"Cessar-fogo é do interesse mais da Ucrânia que da Rússia", diz analista
Segundo Ricardo Cabral, interrupção temporária serviria principalmente para o país atacado recompor suas defesas

O governo da Ucrânia concordou nesta terça, 11, com uma proposta feita pelos Estados Unidos, durante reunião na Arábia Saudita, de realizar um cessar-fogo com a Rússia por 30 dias.
Agora, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Mike Waltz, irá conversar com representantes russos para ver se o Kremlin aceita suspender as ações militares por um mês.
"Durante as negociações de hoje, o lado americano propôs dar um primeiro passo ainda maior — um cessar-fogo provisório total de 30 dias, não apenas interrompendo ataques de mísseis, drones e bombas, não apenas no Mar Negro, mas também ao longo de todo o front. A Ucrânia está pronta para aceitar esta proposta — vemos isso como um passo positivo e estamos prontos para aceitá-lo. Agora, cabe aos Estados Unidos convencer a Rússia a fazer o mesmo. Se a Rússia concordar, o cessar-fogo entrará em vigor imediatamente", escreveu Zelensky.
Incertezas
Mas há dúvidas sobre se a Rússia irá acatar a sugestão de interromper a guerra por 30 dias.
"O cessar-fogo é do interesse da Ucrânia, muito mais que da Rússia", diz o analista militar Ricardo Cabral, do site História Militar em Debate.
Mesmo que os ucranianos voltem a contar com ajuda militar americana e com o compartilhamento de informações de inteligência, como foi anunciado, a intensidade dos ataques russos continuará sendo um problema para a Ucrânia.
"Os russos estão disparando mais de duzentos drones e mísseis por dia. A tendência é que isso aumente, podendo chegar a 500 drones e mísseis por dia. Isso poderia levar a defesa aérea ucraniana à exaustão. Sendo assim, um cessar-fogo seria muito mais benéfico para a Ucrânia do que para a Rússia", diz Cabral.
Para os russos, segundo Cabral, um cessar-fogo temporário só permitiria que a Ucrânia restabelecesse suas defesas.
A província russa de Kursk, que foi invadida pela Ucrânia em agosto de 2024, poderá ser reconquistada nos próximos dias, quando se espera uma contraofensiva russa em Sudzha.
Medo dos desmobilizados
Há ainda outro motivo para Putin não desmobilizar o seu Exército.
Segundo o Instituto de Estudo para a Guerra, ISW, Putin teme que os soldados veteranos retornem para a Rússia e causem instabilidade política.
"O Kremlin busca silenciar vozes capazes de objetar significativamente à continuação da agressão da Rússia na Ucrânia ou questionar decisões do governo russo. Putin provavelmente está tentando evitar um análogo moderno à sociedade civil baseada em veteranos nascida da retirada soviética do Afeganistão", escreveu o ISW em um relatório publicado no final de fevereiro.
O fracasso soviético no Afeganistão foi um dos principais motivos que levaram à queda da União Soviética, evento que já foi considerado como a "a maior catástrofe geopolítica do século 20" por Putin.
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