Como o atual conflito em Israel divide o Oriente Médio em dois
A briga entre o governo israelense e grupos palestinos, que já dura mais de uma semana, acontece em um cenário diferente das anteriores. Isso porque, nos últimos anos, Israel, com ajuda dos Estados Unidos, aproximou-se dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein, dois países árabes do Oriente Médio, com anuência da Arábia Saudita. Por causa...
A briga entre o governo israelense e grupos palestinos, que já dura mais de uma semana, acontece em um cenário diferente das anteriores. Isso porque, nos últimos anos, Israel, com ajuda dos Estados Unidos, aproximou-se dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein, dois países árabes do Oriente Médio, com anuência da Arábia Saudita.
Por causa disso, líderes de países árabes preferiram ficar quietos e não condenaram os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. "Até agora, a maioria dos governantes árabes não apoiou os palestinos e tampouco criticou Israel nas redes sociais", diz o cientista político israelense Ely Karmon, pesquisador do Instituto Internacional de Contraterrorismo em Herzlyia, Israel.
Nos Emirados Árabes, o clérigo muçulmano Wassem Yousef chegou até a postar mensagens nas redes sociais acusando o grupo terrorista Hamas pela violência e dizendo que os palestinos não merecem Jerusalém. "A maioria de vocês trabalha em Israel, e agora vocês estão pedindo aos árabes que boicotem Israel. Os judeus são mais éticos do que vocês", escreveu Yousef no Twitter.
Além disso, Egito e Jordânia — os dois países árabes que primeiro fizeram acordos de paz com Israel, em 1979 e 1994, respectivamente — são os que estão liderando as negociações para um cessar-fogo.
Mesmo após mais de 200 mortes nos enfrentamentos, a boa relação entre os países árabes e Israel parece não ter sido comprometida, o que tem irritado os palestinos. Especula-se até que um dos motivos de o grupo terrorista Hamas disparar mais de 3 mil foguetes contra Israel tenha sido o de sabotar esse estado das coisas. "Por ora, esse objetivo parece não ter sido atingido", diz Karmon.
Quem mais tem incitado a violência são dois países não árabes: a Turquia e o Irã, que é persa e de maioria xiita. "Esses dois países têm minado a segurança israelense de todas as maneiras possíveis, sendo que o Irã opera com muito mais intensidade", diz Hillel Frisch, que dá aulas sobre Oriente Médio na Universidade Bar-Ilan.
O Irã patrocina o grupo terrorista libanês Hezbollah, o palestino Jihad Islâmica e ajuda o Hamas financeiramente, logisticamente e com o treinamento de seus integrantes. Quase todos os foguetes lançados nos últimos dias tinham tecnologia iraniana. "O Irã usa o Hamas para prejudicar o Egito e também para atacar a Arábia Saudita, sua rival, que se considera a defensora do Islã", diz Frisch.
A Turquia provou sua capacidade de atiçar os ânimos dos árabes-israelenses nos últimos dias principalmente por meio da Ala Norte do Movimento Islâmico, grupo que foi declarado ilegal em Israel. A Ala Norte pertence à Irmandade Muçulmana, que nasceu no Egito em 1928 e foi acolhida pela Turquia recentemente, após ter sido banida no país árabe.
O interesse turco na briga entre Israel e grupos palestinos tem razões domésticas. Desde que assumiu o poder, em 2002, o partido de Erdogan, o AKP, tem avançado na islamização do país. "O apoio turco aos palestinos radicais está conectado a seu movimento interno de varrer do mapa os vestígios do secularismo, que foi estabelecido no país por Mustafa Kemal Ataturk", diz Frisch. Além disso, Erdogan tem a ambição de liderar o mundo muçulmano. "O Hamas sabe que tem total apoio da Turquia ao tomar para si as discussões relacionadas a Jerusalém."
Assim como o aiatolá iraniano Ali Khamenei, o turco Erdogan tem publicado diversas mensagens contra Israel nas redes sociais. "Nós exigimos que [os israelenses] acabem contra o ataque deplorável à Mesquita de Al Aqsa e aos muçulmanos", escreveu Erdogan no Twitter.
A narrativa de que Israel ameaça a Mesquita de Al Aqsa e quer proibir os muçulmanos de rezar nesse local, embora não seja sustentada em evidências, tem sido uma peça central nos discursos incendiários do Hamas, da Jihad Islâmica e da Ala Norte do Movimento Islâmico.
Com todos esses movimentos, o Oriente Médio parece ter sido dividido novamente ao meio. Se antes Israel lutava contra todos aqueles que não aceitavam a sua existência, o cenário agora mudou. De um lado, estão os governantes dos países árabes e Israel. Do outro, estão os turcos e os iranianos, com alguns amigos tenebrosos.
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Comentários (2)
Jaime
2021-05-19 12:28:13Países árabes se abstém de criticar ou elogiar. E o Brasil, que nem sequer foi consultado pelos norte americanos e soviéticos sobre a entrega de uma parte do território palestinos aos judeus, se apressa em apoiar Israel. Temos uma grande comunidade árabe no Brasil, e meio mundo de judeus, pq cargas d'água temos que tomar partido se nem mesmo somos convidados a fazê-lo? Do jeito que esses bajuladores de israelenses querem, logo o Hamas e outros grupos do mesmo jaez tornarão isso aqui o Inferno.
KEDMA
2021-05-19 09:18:26Cenário para uma grande guerra à frente.