Editor de livro virou profissão de risco no Brasil
Obras sobre autoridades podem implicar em multa e censura
Editor de livro no Brasil virou profissão de risco.
Claro, não todos os editores de livros estão em perigo.
Aqueles que escrevem obras que se encaixam no politicamente correto estão a salvo.
Textos sobre a luta das mulheres, dos negros ou da comunidade LGBT passam incólumes pelos órgãos da censura e ganham as prateleiras das livrarias mais bacanas.
Mas se o livro citar alguma autoridade — qualquer uma — aí o risco de ter a obra censurada e ainda ter de pagar uma multa é enorme.
Diário da Cadeia
O livro Diário da Cadeia, de Ricardo Lísias, é só o último exemplo de como editores podem pagar caro por publicar autores nacionais.
O ex-deputado Eduardo Cunha (foto) ficou ofendido com o autor que escreveu uma ficção como se fosse ele, usando um pseudônimo.
O ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou a retirada do livro de circulação.
Mais do que isso: cobrou uma multa de 30 mil reais dos réus: a editora Record, o autor e o editor, Carlos Andreazza.
No ano passado, editores também foram alvo da ação de Flávio Dino, que ordenou a destruição de quatro livros jurídicos por achar que eles ofendiam a comunidade LGBT.
Dino também impôs uma multa de 150 mil reais à editora.
Em 2014, o ministro do STF Gilmar Mendes conseguiu condenar na Justiça o jornalista Rubens Valente e a Geração Editorial a pagar 319 mil reais.
Valente é o autor do livro Operação Banqueiro, que retrata a Operação Satiagraha.
A editora não pagou a sua parte e Valente teve que arcar com o valor total.
Reação tímida
As organizações do mercado editorial brasileiro não reagiram à censura do ministro Flávio Dino, no final do ano passado.
Nem Câmara Brasileira do Livro, CBL, e nem o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Snel, se manifestaram.
Esta semana, a Snel emitiu uma nota contra a censura do STF ao livro Diário da Cadeia.
"A decisão reverte o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e configura um ataque inaceitável à liberdade de expressão, um dos pilares fundamentais da democracia e do desenvolvimento de uma sociedade plural e aberta", diz a nota do Snel.
"A obra, uma ficção performática, é uma manifestação artística legítima e deve ser tratada como tal. O Snel continuará a lutar contra qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de criação e expressão no Brasil, reafirmando seu compromisso com a defesa da literatura e da cultura como instrumentos de reflexão, crítica e transformação social", segue o documento.
A reação tímida das entidades em se manifestar nesses casos mostra que o STF gerou um clima de medo entre os editores de livros no Brasil.
Hoje, publicar um livro no Brasil que não seja politicamente correto virou um ato de coragem.
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