Brasil: entre Elon Musk e Steve Bannon
No meio da briga entre os dois, o melhor que pode acontecer ao país é ter sido esquecido por ambos
As relações entre Brasil e Estados Unidos durante o segundo mandato de Donald Trump serão determinadas por questões pessoais.
Tudo vai depender de qual será a influência que terão o bilionário Elon Musk e o incendiário Steve Bannon no Salão Oval da Casa Branca.
Há atualmente uma disputa entre os dois para ver quem terá mais capacidade de aconselhar Trump.
Trump, um narcisista, parece gostar dessa briga entre os seus aduladores.
E o Brasil ficará refém disso.
Esqueçam qualquer intervenção de Lula ou do Itamaraty.
O presidente petista perdeu qualquer autoridade depois de apoiar a candidata derrotada Kamala Harris.
Lula ainda é visto como o responsável pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro, um aliado do trumpismo.
Protecionismo
Nos primeiros dias do governo de Trump, em janeiro de 2017, Bannon percorria os corredores da Casa Branca com envelopes debaixo do braço contendo decretos diversos.
Daquela vez, alguns de seus projetos foram transformados em políticas públicas, como a proibição de entrada de habitantes de sete países muçulmanos.
Após perder o posto, em 2017, Steve Bannon concentrou seus esforços em criar um movimento mundial da direita, o The Movement, que fez água na Europa.
Mas Bannon manteve o seu apelo entre os eleitores de Trump, principalmente por meio de seu podcast War Room.
Com isso, ele voltou a exercer influência sobre Trump e quer convencer o republicano a tomar medidas para aumentar as tarifas de importação e impedir que estrangeiros trabalhem nos Estados Unidos.
Uma das ideias de Bannon é criar uma "Receita Federal externa", para coletar essas tarifas.
Trata-se de um protecionismo travestido de "soberania", que pode mudar a relação com vários países, entre eles o Brasil.
Briga com Musk
O populismo nacionalista de Bannon já entrou em confronto com Musk, que valoriza os especialistas estrangeiros que atuam nas companhias de tecnologia.
Musk é contra cancelar os vistos H-1B, que permitem aos estrangeiros qualificados ficarem nos EUA.
Na semana passada, Bannon partiu para o ataque em uma entrevista para o Corriere dela Sera.
"Farei Elon Musk ser expulso até o dia da posse. Ele não terá passe livre à Casa Branca", disse Bannon. "Ele é uma pessoa de fato má. Barrá-lo se tornou algo pessoal para mim. Antes, como ele colocou tanto dinheiro, estava disposto a tolerá-lo, mas não mais."
Futuro presidente do Brasil
Bannon tem boas relações com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que integra o seu The Movement.
Em um evento no domingo, 19, Bannon apresentou Eduardo como futuro presidente do Brasil.
“Essa é uma das pessoas mais importantes no nosso movimento pela soberania ao redor do mundo. E acho que um dia, e num futuro não tão distante, [será] o presidente do Brasil”, disse Bannon.
Abusos do STF
Após os enfrentamentos com Steve Bannon, o bilionário Elon Musk passou a calibrar melhor suas declarações públicas.
Há dúvidas sobre por quanto tempo ele conseguirá manter sua influência, caso Trump opte por uma guinada populista com Bannon.
Mesmo assim, Musk deverá ter um importante papel à Frente do Departamento de Eficiência Governamental, Doge.
Sua experiência com o Brasil é péssima.
No ano passado, o ministro do STF Alexandre de Moraes suspendeu a rede X no Brasil.
Para pressionar a empresa a acatar suas decisões, Moraes confiscou bens da Starlink, uma companhia com diferentes acionistas.
Musk aceitou pagar a multa para resolver a pendenga, mas não há qualquer razão para que ele tenha o Brasil em alta conta.
F* you, Elon Musk
Nas relações pessoais que serão determinantes a partir desta segunda, 20, o Brasil começa em desvantagem.
O país conseguiu estar mal posicionado com dois dos personagens mais influentes no círculo de Trump.
E não pegou nada bem o xingamento "F* you Elon Musk", da primeira-dama Janja, no evento que abriu a reunião do G20 no Rio de Janeiro no final do ano passado (o Janjapalooza).
Espera-se que Trump emita mais de 100 decretos assim que tomar posse nesta segunda.
Só nos resta torcer para que o Brasil tenha sido esquecido na confecção deles.
Leia em Crusoé: A reunião da comitiva brasileira com Steve Bannon
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