'Deixaram o resto do mundo à mercê da pandemia', diz gerente da Oxfam Brasil
A Oxfam é uma organização civil criada na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial para aliviar a fome e a pobreza na Europa. Nos anos 1990, a entidade se reorganizou em escala global e hoje inclui 20 organizações em 90 países. Com a pandemia de coronavírus, a Oxfam tem sido uma das entidades mais ativas...
A Oxfam é uma organização civil criada na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial para aliviar a fome e a pobreza na Europa. Nos anos 1990, a entidade se reorganizou em escala global e hoje inclui 20 organizações em 90 países. Com a pandemia de coronavírus, a Oxfam tem sido uma das entidades mais ativas em defesa de um plano de vacinação global mais equitativo, que contemple também os países pobres. "Países como o Canadá compraram vacinas para imunizar toda a sua população cinco vezes", diz Maitê Gauto (foto), gerente de programas da Oxfam Brasil, a Crusoé. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Quem deve ter responsabilidade política por uma distribuição equitativa de vacinas no mundo?
Essa responsabilidade política deve ser compartilhada por todos. Os países e seus governos têm a responsabilidade primária de garantir o direito à vida, à dignidade e ao bem-estar de suas populações. Então, devem empreender todos os esforços para proteger a população. Entretanto, em um mundo permeado por desigualdades, é fundamental que haja um entendimento global para que os países em desenvolvimento e os mais pobres também possam ter acesso às vacinas. Vale lembrar que, em 2020, as nações mais ricas compraram mais da metade de toda a promessa de produção de vacinas até o final de 2021. Países como o Canadá compraram vacinas para imunizar toda a sua população cinco vezes. Os países mais ricos também têm responsabilidade, já que poderiam ter apoiado desde o início o consórcio Covax, promovido pela Organização Mundial de Saúde para entregar vacinas aos mais pobres.
Falta uma liderança global?
Falta na verdade um maior senso de solidariedade por parte dos governos dos países mais ricos e das empresas farmacêuticas. A OMS lançou o consórcio Covax e fez um apelo global para que todos apoiassem a iniciativa, mas poucos aderiram. Esses países têm sido egoístas e estão usando seu poder político e econômico para resolver seus problemas internos, para retomar a atividade econômica o quanto antes. Deixaram o resto do mundo à mercê da pandemia.
Os Estados Unidos anunciaram na semana passada a doação de vacinas excedentes para países da América Latina, incluindo o Brasil. Isso pode ajudar?
É fundamental que os países que têm doses ou recursos disponíveis para apoiar os mais pobres façam isso o quanto antes. Os Estados Unidos mudaram de postura e agora defendem a suspensão temporária de patentes e o consórcio Covax. Eles anunciaram que pretendem doar a outros países cerca de 80 milhões de doses. Entretanto, essa quantidade é muito pequena para fazer a diferença no mundo. O que os Estados Unidos e outros países ricos deveriam fazer, principalmente os que produzem vacinas, é apoiar inequivocamente o consórcio Covax.
O que será necessário para declarar o fim da pandemia?
Isso só vai ocorrer quando houver a vacinação da população global. Ou, pelo menos, de grande parte dela. Países como Israel, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos já vacinaram mais de 50% de suas populações, mas a grande maioria dos países ainda não vacinou nem 10%. Há países na África e Ásia que só conseguirão vacinar a partir de 2022. Enquanto todos, em todos os lugares, não forem vacinados, a pandemia continuará sendo um grande problema global.
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Comentários (9)
GILBERTO COelho
2021-06-08 06:43:35A fome é a pior te todas as doenças, hoje, vemos que nos países socialistas ela foi resolvida.
Mauro Carlos
2021-06-07 17:38:19Trabalhei em conjunto com a Oxfam pelo extinto Ethnic Access Link e, posteriormente, em colaboração com o Citizen Advice Bureau of Worcester, UK. É bom que a senhora Maitê Couto tenha "despertado" para o caso canadense, mesmo que ao menos um ano atrasada. Tal entrevista é oportuníssima pela proximidade da fabricação local pelas instituições brasileiras. As críticas que antes não foram feitas parecem-me ser agora bem-vindas. Parabéns, Crusoé, sua oposição sistemática nunca foi tão subtil.
Wanderlei
2021-06-07 14:38:56Infelizmente a pandemia não trouxe a consciência da Solidariedade Global.
Celso
2021-06-07 10:40:04Gente fala serio, alguém pensou que seria diferente? lógico que os países ricos iriam vacinar seus primeiros o resto é o resto, isso é o mundo
KEDMA
2021-06-06 20:06:03Concordo com todas as respostas dela. Corretíssima.
José
2021-06-06 19:58:18É verdade!! Então tudo indica que vai durar muitos anos ainda!!
André
2021-06-06 19:51:01E porque não se fala no criador do vírus? Não seria Os porcos comunistas chineses que teriam que arcar com toda a responsabilidade sobre o holocausto provocado por eles?
Odete6
2021-06-06 15:12:28Eles vacinarão, PAULO.... não por razões humanitárias, mas porque precisam expandir o mercado de consumo, até que um dia se esgote a fórmula capitalista, que será substituída por algo que ainda não temos completamente delineado mas que já observamos a gênese. Haverá o atendimento das essencialidades globais e será a tecnologia o que nos trará esse status.
PAULO
2021-06-06 15:00:441- A pandemia escancarou um problema do capitalismo. Apesar do capitalismo proporcionar melhorias de vida, tanto p/ países ricos, qto p/ países pobres, isso ocorreu de forma assimétrica. Sendo q essa desigualdade também é constatada entre os ricos e pobres de uma nação. Se antes tínhamos crises humanitárias com os refugiados, q buscavam uma vida melhor em outras regiões, muitas vezes sem sucesso. Agora assistimos incrédulos, o mundo rico vacinar os seus, sem se preocupar com os pobres.