. Caiado prometeu indultá-lo. Todos parecem buscar a aprovação do ex-presidente. Essa necessidade realmente existe?
Porque, na direita brasileira, ainda não nasceu um Genghis Khan que una todos. Pode ser que surja em breve. Mas ainda não apareceu. Estão todos esperando justamente a unção do Bolsonaro.
Zema, Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio sabem que, sem o carimbo do 'mito', são só tecnocratas engravatados.
Precisa-se criar a narrativa da passagem de bastão. Bolsonaro virou uma entidade para uma parcela cada vez menor da população. Mas se lembrarmos que a eleição foi decidida por 1,9% dos votos, fica claro: o espólio do Bolsonaro ainda vale muito.
Tais candidatos se lançam e apanham do Judiciário, apanham dos adversários, apanham da imprensa, mas ainda é a forma que buscam para unir evangélicos, caminhoneiros, classe média, grandes empresários e agro na mesma foto. Não é questão de gostar (deve ser até um desprazer fazer isso). Mas é questão de precisar.
E mais: ninguém quer ser o traidor dessa 'religião'.
Esses pré-candidatos podem perder votos ao se aproximar demais de Jair Bolsonaro neste momento?
Podem perder votos? Podem, alguns. Mas o eleitor do meio é maleável.
Dá pra fazer igual ao Ricardo Nunes, na eleição municipal de São Paulo em 2024: conquista o eleitor do Bolsonaro, agradece, e parte para o centro, para os indecisos, os que flutuam.
Nunca esquecer: o centro decide qualquer eleição.
Aproximar-se do Bolsonaro agora é um risco calculado milimetricamente e necessário. Você acena para a base, garante a militância, e planta no imaginário coletivo a ideia de que é o herdeiro legítimo da 'resistência'.
A rejeição? Vem depois. E sempre é menos letal que a irrelevância.
O eleitor indeciso perdoa. O eleitor morno esquece. O que ele não tolera é covardia.
Candidato que tem vergonha da própria base já entra derrotado.
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Comentários (2)
Eliane ☆
2025-07-23 15:48:45Eu rotulada de "isentona " não anulo o meu voto, mas não revelo em quem votei.O conhecido voto tapando o nariz.
F-35- Hellfire
2025-07-23 14:17:09Quem não pensa antes, sofre consequências e aí precisa pensar depois, às vezes depois de já estar preso ou foragido...