Ricardo Stuckert / PRO presidente está migrando das mensagens institucionais para declarações pessoais improvisadas

Lula, o invertebrado

Mesmo que o objetivo das declarações de improviso seja conquistar um eleitor rebelde, cada intervenção do presidente é um terremoto
28.06.24

Pera aí, deixa ver se eu entendi… agora temos Bolsonaro nos costumes e Dilma na economia?

O post jocoso que alguns publicam nas redes sociais fazem referência ao novo Lula conservador que emergiu nas últimas semanas. Não é novidade que o presidente corre atrás do eleitor antipetista, especialmente o evangélico, com campanhas de comunicação específica que reforçam as palavras “”, “milagre” e “Deus”.

Há uma intensificação recente de Lula migrando das mensagens institucionais para declarações pessoais improvisadas. Nos últimos dias, o presidente mandou uma beneficiária do Bolsa Família parar de ter filhos, disse que TV e teatro são para fazer arte e não ensinar “putaria”, criticou o STF após a decisão da descriminalização do porte da maconha e disse que não nomeava mais ministros negros ou mulheres porque são mais difíceis de encontrar com a competência necessária.

O cálculo por detrás da estratégia é típico de quem opera o modelo de distribuição espacial dos votos, clássico entre marqueteiros. Se Lula já tem o eleitor de esquerda — não deve surgir outro concorrente nesse campo até 2026 —, tem liberdade para avançar sobre o centro e até a centro/direita. Há um custo especialmente junto à esquerda identitária. Mas, novamente, Lula sabe que, mesmo insatisfeitos, eles não terão outra opção a não ser repetir “o L”.

É uma aposta válida e com alguma margem de segurança para ser feita, já que não existe risco de perder eleitores da esquerda. O problema de escolhas dessa natureza é a modulagem do tom: se passar do ponto, pode se tornar caricato.

Outro risco é contrariar a chamada “primeira Lei de Temer”, que faz referência ao ex-presidente Michel Temer, e que diz que um presidente não fala, se pronuncia. A mensagem é que a banalização da fala presidencial acaba desvalorizando-a, tornando-a cada vez mais sem efeito, com prejuízo para a autoridade do mandatário. A lei de Temer tem relação com a questão da escassez, segundo a qual quanto mais raro de se encontrar é uma coisa, mais valiosa ela é.

Há quem discorde. Especialmente após Jair Bolsonaro, que se cansou de pautar a mídia, levando o debate para onde quisesse. O problema de Lula, nesse sentido, seria outro, o excesso de improviso. Bolsonaro fazia sua interpretação ao vivo, mas os temas e algumas expressões já haviam sido ensaiadas. Já as gafes do atual presidente não parecem tão combinadas e suas falas muitas vezes são editadas por apoiadores para eliminar trechos constrangedores no momento de divulgá-las nas redes socais.

Outra desvantagem de Lula em relação a Bolsonaro é que o ex-ocupante dava pouca importância ao que ele próprio falava. Rapidamente, o Congresso Nacional e a imprensa também perceberam que, apesar do alvoroço diário, o governo era tocado apartado disso, especialmente a partir do Legislativo e com apoio do gabinete de ministros. Dessa forma, a atuação de Bolsonaro podia ser classificada como seu stand-up particular.

Lula, por outro lado, se leva a sério, a imprensa o leva a sério e seus ministros também o levam a sério. Logo, mesmo que o objetivo seja um inocente movimento para perseguir um eleitor rebelde, cada intervenção do presidente é um terremoto. O resultado é uma crise de confiança, com reflexos na economia e na governabilidade.

A combinação de Bolsonaro e Dilma foi o que o país rejeitou em 2016 (via impeachment) e em 2022, via eleição do petista. O comportamento de biruta de aeroporto adotado pelo presidente Lula é, portanto, muito difícil de se explicar. A não ser quando se lembra que a Lula, molusco marinho da classe dos cefalópodes e do qual o presidente trouxe o apelido, pertence ao reino dos bichos invertebrados.

 

Leonardo Barreto é cientista político e sócio da I3P Risco Político

 

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  1. Sejamos precisos LULA é a personificação da ignorância dos Manés que o idolatram ... a comparação com o pior do Bolzo e da Anta é perfeita, é o nosso Bolanta ... no censor.

  2. Agora ele tem mais um problema : a idade avançada. Fica gritando em seus discursos para dar a impressão de vitalidade, luta etc. Deus nos proteja.

  3. O Lula busca construir suas narrativas pra agradar a plateia do momento, geralmente de militantes, e não consegue esconder o padrão tosco. Ademais, foi o gestor do Petrolão entre outros

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