Como uma mudança na dinâmica dos protestos afeta a polícia americana

Os protestos que se multiplicaram nos Estados Unidos depois da morte do negro George Floyd, em 25 de maio, assumiram uma dinâmica diferente, que dificultou o trabalho da polícia americana (foto).

Historicamente, os protestos tinham uma única causa e eram organizados por uma entidade ou um grupo. As manifestações atuais, porém, têm múltiplas causas e não há coesão entre os organizadores. “O clima político hoje é extremamente volátil. Em diversos atos, manifestantes entraram em confronto com outros manifestantes. Há discórdias até mesmo dentro de grupos com a mesma linha ideológica”, diz o americano Frank Straub, diretor do Centro de Estudos de Resposta à Violência, da ONG Fundação Nacional de Polícia, dos Estados Unidos.

O desafio, segundo Straub, é que a reação da opinião pública contra a polícia após a morte de George Floyd levou as autoridades a ordenar que os agentes permaneçam à distância, para não atrapalhar o desenrolar dos protestos. Policiais também foram orientados a não lançar gases lacrimogêneos e a não usar alguns equipamentos de proteção individual, como capacetes. “Quando ocorrem brigas dentro das manifestações, é muito difícil interferir. Os policiais ficam de mãos atadas”, diz Straub.

Um detalhe que piora a situação é que muitos americanos, tanto da esquerda quanto da direita, levam armas consigo. Segundo Straub, a prática ficou mais comum nos últimos meses. “Portar armas é um direito garantido pela Segunda Emenda à Constituição, mas é praticamente impossível distinguir se uma pessoa carrega uma arma para exercer seu direito ou se é para intimidar os outros”, diz Straub. A exposição a situações perigosas, segundo ele, tem levado centenas de oficiais a pedir demissão ou a se aposentar.