Lusa

Deputada pelo Partido Socialista português, orientadora de Kassio diz que dissertação será reavaliada

08.10.20 13:15

“Há um procedimento na comissão científica. Isso tem que ser avaliado, tudo! Eu confesso que é a primeira vez que ouço isso”, afirmou a professora de direito e deputada Constança Urbano de Sousa, orientadora do desembargador Kassio Nunes Marques em sua tese de mestrado na Universidade Autônoma de Portugal. A parlamentar se disse “surpresa” com a revelação, feita nesta quarta-feira, 7, por Crusoé, de que partes inteiras do trabalho do desembargador, indicado para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal, foram copiadas de artigos de um advogado.

“Já não está nas minhas mãos. A partir do momento em que tive conhecimento dessa situação, ao meu ver tenho que comunicar diretamente à universidade, ao departamento”, disse a professora e deputada a Crusoé nesta quinta.

Constança Urbano de Sousa chegou a ser ministra da Administração Interna de Portugal entre 2015 e 2017, no governo do primeiro-ministro Antonio Costa, também do Partido Socialista. Deixou o governo em meio à crise dos incêndios que assolaram o país há três anos. Hoje, ela é deputada e vice-presidente da bancada do Partido Socialista no Parlamento português.

Também professora da Universidade Autônoma de Lisboa, onde Kassio obteve o diploma de mestre em 2015, Constança Urbano foi a responsável por orientar o brasileiro. A dissertação do desembargador foi apresentada em abril de 2015, meses antes de ela assumir o ministério. Constança afirma a instituição é pioneira na identificação de plágios em Portugal. Ela diz que, diante de casos suspeitos, processos internos são abertos e podem resultar na mera correção do texto e até na cassação do diploma, a depender da gravidade do caso.

“Haverá as pessoas que dizem (a mesma coisa) da mesma forma, está a perceber? Isso não pode ser considerado plágio! Outra coisa é fazer uma interpretação do artigo. Aí, se eu interpretar o artigo de uma certa forma, e alguém copiar ipsis verbis a forma como eu interpretei sem me citar, aí já é plágio”, afirmou.

“Uma coisa é dizer que alguém escreveu ‘o céu é azul’ e eu escrever ‘o céu é azul’. Isso não é plágio, é factual, não tem outra forma de dizer. Eu não sei se é o caso. Precisaria ter acesso ao texto e fazer essa comparação”.

Entre os trechos copiados na tese de Kassio Marques, estão passagens idênticas às de trabalhos do advogado Saul Tourinho Leal, o que inclui até mesmo erros de português. Em nota, o desembargador disse tratar-se de “coincidência” decorrente da “troca de informações e arquivos relacionados a um dos temas abordados” com Saul Tourinho. Ele nega ter cometido plágio.

A orientadora da dissertação evitou comentar a justificativa. “Eu não posso comentar sobre um disse-me-disse. Não é sério da minha parte.” Cautelosa, Constança Urbano disse que também quer reavaliar, pessoalmente, a tese de Kassio Marques.

Para identificar os trechos copiados, Crusoé utilizou a ferramenta “Plagium”, recomendada por instituições como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC-SP, e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. “Tecnicamente, fomos talvez a primeira universidade a ter um sistema, um software, em que todos os alunos, quando entregaram sua dissertação, antes submetidos a provas públicas, têm que, além de fazer uma declaração de (que não cometeu) plágio e tomar conhecimento de uma série de normas, submeter (o trabalho) a uma verificação de plágio. Isso é um procedimento comum a todos os departamentos e professores, que fazem essa verificação”, disse a deputada socialista e professora.

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