A confissão de fake news de Mauro Cid
Ao comentar história de hackers sobre as urnas eletrônicas, tenente-coronel afirmou: "Nosso pessoal que fez... Haaahahaaahha"
Um dos argumentos da Polícia Federal no relatório de um suposto golpe de Estado é o de que, ainda em 2019, formou-se uma organização criminosa, cujo primeiro passo foi divulgar informações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Na página 11, o tenente-coronel Mauro Cid (foto), ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, admite que estava produzindo conteúdo falso sobre a lisura do sistema eleitoral.
Em uma das conversas, de 7 de novembro de 2022, o tenente-coronel do Exército Marcos Paulo Cavaliere diz animado para Mauro Cid que hackers tinham encontrado motivos para questionar as urnas eletrônicas.
"Os dois hackers do interior de São Paulo descobriram e colocaram na internet antes do segundo turno. Na conclusão, eles consideram que a fraude se embasa, principalmente, sobre procedimentos (...). Por exemplo: Nordeste teve mais de 2 milhões de votos após as 6 horas da tarde. Muito boa a análise desses caras! Fizeram uma abordagem muito diferente do argentino e que complementa a auditoria. A metodologia de fraude que eles comentam, de certa forma, explica por que no primeiro turno os votos do Nordeste demoraram para serem computados!", afirmou Cavaliere.
Haaahahaaahha
Em resposta a Cavaliere, Mauro Cid afirmou: "Nosso pessoal que fez... Haaahahaaahha".
A história sobre os dois hackers do interior, portanto, não teria passado de uma criação da equipe de Mauro Cid.
Cavaliere então mandou um emoji com uma piscadinha.
"Isso foi a base do argelino", afirmou Cid, em provável referência ao argentino Fernando Cerimedo.
Em 4 de novembro, Cerimedo divulgou uma live falando de uma "investigação" sobre as eleições brasileiras, argumentando que as urnas fabricadas antes de 2020 "geraram uma anomalia a favor do candidato de número 13".
Em 2023, Cerimedo ainda se tornaria estrategista digital de Javier Milei, atual presidente da Argentina.
Visita da Abin
Dias antes, Cavaliere encaminhou áudios que teriam sido produzidos pelos tais hackers do interior de São Paulo.
Eles afirmavam que tinham recebido uma visita de membros da Agência Brasileira de Inteligência, Abin.
Os agentes queriam saber como eles tinham identificado as "possíveis fraudes".
"Esses caras da Abin vieram aqui ficaram dois ou três dias... Aí não é desmerecendo, cara, mas a gente entr... chegou nuam conclusão que caras estudaram pra enrar num concurso.. passaram no concurso, mas tecnicamente são fracos demais", diz o áudio enviado por Cavaliere.
Mas, como se sabe agora, tudo foi feito pelo pessoal de Mauro Cid.
Nada de fraude
Diálogos dos dias anteriores mostram que os envolvidos torceram para que algum indício de fraude aparecesse, mas não conseguiram identificar algo de anormal no processo eleitoral.
No dia 4 de outubro de 2022, após o primeiro turno das eleições, Cavaliere perguntou para Mauro Cid se o seu colega tinha encontrado alguma fraude: "Conseguiram plotar?".
"Nada... Nenhum indício de fraude", respondeu Mauro Cid.
Em 1º de novembro, Mauro Cid conversou com o coronel Bernardo Romão Correa Neto sobre o mesmo assunto.
"Alguma evolução que nos deixe otimista?", perguntou Correa Neto.
"Até agora... nada. Nenhuma bala de prata... Por mais tudo pareça", respondeu Mauro Cid.
Nem os hackers acharam
Em vários outros diálogos contidos no relatório da PF, Mauro Cid lamenta que seus conhecidos e supostos "especialistas" não encontraram indício de fraude.
"Não teve nada, não teve nada! Nada que pudesse dizer: Olha, teve um movimento... né... é... diferente aqui nesse sistema aqui", disse Mauro Cid.
“A gente tá recebendo cara de TI, hacker. Ninguém ainda chegou com uma coisa que fale, que, que consiga abrir uma investigação. A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar monitorando e passando pra gente as informações. Refutando ou ajudando a, a, a instigar, né, digamos assim", afirmou em outra troca de mensagens.
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