Alexandre Pedro/Reprodução via XDirigentes do Partido Republicanos abrem a porta na sede do partido com chaves reservas, após presidente afastado trancá-las

Traições, alianças e um par de chaves reservas: a política da França em parafuso

13.06.24 13:35

Nesta quarta-feira, 12, contamos como o partido Republicanos, que historicamente comandou a direita da França e liderou o país com Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, expulsou seu próprio presidente, Éric Ciotti, após este sugerir que o partido se alie ao Reagrupamento Nacional, de direita radical e comandado por Marine Le Pen, nas próximas eleições parlamentares. Ciotti não apenas não deixou o cargo — ele trancou os opositores do partido para fora, em Paris. Apenas quando alguém apareceu com um molho de chaves reserva é que o partido pode expulsá-lo.

Esta não foi a única cena inusitada nos últimos dias da política francesa.

O anúncio de Emmanuel Macron de dissolver o parlamento e abrir um nova eleição em dois turnos, sendo o primeiro já no dia 30 deste mês, pegou a classe política francesa inteira de calças curtas — os partidos têm até este fim de semana para indicar os candidatos de uma eleição que era esperada apenas em 2027. Dos socialistas aos populistas de direita, partidos ainda batem cabeça para se alinhar.

A esquerda uniu-se em um bloco — mesmo apesar de o líder do Partido Socialista, Rafael Glucksmann, aparecer em rede nacional com cinco condições para que a “frente ampla” fosse instituída. Todos os outros partidos, no entanto, ignoraram  Glucksmann e a frente foi montada, com o próprio Partido Socialista dentro.

O caso do Republicanos ainda parece em aberto, já que não se sabe se Ciotti de fato deixou ou não a presidência do partido. Os senadores franceses filiados ao partido decidiram não segui-lo. Ele, no entanto, seguia até hoje com o acesso ao perfil do partido no X (antigo Twitter), o que fazia que a página tivesse ora mensagens em seu apoio, ora mensagens anunciando sua saída.

Éric Zemmour reaparece

Considerado o candidato mais populista e radical nas eleições de 2022, o direitista Éric Zemmour reapareceu nesta semana durante uma coletiva de imprensa do seu partido, o Reconquête (Reconquista). Sem entender uma palavra de francês, é possível entender que após alguns segundos ele não queria estar ali.

Ao acompanhar uma deputada sua, Marion Marechal, em um pronunciamento, Zemmour —que teve 7% nas eleições presidenciais—parece se surpreender quando anuncia seu apoio ao Reagrupamento Nacional. Quando o nome de Le Pen é citado, Zemmour (à esquerda no vídeo) claramente se assusta.

Na saída do evento, Marion Marechal indica que há um acordo com Marine Le Pen (sua tia) e dá a entender que o objetivo é mesmo afastar Éric Zemmour do comando do seu partido. Zémmour apareceu depois —já sem ninguém do lado — disse que ela foi eleita por eleitores dele e chamou a postura da sua deputada um “recorde mundial de traições”.

A líder das pesquisas, Marine Le Pen

O Reagrupamento Nacional, legenda comandada por Marine Le Pen, lidera as pesquisas de intenção de voto e vive um bom momento, já que aumentou sua bancada para o parlamento da União Europeia no último final de semana.

Nesta semana, durante o caos político-eleitoral francês, ela recebeu um apoio incomum: um dos intelectuais judeus mais influentes na sociedade francesa, o filósofo Alain Finkielkraut disse que “nunca imaginou que votaria a favor do partido para parar o antissemitismo”. Apesar disso, Finkielkraut chamou a situação de um “desgosto” para os judeus.

A fala do intelectual veio como resposta ao fato de que o principal partido de esquerda, La France Insoumise (A França Insubmissa), ter apoiado atos pró-Palestina que acabaram em manifestações de anti-semitismo na França. O Reagrupamento Nacional, no entanto, foi fundado por Jean-Marie Le Pen, o pai de Marine e um condenado em 2012 a três meses de prisão por ter dito que as câmaras de gás eram um “detalhe” na História.

Leia mais em Crusoé: O pastoso protesto que os franceses planejam contra as Olimpíadas

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