Delação, mensagens e áudio: as provas da PF contra Alckmin
O indiciamento do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (foto), do PSDB, por caixa dois, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema da Odebrecht está baseado em um vasto conjunto de provas obtidas pela Lava Jato ao longo dos últimos três anos. Além da própria delação de ex-executivos da empreiteira, homologada no fim de 2016 pelo...
O indiciamento do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (foto), do PSDB, por caixa dois, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema da Odebrecht está baseado em um vasto conjunto de provas obtidas pela Lava Jato ao longo dos últimos três anos.
Além da própria delação de ex-executivos da empreiteira, homologada no fim de 2016 pelo Supremo Tribunal Federal, mensagens de Skype e gravações telefônicas dos agentes encarregados de entregar a propina ajudaram a Polícia Federal a refazer o caminho do dinheiro ilícito destinado ao tucano.
A acusação tem como origem o depoimento do delator Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura. Em 2017, BJ afirmou que a empreiteira pagou 2 milhões via caixa dois para Alckmin na eleição de 2010, quando ele se elegeu governador, e 8,3 milhões para a reeleição do tucano, em 2014.
No caso de 2014, segundo BJ, o acerto do repasse ilícito foi feito com o ex- secretário de Planejamento e ex-tesoureiro do PSDB Marcos Monteiro. Por isso, os executivos da empresa usaram o codinome ‘M&M’ para lançar os pagamentos destinados a Alckmin nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas.
Nas planilhas entregues pela Odebrecht ao Ministério Público Federal (MPF), os pagamentos vinculados ao codinome ‘M&M’ estão atrelados à obra da linha 6-Laranja do metrô paulista, cuja licitação foi vencida por um consórcio liderado pela empreiteira, e à construção de um emissário submarino no litoral paulista.
As entregas de dinheiro ilícito da Odebrecht a políticos e agentes públicos em São Paulo eram coordenadas pelo doleiro Álvaro José Novis, que também fechou acordo de colaboração com a Lava Jato, no qual entregou aos investigadores as gravações telefônicas que ficaram armazenadas em sua empresa de câmbio no Rio de Janeiro.
Para executar os pagamentos em espécie ordenados pela Odebrecht, Novis contava com os serviços de uma transportadora chamada Transnacional, cujos agentes conversavam sobre as entregas de dinheiro por mensagens de Skype.
As mensagens, obtidas por Crusoé, mostram ao menos dez entregas de dinheiro no valor total de 6 milhões de reais na casa de Eduardo Castro entre julho e outubro de 2014. À época, ele era assessor de Marcos Monteiro no governo de São Paulo. As mensagens apresentam as mesmas datas, valores e senhas que aparecem na planilha da Odebrecht vinculadas ao codinome ‘M&M’.
Uma das entregas, no valor de 1 milhão de reais, foi programada para o dia 10 de julho, com a senha ‘formiga’. Naquele mesmo dia, às 11h35, Márcio Amaral, funcionário do doleiro Álvaro José Novis, liga para Eduardo Castro para avisar que os agentes da transportadora estavam com a encomenda na frente de sua casa, no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo.
Na sequência, às 12h17, o gerente da Transnacional em São Paulo confirma por Skype à matriz da transportadora no Rio que a primeira parcela de 500 mil reais já havia sido entregue e que a segunda estava a caminho.
Eduardo Castro e Marcos Monteiro foram indiciados nesta quinta-feira, 16, pela Polícia Federal junto com o ex-governador Geraldo Alckmin. O trio já teve os bens bloqueados pela Justiça paulista em uma ação de improbidade administrativa movida em 2018 pelo Ministério Público estadual.
O indiciamento da PF também alcança a repasse de caixa dois de 2 milhões de reais feito pela Odebrecht a Alckmin na eleição de 2010, por meio do cunhado do tucano, o empresário Adhemar Ribeiro, que não foi indiciado porque os crimes que teriam sido praticados por ele já prescreveram, segundo a PF. Agora, cabe ao promotor eleitoral, Fábio Bechara, decidir se denuncia ou não os tucanos à Justiça Eleitoral.
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