"Cristãos e drusos sentem que a Síria não é mais um lar", diz cientista político
Em entrevista para Crusoé, Igor Sabino aborda o novo conflito no sul da Síria e o temor das minorias

As promessas do novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, de manter o país livre e unido duraram pouco.
Um novo conflito sectário eclodiu na província de Sweida, no sul, envolvendo a comunidade drusa, tribos beduínas e forças ligadas ao novo governo.
Os drusos acusam os beduínos de promover ataques e de invadir seu território com auxílio dos jihadistas ligados ao ex-líder do grupo sunita Hay'at Tharir al-Sham (HTS) e atual presidente Sharaa.
Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, mais de 1.300 pessoas morreram. Entre eles, mais de 500 combatentes e 298 civis drusos.
Embora a queda da ditadura de Bashar Assad tenha trazido alívio para parte dos sírios, o temor entre as minorias étnicas e religiosas do país não deixou de existir.
Crusoé conversou com o cientista político Igor Sabino sobre o impacto do conflito nas comunidades drusas e cristãs, o futuro das minorias e o papel de Israel na proteção da minoria drusa.
A aproximação da Síria com Trump nutriu a esperança de dias mais tranquilos para o povo sírio. Como fica a situação agora, com a eclosão de um novo conflito local?
As minorias religiosas já estavam preocupadas com o futuro, por causa da existência desses grupos terroristas.
O presidente do país [Ahmed al-Sharaa] tem esse histórico.
Tenho medo de que a gente caminhe para uma situação de mais violência sectária, de guerra civil, parecida com o cenário que a gente viu no Iraque após a queda de Saddam Hussein, em 2003.
Como Israel tem atuado em relação aos drusos?
Israel é o único país que decidiu ajudar militarmente os drusos. Eles estão presentes na Síria, Líbano, Jordânia e em Israel.
Uma característica muito importante da filosofia de vida drusa é que eles são muito leais ao país onde estão. No entanto, ao mesmo tempo, eles têm um senso de solidariedade muito grande com os sírios em outros países.
Na prática, os drusos têm um papel muito grande na política de Israel. Eles servem ao Exército, mas têm essa solidariedade com os drusos do Oriente Médio.
Quando surgiram os primeiros relatos de violência em Sweida, na Síria, drusos de outros países cruzaram a fronteira para ajudá-los. Sabiam que os drusos sírios não tinham armas para se defender.
Isso forçou Israel a agir. Acredito que a ação israelense no sul da Síria se compara à ação americana, em 2014, no monte Sinjar, no Iraque, para evitar que o Estado Islâmico realizasse um genocídio ainda maior contra os yazidis e contra os cristãos.
Aqueles que não têm armas, não têm força. Eles estão sempre no risco de serem perseguidos e até mesmo exterminados.
Assad mantinha uma mínima prudência com os cristãos e drusos. Essas minorias desconfiam do novo governo?
Conversei com os sírios, e a percepção é de muito medo.
Antes, eles não podiam voltar à Síria por causa do Assad, porque muitos deles eram considerados como inimigos do regime. Alguns não queriam se alistar no Exército e lutar por Assad.
Agora, eles voltam ao país e se deparam com uma situação sectária. A maioria dos sírios que converso é de cristão e drusos. Eles sentem que a Síria é cada vez menos um lugar para eles.
Durante o regime Assad, já havia uma perseguição. Essa situação continua, agora por causa da religião.
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