Bastidores: as articulações do ministro Fernando Azevedo após as declarações de Gilmar
Após o ministro Gilmar Mendes (foto), do Supremo Tribunal Federal, afirmar que o Exército "está se associando" a um "genocídio", em referência à atuação de militares no Ministério da Saúde durante a pandemia, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, passou o fim de semana entre telefonemas com os comandantes das Forças Armadas e...
Após o ministro Gilmar Mendes (foto), do Supremo Tribunal Federal, afirmar que o Exército "está se associando" a um "genocídio", em referência à atuação de militares no Ministério da Saúde durante a pandemia, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, passou o fim de semana entre telefonemas com os comandantes das Forças Armadas e a área jurídica da pasta discutindo uma reação apropriada.
A indignação deu-se por dois motivos. Na avaliação deles, a fala foi injusta, uma vez que milhares de militares atuam na linha de frente do combate ao novo coronavírus diariamente. Dessa forma, criticar o Exército como um todo por um caso "pontual" na Saúde seria desproporcional.
Além disso, Azevedo e Silva e os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ressaltaram que genocídio é um crime bárbaro e, por isso, viram o comentário como extremamente desrespeitoso. A declaração causou surpresa, pois Gilmar tem boa interlocução com militares e foi recebido há menos de um mês pelo comandante do Exército, general Edson Pujol.
Pela gravidade da fala, chegou-se a cogitar a divulgação de uma nota oficial ainda no domingo, 12. Contudo,o ministro e os comandantes decidiram aguardar até o fim do dia à espera de uma retratação de Gilmar Mendes, como apurou Crusoé.
O pedido de desculpas não aconteceu. Ao contrário: o ministro do STF, ainda que de forma mais polida, reforçou a crítica nas redes sociais. "A política pública de saúde deve ser pensada e planejada por especialistas, dentro dos marcos constitucionais. Que isso seja revisto, para o bem das FAs e da saúde do Brasil", escreveu no Twitter.
https://twitter.com/gilmarmendes/status/1282394992204488704?s=20
A Defesa e as Forças Armadas, então, decidiram reagir. Em nota oficial, publicada nesta segunda-feira, 13, afirmaram que a declaração contém uma "acusação grave, além de infundada, irresponsável e sobretudo leviana" e informaram que acionarão a Procuradoria-Geral da República para que adote "as medidas cabíveis" — a representação, contudo, ainda não está pronta.
Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, replicou a nota de Azevedo e Silva, subscrita pela Marinha, pela Aeronáutica e pelo Exército, em sua conta oficial no Twitter, e classificou a fala de Gilmar como "injusta".
https://twitter.com/gen_heleno/status/1282750838306484224?s=20
Apesar da "bandeira de paz" levantada por Jair Bolsonaro nos últimos dias, entendeu-se que o ministro e os comandantes "não poderiam se calar diante de uma acusação tão grave".
Mesmo com o mal-estar, a resposta, dizem fontes ligadas à Defesa e ao STF, não deve voltar a esquentar o clima entre o Executivo e o tribunal. Isso porque, apesar do tom duro, o texto foi respeitoso e limitou-se a um episódio isolado. Além disso, não está diretamente ligado ao presidente da República.
Crusoé pediu um posicionamento do ministro do STF sobre a resposta do Ministério da Defesa e das Forças Armadas, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.
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