A esperança vã de Braga Netto: "Se nós continuarmos"
Assessor de Bolsonaro tentou arrumar emprego para uma amiga, às vésperas da posse de Lula. Resposta do general foi reveladora
Um dos trechos intrigantes do relatório da Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe é o que mostra um diálogo entre o general Walter Braga Netto (foto) e Sérgio Cordeiro, no dia 27 de dezembro de 2022.
Cordeiro era assessor do então presidente da República Jair Bolsonaro e teve o celular apreendido pela PF.
A conversa, na página 733 do relatório, mostra que Braga Netto tinha esperanças de continuar no poder, mesmo com a posse do presidente eleito Lula agendada para 1º de janeiro de 2023.
Ajuda para uma amiga
Faltando quatro dias para o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro, Cordeiro enviou a Braga Netto o currículo de Cleidiane Martins, acompanhado da seguinte mensagem:
"Onde eu posso enviar esse currículo de uma amiga aqui em Brasília?"
Braga Netto tinha sido ministro da Casa Civil e da Defesa de Jair Bolsonaro.
Em 2022, ele foi vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, mas ambos tinham sido derrotados nas urnas.
A chapa de Lula e Geraldo Alckmin já tinha sido até mesmo diplomada.
"Se continuarmos"
A resposta de Braga Netto, contudo, foi:
“Cordeiro, se continuarmos poderia enviar para a Sec Geral. Fora isso vai ser foda”, disse Braga Netto.
Segundo a Polícia Federal, o uso da expressão "se continuarmos" indicava que "os investigados ainda estavam empreendendo esforços para tentar um golpe de Estado e acreditavam na consumação do ato".
O então presidente Bolsonaro viajou para Orlando, nos Estados Unidos, apenas três dias depois dessa conversa entre Braga Netto e Cordeiro.
Figura central
O general Braga Netto é citado 98 vezes no relatório da Polícia Federal.
Na página 250 do documento, ele é considerado uma "figura central nos atos que tinham o objetivo de subverter o regime democrático no Brasil".
Reuniões importantes aconteceram em sua casa, em Brasília.
Em uma delas, no dia 12 de novembro, militares teriam apresentado um plano para impedir a posse do governo eleito.
No encontro, participaram o tenente-coronel Mauro Cid, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima.
Pós-golpe
Diz o relatório, na página 875:
"Em outra frente, os elementos de prova obtidos demonstram que o grupo investigado já atuava prevendo o cenário posterior à
consumação do golpe de Estado, vislumbrando um ambiente de crise decorrente da abolição do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, planejaram a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República, que seria composto em sua maioria por militares e alguns civis, liderados pelo general Augusto Heleno, bem como pelo general Braga Netto. A atribuição do Gabinete seria assessorar o então presidente da República Jair Bolsonaro na implementação das ações previstas no decreto golpista, criando uma rede de inteligência e contrainteligência para monitorar o cenário pós golpe e ainda atuar o campo informacional para obter o apoio da opinião pública interna e internacional", diz o texto.
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